Alemanha: AfD aprofunda radicalização com apelos a deportação em massa
Alice Weidel usa pela primeira vez termo controverso, enquanto é adoptado slogan que faz lembrar palavras de ordem nazis. “A máscara caiu.”
O partido Alternativa para a Alemanha continuou o seu caminho de radicalização no congresso deste fim-de-semana com mudanças no discurso da sua líder, Alice Weidel, que usou pela primeira vez o termo remigração e permitiu a adopção de um slogan controverso.
Ao defender o encerramento total das fronteiras da Alemanha e deportações em massa de pessoas estrangeiras, Weidel declarou: “se é chamado remigração, então chamemos-lhe remigração”, com os apoiantes a gritar, “Alice für Deutschland” (Alice pela Alemanha), o que soa muito semelhante a “Alles für Deutschland” (tudo pela Alemanha), relatava a jornalista Anika Leister, do site T-online. São as palavras consideradas por especialistas em História como palavras de ordem nazis por serem ditas pelas SA (a primeira força paramilitar nazi), e cuja repetição por Björn Höcke, o líder do partido na Turíngia, levou a que fosse, no ano passado, condenado em tribunal.
Este novo slogan “Alice für Deutschland”, impresso em corações azuis da AfD, e as palavras sobre a “remigração”, marcam uma nova via escolhida por Weidel, que o partido designou candidata a chanceler embora tenha zero hipóteses neste momento de o ser – a AfD nem sequer é considerada para parceira de coligação por nenhum outro partido, mesmo sendo o segundo em termos de intenções de voto nas sondagens (entre 19% e 22%). Ainda no sábado o líder dos conservadores, Friedrich Merz, o repetiu (a CDU/CSU tem de 29% a 32% das intenções de voto, a seguir estão os sociais-democratas do SPD com 15-17% e os Verdes com 12-15%, todos estes valores são de sondagens de Janeiro).
“A máscara caiu”, considerou a jornalista Anika Leister ao descrever esta mudança de curso de Weidel, já que ela tinha evitado até agora quer o slogan quer a utilização da palavra remigração, que foi redefinida pelo movimento Identitário e se refere a deportações colectivas “e uma palavra de código para fantasias racistas”.
Também o especialista em extremismo Peter R. Neumann sublinhou na rede social X (antigo Twitter) a ambiguidade da expressão remigração, já que em público “trata-se ‘apenas’ de ‘deportações’, mas sinaliza aos seus apoiantes [da AfD] que todos os ‘estrangeiros’ devem ir embora”.
A Alternativa para a Alemanha foi fundada em 2013 como um partido contra os empréstimos aos países do euro em dificuldades, para se concentrar na anti-imigração durante a chamada crise dos refugiados em 2015/16, quando a Alemanha acolheu mais de 800 mil refugiados, a maioria da Síria.
Embora esteja cada vez mais radical, não há consenso sobre como classificar a AfD: antes do congresso, o professor de Ciência Política e especialista em direita radical populista Kai Arzheimer dizia, por e-mail, ao PÚBLICO que “o partido como um todo não é (ainda) de extrema-direita, embora a AfD seja certamente um exemplo bastante atípico de direita radical populista, por causa das suas muitas ligações e tolerância para com actores e ideias de extrema-direita, tanto dentro como fora do partido”.
Há ainda a classificação de extrema-direita da Alternativa Jovem, e do partido em três dos 16 estados federados da Alemanha, ainda segundo a secreta interna, que considera o partido como um todo “suspeito” de ser anti-democrático e assim de extrema-direita.
Em relação à Alternativa Jovem, foi decidido no congresso – depois de uma discussão intensa – que será criada uma nova juventude partidária em que os elementos terão de ser membros também da AfD. A mudança foi vista como sendo motivada pela necessidade de controlo da organização jovem e também de a proteger de eventuais acções de proibição, já que os partidos são mais protegidos.