Como foi a vossa noite de passagem de ano? Cumpriram todas as expectativas? Lembro-me de na adolescência, e quase a chegar à idade adulta, de depositar todas as fichas nessa noite — tinha de ser memorável, tinha de ser única, tinha de ser de balanço e de mudança... "Ano novo, vida nova", lá diz o ditado e eu munia-me de todas as superstições para que a coisa corresse bem, das 12 passas comidas em cima de um banco às tampas das panelas, passando pela roupa interior azul. Crescer traz-nos muitas coisas boas, como discernimento, e hoje nessa noite há espumante e passas, que nem sequer são comidas em cima de um banco. Mas engolidas com o desejo de mudança. 

Sobre a noite de Passagem de Ano, partilha a actriz Ana Lázaro, na sua crónica Recomeçar: "Mais logo vão engolir-se as passas, como se fossem comprimidos. Desejos em cápsulas. Pílulas de recomeço. Não gosto de uvas passas. São moles, colam-se nos dentes. Não gosto de ter os meus desejos colados aos dentes. Não gosto de os engolir como se fossem 12 comprimidos. Tenho sempre medo de não acertar, de falhar nos desejos da mesma forma que não acerto nos números de totoloto. De me faltar um desejo importante por esquecimento. Ou por cansaço. De desperdiçar um desejo com a pressa de o engolir. Prefiro demorar-me. Prefiro sorver os desejos com tempo. Prefiro deixá-los a derreter na boca…"

Tendo como mote o "Ano novo, vida nova", a jornalista Inês Duarte Freitas seleccionou cinco hábitos que podemos combater e falou com várias especialistas. Apesar de "não existir uma fórmula mágica", para começar a mudar é preciso ir traçando pequenos objectivos. "Mudar de hábitos não é linear; haverá dias em que vamos falhar, e isso faz parte do processo. A autocompaixão é essencial para não desistir", incentiva a psicóloga Sophie Seromenho.

Beba mais água ou desista de beber álcool à noite para não perturbar os seus padrões de sono são duas das cinco mudanças que pode introduzir para melhorar a sua saúde física, sugeridas pelos especialistas ouvidos pelo The Washington Post, que fez também um apanhado de dez dicas para melhorar a sua saúde mental, a partir dos inúmeros textos de psiquiatras e psicoterapeutas que foi publicando ao longo do último ano. Lidar com a ansiedade, gerir a depressão, dormir o suficiente e despertar com alegria são algumas das propostas.

No que diz respeito à alimentação, a colunista da Bloomberg Lara Williams reflecte sobre uma mudança que sente à sua volta, entre os que tinham assumido uma dieta vegana e estão a regressar à carne. "Dado que os governos têm geralmente evitado políticas que incentivem as pessoas a adoptar dietas mais sustentáveis, não é de surpreender que as pessoas estejam a voltar ao que à sua volta vêem fazer", justifica, referenciando a pegada ambiental que a nossa dieta tem.

Sobre o que vamos vestir em 2025, Paula Cordeiro dá-nos conselhos para lermos antes de irmos aos saldos e defende uma aposta em peças resistentes a modas, já a Inês Duarte Freitas levanta o véu sobre as tendências para este ano. "Seguir as tendências, não significa sair para comprar roupa nova de forma irreflectida, mas "estar na moda" de forma consciente com o que já se tem em casa. Até porque, não há volta a dar: a moda é cíclica", escreve. A marca italiana Missoni perdeu a sua fundadora, Rosita Missoni, aos 93 anos. E a Reuters dá-nos conta de uma investigação que conclui que também as marcas de luxo recorrem a más práticas e à exploração laboral para fazer os seus produtos.

O convite é de Ana e Isabel Stilwell: "Se quer começar o ano com o pé direito preste muita atenção a este episódio do Birras de Mãe: um novo dicionário para falar com os netos, sem acabar a levar uma reprimenda dos pais." A psicóloga Vera Ramalho escreve sobre os pais esgotados, aqueles que tentam corresponder a todas as exigências e podem entrar em burnout. E Meghan Leahy dá alguns conselhos aos pais de uma criança de 11 anos que não gosta de ler. Fala do exemplo, da possibilidade de lerem em conjunto com o filho — não é demais lembrar as sugestões de Rita Pimenta no seu Letra Pequena, esta semana o livro é sobre o Tempo, com letra grande porque é uma personagem.

Desde que os meus sobrinhos nasceram que no sapatinho há sempre um livro como presente de Natal, mas não foi isso que os tornou leitores. Aliás, por mais interessantes e diferentes que sejam os títulos oferecidos, não são leitores porque nenhum viu os pais lerem. Mas eu insisto, ano após ano. Apenas uma se tornou leitora, no ano que findou, aos 26 anos, revelando há dias, numa publicação nas redes sociais, os 40 livros que leu em 2024, a maioria em inglês, todos recomendados pelas tiktokers que lêem novelas "when boy meets girl" ou "when girl meets boy", todas iguais. Mas, na imagem publicada havia excepções aos young adults books como Afonso Cruz e Haruki Murakami. Óptimo, está a crescer, pensei com orgulho. Portanto, há sempre esperança que os miúdos se tornem leitores!

Boa semana!