Donald Trump Jr. visita Gronelândia e pai renova interesse na compra da ilha
Visita surge numa altura em que Donald Trump falou novamente na integração da Gronelândia nos EUA. Dinamarca volta a dizer que o território autónomo não está à venda.
Donald Trump Jr., filho do Presidente eleito dos EUA, Donald Trump, visitou esta terça-feira a Gronelândia, região autónoma da Dinamarca, numa altura em que Trump e os seus aliados próximos têm recuperado o interesse norte-americano em comprar o território, já manifestado durante a primeira presidência de Donald Trump.
Depois de aterrar no aeroporto da capital gronelandesa, Nuuk, num avião privado a que chamou de "Trump Force One", o filho do Presidente eleito dos EUA disse aos jornalistas que estava na Gronelândia como "turista". Questionado sobre o interesse do seu pai em comprar o território para o integrar nos EUA, Trump Jr. limitou-se a dizer que o Presidente eleito "diz olá a todos".
Nesta viagem, Trump Jr. fez-se acompanhar por alguns membros próximos da equipa do Presidente eleito, como Charlie Kirk, activista de extrema-direita que promoveu o protesto que culminou no ataque ao Capitólio há quatro anos.
Segundo o The Guardian, um grupo de apoiantes estava à espera da chegada do filho de Donald Trump, alguns a usar chapéus vermelhos com o lema "Make America Great Again" (MAGA). Na rede social X, Trump Jr. publicou uma foto com Kirk e outro dos seus acompanhantes à frente da estátua de Hans Egede, visto como o impulsionador original da colonização dinamarquesa da ilha hoje conhecida como Gronelândia e figura controversa entre os independentistas da região.
Num podcast publicado na segunda-feira, o filho do Presidente eleito disse que ia à Gronelândia numa "viagem muito longa, pessoal, de um dia". Já Donald Trump (pai), na rede social Truth Social, anunciou que o seu filho e "vários representantes" iriam viajar para a Gronelândia "para visitar algumas das zonas e paisagens mais magníficas".
"Tenho ouvido dizer que os habitantes da Gronelândia são MAGA", disse o Presidente eleito norte-americano na publicação, acrescentando que "as pessoas beneficiarão imenso se e quando" o território "passar a fazer parte da nossa Nação".
"Iremos protegê-la e acarinhá-la de um mundo exterior muito cruel", escreveu ainda Trump, antes de acabar com uma adaptação do seu conhecido lema: "Make Greenland Great Again".
A ministra dos Negócios Estrangeiros da Gronelândia, Mininnguaq Kleist, referiu que a visita de Trump Jr. não era oficial. "Não fomos informados sobre a natureza do seu programa, pelo que se trata de uma visita privada", disse a ministra à Reuters.
A visita de Trump Jr. acontece numa altura em que os apelos vindo do Presidente eleito e dos seus aliados para adquirir a ilha voltaram a surgir, depois de uma primeira investida em 2019, durante a primeira presidência de Trump.
Na altura, as intenções causaram um incidente diplomático entre os dois países depois de a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Fredriksen, ter afastado totalmente a ideia e considerando-a "absurda", algo que levou Trump a cancelar uma visita oficial ao país.
A chegada a Nuuk de Trump Jr., embora numa visita não oficial, provocou nova resposta de Frederiksen, que reiterou a ideia deixada da última vez que Trump falou em comprar o território, ou seja, a Gronelândia não está à venda.
Falando à televisão dinamarquesa TV2 e citada pelo The Guardian, a primeira-ministra reforçou que a Dinamarca e os EUA são aliados mas pediu para que se respeitasse "o facto que os gronelandeses são um povo, uma população” e que "só eles podem definir o seu futuro".
"Vista pelos olhos do governo dinamarquês, a Gronelândia pertence aos gronelandeses", acrescentou Frederiksen.
Os representantes da Gronelândia também recusaram qualquer ideia de que o país pudesse ser vendido ou integrado nos EUA. Em Dezembro, o primeiro-ministro gronelandês Mute Egede disse-o de forma directa: "Não estamos à venda e não estaremos à venda".
"A Gronelândia é nossa", acrescentou Egede, relembrando que o país não pode perder a sua "longa luta pela liberdade".
Mute Egede é líder do partido regional Inuit Ataqatigiit (conhecido pela sigla IA), que faz parte da esquerda que defende a independência gronelandesa, uma ideia em que o primeiro-ministro reforçou recentemente.
"A história e as condições actuais demonstraram que a nossa cooperação com o Reino da Dinamarca não conseguiu criar uma igualdade plena" afirmou Egede no discurso de Ano Novo, sublinhando que "chegou agora a altura" da Gronelândia "dar o passo seguinte".
"Tal como outros países do mundo, temos de trabalhar para eliminar os obstáculos à cooperação - que podemos descrever como os grilhões do colonialismo - e avançar", disse o primeiro-ministro gronelandês. Em 2021, celebraram-se 300 anos do início da colonização dinamarquesa do território, que hoje tem um estatuto de vasta autonomia mas ainda dentro da Dinamarca.
Dinamarca anuncia investimento
Do lado dinamarquês, perante a pressão norte-americana e o aparente crescimento da ideia da independência, a resposta do Governo central foi de um maior investimento na região, especialmente no ramo da defesa.
Pouco depois de Trump ter voltado a afirmar que tinha interesse em comprar a Gronelândia em Dezembro, o ministro da Defesa dinamarquês, Troels Lund Poulsen, anunciou um pacote de investimento na defesa da Gronelândia que deverá ultrapassar os 1,3 mil milhões de euros, na compra de drones e no reforço das equipas de patrulhamento.
O timing do anúncio, segundo o ministro dinamarquês, foi "ironia do destino" mas Troels Lund Poulsen admitiu que era o momento para investir na defesa da zona do Árctico detida pela Dinamarca.
"Não investimos o suficiente no Árctico durante muitos anos, agora estamos a planear uma presença mais forte", afirmou Poulsen no anúncio do pacote de medidas, realizado perto do Natal.
De forma simbólica, o rei da Dinamarca mudou, no primeiro dia de 2025, o seu próprio brasão de armas para uma versão em que os símbolos dos dois territórios autónomos dinamarqueses - a Gronelândia e as Ilhas Faroé - têm mais destaque no escudo que o representa, removendo um símbolo de três coroas que representava a União de Kalmar, que uniu a Dinamarca, a Suécia e a Noruega - os três principais países escandinavos - na época medieval.
Esta mudança, segundo um comunicado da Casa Real, pretendeu "reforçar a proeminência" de todos os territórios do Reino, para além da própria Dinamarca.