Polícia Judiciária registou 112 homicídios em 2024 o mais elevado da década

Não estão ainda apurados todos os dados globais, mas, cruzando informações das três principais polícias, a criminalidade geral terá estagnado e a violenta poderá ter um aumento de 1% e 2%.

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Na esmagadora maioria dos homicídios há uma relação entre a vítima e o autor Daniel Rocha/Arquivo
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A Polícia Judiciária (PJ) registou 112 homicídios dolosos em 2024, o número mais elevado da década, segundo dados oficiais deste órgão criminal divulgados esta sexta-feira pelo Diário de Notícias. A média de homicídios na década de 2014 a 2023 foi de 93,4. No entanto, na anterior, de 2004 e 2013, esse valor tinha sido muito superior, rondando os 150 homicídios por ano. Ainda assim, "muito longe ainda dos tenebrosos anos anteriores, com uma média na década de 346,5 homicídios por ano", escreve o jornal.

Em 2024, segundo a PJ, só em 7,4% dos casos de homicídio cujos inquéritos já foram concluídos não havia relação entre a vítima e o autor (em 2022 tinham sido 13% e em 2022, 17%). As autoridades estão, por isso, atentas às variações dos homicídios cometidos por desconhecidos e a motivação pode ser a de um roubo, conflitos entre gangues, ou outros violentos, além dos contextos de violência doméstica ou entre vizinhos.

Salvaguardando que 58% dos inquéritos ainda não estão concluídos, a PJ indica que 13,1% dos homicídios em 2024 ocorreram no âmbito conjugal, 7,4% entre parentes e 16% entre vizinhos. Estes dados vão constar do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) de 2024.

No total das 112 mortes registadas em 2024, 25% foram causadas com recurso a armas de fogo (em 2023 foram 20,9% e em 2022 tinham sido 21,8%). Segundo a PJ, 33,3% das mortes resultaram do uso de armas brancas (em 2023 foram 35,5% e em 2022 foram 34,7%).

De acordo com o jornal, as "tendências globais não são ainda conhecidas, mas cruzando informações de fontes das três principais polícias que estão a validar estes dados, é possível avançar que a criminalidade geral terá estagnado e a violenta poderá ter um aumento de 1% e 2%".

Especialistas ouvidos pelo Diário de Notícias alertam ainda para os riscos associados à “espetacularização” destes actos pela comunicação social. "Em países com taxas de homicídio muito baixas, como em Portugal e de um modo geral na UE, o sentimento de insegurança aparece mais associado à criminalidade de rua, furtos e roubos, e formas de incivilidades mais ou menos graves, ou de desacatos sociais do que propriamente ao homicídio. Embora seja de referir que a divulgação repetida pelas TVs de cenas de crimes de homicídio, particularmente nos casos mais graves, possam aumentar a percepção de insegurança”, refere Nelson Lourenço, sociólogo jubilado pela Universidade Nova e presidente do Grupo de Reflexão sobre Estratégia e Segurança.