Palcos da semana: da arte de Kim Gordon à denúncia dos Mão Morta
Os próximos dias trazem também um novo Liedfest, o cinema social da Monstrare e um Aleixo Amigo.
Viva la Muerte! à mão
É exclamação para libertar à passagem dos Mão Morta, que têm novo disco a sair a 17 de Janeiro e uma digressão pronta para se fazer à estrada logo no dia seguinte, a começar pela sua Braga natal. Não há tempo a perder, que as canções de Viva la Muerte! já deviam ter ecoado ao vivo em 2024, ano em que tanto se comemorou o 25 de Abril e as vozes da revolução que inspiraram o álbum.
Adolfo Luxúria Canibal – recuperado da cirurgia que provocou o adiamento – e comparsas seguem então caminho na ressaca desse cinquentenário e de outra efeméride, mais pessoal: os 40 anos de banda. Não estão desligadas. Sem a primeira não teríamos a veia livre e criativa da segunda.
Daí que este seja um gesto de defesa da democracia. Podemos contar com os Mão Morta para “a denúncia do ar dos tempos, em que a ameaça do regresso do fascismo e da sua pulsão de morte traz o retorno do ódio e da intolerância”, anunciam. Em palco e nas conversas que adicionam aos concertos.
Projecções de Kim, a artista
Kim Gordon, matéria de lenda do rock mais disruptivo, ainda há um par de meses veio mostrar o mui bem cotado álbum a solo The Collective (quarto melhor de 2024 para o Ípsilon). Agora, a vitalidade da já septuagenária ex-Sonic Youth manifesta-se noutra qualidade: a da artista que expõe Object of Projection.
Fotografias e instalações performáticas em vídeo fazem parte deste conjunto atravessado pela estética punk e interessado em temas como “a arquitectura, o palco, o corpo, o gesto e a desconstrução da sacralidade hierárquica do objecto”, revela a folha de sala.
A transição é para Monstrare
A depressão pós-parto em Noites Claras de Paulo Filipe Monteiro, em antestreia. O potencial da Energia Nuclear Já! no combate às alterações climáticas, pela lente de Oliver Stone. E o multipremiado Flow de Gints Zilbalodis, uma animação que, com animais e sem palavras, lembra a lição muito humana de que só a união fará a força perante um cataclismo.
São alguns dos filmes a não perder na 11.ª Monstrare - Mostra Internacional de Cinema Social, que presta “especial atenção ao momento de transição que o mundo actualmente vive”. Flow é um dos programados pelo MotelX, festival convidado desta edição. Workshops, conversas, uma performance e os prémios Cinetendinha também entram nos planos.
Foi você que pediu um Liedfest?
“A vida é feita de canções. Lied significa canção em alemão. A canção erudita estabeleceu-se no romantismo alemão.” Logo, Liedfest. É com esta designação que se estreia na agenda lisboeta mais um festival com o dedo e voz da soprano Catarina Molder e produção da Ópera do Castelo.
Entre recitais temáticos, encenados e coreografados, com pautas que vão de Schubert a Fauré, passando por Freitas Branco ou Clã, é festival para entreter Conversas com a Morte, homenagear Camões, enumerar Cinco Formas de Morrer de Amor, abordar os Amores e Vidas de Uma Mulher e oferecer Brincadeiras Líricas aos mais pequenos, entre outros espectáculos.
Sou teu Aleixo Amigo, sim
É um cão? Um ewok? Um ursinho de peluche com sotaque? Uma espécie autóctone de Coimbra (ao ponto de só sair de lá se for mesmo preciso)? O certo é que este espectáculo não é para burros. Só para quem consegue acompanhar os raciocínios, as resmunguices e, vá, os rasgos geniais de Bruno Aleixo e do seu espírito respeitador do lema “a mim que me importa”.
Já o encontrámos em vídeos, filmes, rubricas de rádio e até meias, vinhos e bonés. Agora, reencontramo-lo neste “show muito seu amigo” em que promete dar solução ao vivo aos problemas dos espectadores, com Busto e Renato Alexandre a ajudar. Ou tentar. João Moreira e Pedro Santo, seus criadores, vão também.