“Está na hora de ir embora!”: Porque é importante brincar?

A fronteira entre a ficção e a realidade transforma as crianças em verdadeiros agentes de mudança: felizes, empáticas e com capacidade reflexiva.

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O espírito criador que a brincadeira proporciona surge através do jogo simbólico ou do jogo dramático Muhammed Aktürk/pexels
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Se perguntarmos a alguém quais eram as brincadeiras ou jogos prediletos na infância, libertamos memórias que nos transportam até à essência do ser humano. Por um lado, a partilha de um leque diversificado de brincadeiras, que começam em lutas que se transformam amizades para a vida; palheiros que se convertem em lojas e trampolins; lençóis que se tornam vestidos de noiva ou o desejo de ser super-herói para poder voar. Tudo isso faz-nos sentir livres e compreendidos, porque todos apanhámos alguém e fomos apanhados, fizemos palácios com cobertores e o nosso gato, por momentos, foi um temível tigre quando a sala subitamente se transfigurou numa selva.

O espírito criador que a brincadeira, nas suas diversas formas, proporciona surge através do jogo simbólico — em que, por meio da imitação, as crianças experimentam ser personagens de filmes, histórias ou pessoas relacionadas com o meio familiar e escolar —, ou pelo jogo dramático, no qual os estímulos sinestésicos, as cores, os sons e os odores podem ser elementos indutores para a criação destes momentos. Nestes contextos, as crianças representam, para os outros, uma situação ou história, o que funciona como um pórtico para a iniciação à linguagem teatral.

Estes tipos de brincadeiras são formas de relação e de conhecimento do mundo que favorecem o desenvolvimento da linguagem, pois, nesses momentos, são criadas regras por mútuo acordo. Estas formas de expressão permitem a autorregulação e promovem a autonomia pessoal, já que, durante o jogo dramático, surgem problemas e conflitos, seja para estabelecer consenso na atribuição de personagens ou na escolha dos objetos que vão servir de cenário.

A fronteira entre a ficção e a realidade, em que o tempo parece interminável e o espaço assume diversas dimensões, transforma as crianças em verdadeiros agentes de mudança: felizes, empáticas e com capacidade reflexiva.

A brincadeira termina quando o adulto solicita a presença da criança, seja para arrumar, regressar a casa ou voltar à sala de aula. Cabe-nos a nós adultos, que já brincámos e que secretamente procuramos que o lúdico não abandone as nossas vidas, garantir a existência desses espaços e permitir que possam brincar. Para que, no futuro, as crianças possam tornar-se adultos comprometidos e com um olhar transversal sobre o mundo.


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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