Cerca de 30% dos enfermeiros que participaram num estudo relataram sintomas de depressão grave em 2024
Centro de Investigação, Inovação e Desenvolvimento em Enfermagem de Lisboa concluiu que os profissionais têm uma maior percepção negativa sobre a sua saúde mental face à primeira análise de 2017.
Cerca de 30% dos enfermeiros inquiridos numa avaliação sobre a percepção daqueles profissionais sobre saúde mental em 2024 relataram sintomas de depressão grave, segundo um estudo divulgado esta sexta-feira.
No estudo denominado "NursesMH#Survey2024: A saúde mental dos enfermeiros portugueses", no qual participaram 1894 enfermeiros, é verificado um aumento da percepção negativa sobre a saúde mental nos enfermeiros, face à primeira análise realizada em 2017, em que participaram 1264.
As conclusões indicam que 28,8% dos enfermeiros têm a percepção de sintomatologia de depressão grave, mais 6,4% do que os registados há sete anos.
"Na comparação entre os estudos de 2017 e 2024, verifica-se que os enfermeiros passaram a ter uma maior carga de trabalho, a dormir pior quando trabalham por turnos e a consumir mais psicofármacos. Agravou-se também significativamente a percepção sobre a sua saúde física e mental em todas as dimensões estudadas: saúde mental em geral; disfunção social; ansiedade e insónia; sintomatologia somática; sintomatologia de depressão grave", lê-se num comunicado.
De acordo com o "NursesMH#Survey2024: A saúde mental dos enfermeiros portugueses", quase três quartos (74,3%) dos enfermeiros "percepcionam negativamente a sua saúde mental", registando um aumento de 15,3% face aos dados anteriores.
Também é assinalado que 91,4% dos enfermeiros têm a percepção de disfunção social, 87,4% de ansiedade e insónia, 79,4% de sintomatologia somática, 17,3% consomem ansiolíticos, 17,7% consomem antidepressivos, 21,6% consomem indutores de sono/hipnóticos, 45% consideram sofrer de pelo menos uma doença (física ou mental), 61,2% nunca ou apenas ocasionalmente se sentem saudáveis fisicamente e 44,6% nunca ou apenas ocasionalmente se sentem saudáveis emocional ou psicologicamente.
Pandemia agravou problemas
Em relação às variáveis socioprofissionais e condições de trabalho, o estudo sinaliza que, dos enfermeiros que fazem turnos, 74,4% precisam de dormir mais ou muito mais entre turnos de noite seguidos, e 60,6% entre turnos de manhã seguidos, um aumento de 2% e 11,5%, respectivamente.
O estudo sustenta que 40,1% dos enfermeiros tendem a sentir-se cansado mais cedo do que a maior parte das pessoas ao final do dia e 28,6% consideram ser do tipo de pessoa que adormece facilmente em qualquer lugar. Mantiveram-se estáveis os resultados relativos ao sono diário, com metade a dormir até seis horas. Também 50% assinalaram ter um ou zero fins-de-semana livres por mês.
Os homens têm uma melhor saúde mental comparativamente às mulheres e é nos mais jovens que se encontram valores mais negativos de percepção da saúde mental.
"Particularmente preocupante é o resultado de ser nas mulheres em todas as idades e nos profissionais mais jovens que se encontram valores mais negativos de percepção da saúde mental", salienta, precisando que "as mulheres têm 80,4% mais probabilidade de ter uma percepção negativa da saúde mental".
Os enfermeiros que exercem em contexto hospitalar têm maior percepção de disfunção social comparativamente com os enfermeiros que exercem em cuidados de saúde primários. É referido também que uma formação especializada diminui em 29,8% a probabilidade de ter uma percepção negativa da saúde mental.
"À semelhança do estudo anterior, este estudo de 2024 demonstra ainda que ter hobbies, pertencer e participar na dinâmica de um agregado social e possuir formação especializada em enfermagem são factores protectores da saúde mental", acrescenta.
Os resultados do estudo, apoiado pela Ordem dos Enfermeiros, são esta sexta-feira apresentados pelo Centro de Investigação, Inovação e Desenvolvimento em Enfermagem de Lisboa (CIDNUR), da Escola Superior de Enfermagem (ESEL), às 16h.
O estudo foi realizado durante 2024 por um grupo de investigadores do CIDNUR e acontece de cinco em cinco anos, intervalo interrompido pelos dois anos da pandemia de covid-19, que "acentuou um vasto conjunto de stressores, com prejuízo acrescido para a saúde mental deste grupo profissional".