Turismo: entre o fascínio e a sobrecarga

O turismo de massa, embora economicamente atraente, precisa de controle. Em muitos lugares, ele já começou a se transformar em uma ameaça.

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Sempre adorei viajar. O prazer de conhecer novos lugares, absorver culturas diferentes e me perder por ruas que parecem sussurrar histórias antigas foi o que me levou ao teatro. Uma fantasia que vem da magia dos circos itinerantes e da vida cigana que sempre me fascinou. No entanto, nos últimos anos, comecei a perceber algo que muitos moradores de grandes cidades turísticas ao redor do mundo já sentiam há tempos: o turismo, quando mal gerido, pode sufocar.

Cidades como Barcelona, Veneza e Amsterdã são exemplos emblemáticos dessa crise global. Nesses locais, o número de turistas supera em muito o de moradores, criando uma superlotação que gera tensões crescentes. Em Barcelona, moradores se queixam do aumento dos aluguéis e da invasão dos espaços urbanos. Veneza, por sua vez, foi forçada a implementar taxas de entrada para tentar controlar o fluxo de turistas, enquanto Amsterdã redireciona os visitantes para áreas menos conhecidas, numa tentativa de aliviar a pressão sobre o centro.

Portugal não está imune a esse fenômeno. Cidades como Lisboa e Porto têm vivido um boom turístico nos últimos anos. O turismo trouxe, sem dúvida, uma injeção econômica importante, gerando empregos e revitalizando áreas antes degradadas. Mas, ao mesmo tempo, a gentrificação turística está empurrando moradores para longe de seus bairros tradicionais. Alfama, Mouraria e Ribeira já não são os mesmos. Bairros que antes pulsavam com a vida cotidiana dos locais, agora parecem se moldar para agradar os visitantes. Lojas tradicionais dão lugar a cafés "instagramáveis", e a autenticidade cultural vai se diluindo.

Como viajante frequente, desenvolvi algumas técnicas para conhecer as cidades de maneira mais autêntica: caminhar e visitar os mercados. Esses são os corações pulsantes de qualquer lugar. Em Lisboa, alguns mercados ainda resistem, e as feiras semanais são pontos de encontro onde é possível captar a essência local. Para mim, esses momentos são o verdadeiro prazer da viagem: conectar-se com o cotidiano, longe das multidões e das câmeras de selfies.

O turismo de massa, embora economicamente atraente, precisa de controle. Em muitos lugares, ele já começou a se transformar em uma ameaça. Superlotação, aumento do custo de vida, perda da identidade cultural e impacto ambiental são problemas reais que afetam tanto os moradores quanto a própria experiência dos turistas. Em Lisboa, esforços já estão sendo feitos para promover um turismo mais sustentável, incentivando a visita a áreas menos conhecidas e preservando a autenticidade da cidade.

A grande questão que surge é: como encontrar o equilíbrio? Como permitir que o turismo continue a ser uma força positiva, gerando desenvolvimento econômico, mas sem sacrificar a qualidade de vida dos locais e a essência cultural dos destinos.

O turismo, quando bem gerido, pode enriquecer tanto os visitantes quanto as comunidades que os recebem. No entanto, sem uma gestão adequada, ele pode se transformar em uma força destrutiva, apagando memórias e esvaziando o significado profundo que os lugares possuem. O desafio, portanto, é criar um turismo que seja mutuamente benéfico, respeitando as necessidades de todos os envolvidos — tanto dos turistas, quanto dos moradores.

Ao final do dia, viajar não deve ser sobre "consumir" um lugar, mas sim sobre vivenciar sua essência. Se conseguirmos lembrar disso, talvez possamos preservar as maravilhas que tanto amamos descobrir.

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