E se, desta vez, o “campeão de Inverno” for um título importante?
A Liga usurpou o rótulo para a Taça da Liga e a ideia, que tem uma dimensão de marketing, permite leituras futebolisticamente interessantes. O Benfica chega aqui mais pressionado.
Sporting, FC Porto, Benfica e Sp. Braga, uns mais do que outros, precisam de ser o “campeão de Inverno” – não esse campeão, o outro. A final four da Taça da Liga – que começa nesta terça-feira (Sporting-FC Porto, 19h45, SIC) e continua na quarta (Benfica-Sp. Braga, 19h45, SportTV1) – parece ser, desta vez, uma prova particularmente importante.
Pedro Proença e a Liga de Clubes acharam por bem usurpar o conceito de “campeão de Inverno” e aplicá-lo no título da Taça da Liga, que passou a ser resolvida nesta fase do ano. A ideia teve muito marketing associado, mas, futebolisticamente, permite leituras interessantes.
Haverá quem diga que é uma apropriação desajustada e que o campeão de Inverno é, e será sempre, a equipa que acaba a primeira volta do campeonato nacional na primeira posição. E haverá quem bata palmas a esta inovação, argumentando que esse campeão de Inverno, o antigo, não interessa a ninguém – e que o conceito, aplicado à Taça da Liga, traz, pelo menos, um título acoplado.
Para a edição 2025, os apoiantes desta última tese ganham um par de argumentos futebolísticos relevantes, já que ser o campeão de Inverno pode trazer um conforto fundamental a quem conquiste essa distinção.
Borges, Bruno e Carvalhal
O Sporting é, dos três “grandes”, o que menos dependerá desta final four. Mas é, como os outros, um clube que olhará para estes dois jogos com interesse especial.
Primeiro, porque Frederico Varandas, depois do falhanço que foi a aposta em João Pereira, precisa de um título que possa insuflar a retórica comunicacional de que no Sporting é fácil ganhar, porque a estrutura já lá está. Depois, porque Rui Borges é, por estes dias, um treinador que também precisa disto: cair na meia-final é espevitar desconfianças numa fase em que ainda procura convencer os adeptos e analistas de que tem “mãos para aquela guitarra”. Vencer FC Porto e Benfica/Sp. Braga é espantar fantasmas – ou afastá-los da porta, pelo menos.
Para o FC Porto, o cenário é outro. Há um certo estigma segundo o qual a equipa portista tem vacilado quando o nível do adversário sobe – algo que tem, em geral, uma boa base factual, apesar de alguns exemplos contrários.
E Vítor Bruno pode ter, nestes dois jogos, a certeza de que descobriu um FC Porto diferente desde que colocou Rodrigo Mora em “casal” com Samu. De repente, dois jogos dessa experiência vencedora podem passar a quatro – com o bónus de serem frente a rivais directos e com um troféu à mistura.
Para o Sp. Braga é fácil traçar o cenário. Perdendo – desde que não de forma confrangedora –, nada do outro mundo acontecerá a Carlos Carvalhal. Apurando-se para a final, “compra” estabilidade a um treinador que ainda caminha sobre piso movediço. Ganhando a prova, legitima as decisões drásticas de António Salvador, até porque esse cenário pressuporia dois triunfos frente a dois “grandes”.
Lage precisa disto?
Por fim, o clube que mais tem, em teoria, a ganhar e a perder com esta prova. Para o Benfica, esta final four pode ter uma relevância bem maior do que para os rivais – e já nem eles a desdenham.
Bruno Lage entrou bem, mas vive, por estes dias, um cenário distinto do de Rui Borges: também entrou num comboio descarrilado, mas, ao contrário do técnico do Sporting, já teve tempo para trabalhar.
O técnico tem feito “ouvidos de mercador” aos assobios da Luz, tentando passar a mensagem de que a equipa está bem e de que os adeptos estão tranquilos e satisfeitos. Mas cair na meia-final, sobretudo frente ao Sp. Braga que venceu na Luz há poucos dias, é deixar o treinador com dificuldade clara para manter essa retórica.
Tornando-se “campeão de Inverno”, mesmo que no campeonato não vá poder sê-lo, Bruno Lage pode manter-se firme. Firme na sua cadeira de trabalho, firme na sua retórica de que não há assobios e, provavelmente, com a firmeza de quem terá uma noite de festa e uma semana de trabalho mais alegre – e isso, parecendo secundário, pode ser tudo o que precisa uma equipa futebolística e mentalmente insegura.
Será injusto dizer que a temporada do Benfica começa ou acaba em Leiria, palco desta final four, mas pode mudar muita coisa.