O Manchester United de Amorim tem, afinal, qualquer coisa para dar

Em Liverpool, a equipa de Manchester foi globalmente competente. Sofreu, mas também obrigou o Liverpool a suar. Nesta fase, isso já é uma boa notícia para Rúben Amorim.

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Van Dijk durante o jogo, em Anfield Phil Noble / REUTERS
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Neste domingo, o empate (2-2) entre Liverpool e Manchester United, na 20.ª jornada da Premier League, permite várias leituras. Há quem possa tirar desta partida que o United continua sem vencer e que acabou o jogo com menos volume ofensivo do que o adversário e que o valor de golos esperados sugere muito mais Liverpool neste jogo – e esses são factos.

Mas também há quem possa apontar que a equipa de Rúben Amorim, no seu “onze” teoricamente próximo do mais forte, dividiu o jogo com o Liverpool e que poderia bem ter vencido, o que sugere que, apesar da permeabilidade quando o jogo partiu, não está tão mal como as últimas semanas apontam. E provavelmente todos têm razão.

Antes do jogo, o espírito vivido em cada um dos lados ficou patente numa brincadeira na Sky Sports. Junto ao relvado de Anfield, atacado pela neve que colocou em causa a realização do jogo, Gary Neville, lenda do United, atirava pedaços brancos para o relvado, sobrecarregando-o de neve. Jamie Carragher, lenda do Liverpool, tinha uma pá para fazer o labor oposto: tirar a neve do relvado e facilitar a realização da partida.

Era tudo a brincar, mas era uma brincadeira carregada de simbolismo: o Liverpool vive confiante e está numa boa fase para enfrentar qualquer equipa – sobretudo o grande rival, podendo abatê-lo facilmente. O United, por outro lado, está sedento de vitórias e tudo o que queria era poder não ter o Liverpool pela frente.

United entrou bem

Em campo, tudo isto se esfumou rapidamente. Foi, provavelmente, o desempenho mais sólido do United de Amorim, com um bom rigor defensivo, boa dinâmica no meio-campo e, apesar de soluções ofensivas repetidas, era uma repetição bem feita.

O 4x3x3 do Liverpool até era semelhante ao que o Newcastle usou para destruir o United há poucos dias, mas Rúben Amorim tinha, desta vez, alguns “actores” diferentes.

Num “onze” teoricamente perto do “onze de gala”, Ugarte e Mainoo têm um raio de acção com e sem bola bem distinto de Casemiro e Eriksen. Além disso – e mais importante –, Bruno Fernandes, ao contrário de Zirkzee, era mais um terceiro médio do que um terceiro avançado na posição na esquerda do ataque. E isso permitiu igualar o jogo de pares no meio-campo e evitar pelo menos um “amasso” semelhante ao do Newcastle, apesar da grande oportunidade perdida por McAllister aos 15’.

Um dado interessante à meia hora mostrava que o United tinha 12-4 em duelos no chão. Há quem diga que não é pela luta que se ganha um jogo de futebol – e não é mentira –, mas quando se fala de 75% de duelos ganhos já estamos com um desequilíbrio que empurra bastante uma equipa – mesmo que seja mais fraca.

O United não tinha muita complexidade no seu jogo e optava por repetir a mesma ideia: um jogador fazia um movimento de frente para trás, em apoio frontal, arrastando um defensor e alguém fazia o contra-movimento no espaço.

Foi assim aos 20’, com Hojlund como engodo e Bruno a lançar Dalot. Foi assim aos 41’, com Hojlund novamente a arrastar e Diallo no espaço, com Bruno a fechar mal a jogada. E foi assim aos 42’, com Bruno a arrastar o lateral e Hojlund a romper em largura, isolando-se para a defesa de Allison.

Liverpool melhor no caos

Logo após o intervalo, Hojlund, que lutou e trabalhou bastante, ganhou uma bola aérea e ajudou a soltar Dalot, que não conseguiu finalizar.

Aos 52’ uma recuperação alta de Lisandro permitiu ao argentino deixar-se ficar no ataque mais uns segundos e isso baralhou as marcações do Liverpool, que tiveram de lidar com um corpo estranho. Bruno Fernandes isolou-o e Lisandro fuzilou Allison.

A festa foi rija e notou-se um claro festejo de raiva e alívio, como se tivesse saído um peso gigante dos ombros dos jogadores do United.

Seis minutos depois, Mc Allister descobriu Gakpo deixado livre por uma movimentação defensiva estranha de Ugarte – que estava a marcar Gakpo na esquerda, mas sentiu que deveria regressar ao meio, sem que isso fosse verdadeiramente útil. O neerlandês teve, assim, espaço para ser encontrado por Mc Allister e encarar De Ligt, sentá-lo com um drible e fazer o empate com um remate forte na meia-esquerda.

Aos 66’, De Ligt esteve novamente na berlinda. A bola bateu-lhe na mão, que estava em posição não natural, e o VAR aconselhou penálti, convertido em golo por Salah.

Diallo decisivo

O Liverpool não estava bem no jogo, mas a confiança também se vê nestes momentos: não tremeu perante a adversidade e foi calmamente buscar o jogo, mesmo que com colaboração de De Ligt, imprudente nas abordagens nos dois golos.

Ao contrário do United, que tremeu após o 2-1 e houve total descontrolo: no plano emocional, mas também no táctico, com os jogadores perdidos e sempre “à queima”.

É justo dizer, ainda assim, que a boa réplica do United durante uma hora de jogo não se traduziu propriamente em golos esperados – esse valor já era favorável ao Liverpool, que, em rigor, teve uma oportunidade bastante clara, enquanto o United teve várias – mas não assim tão flagrantes.

Aos 80’, uma jogada individual de Garnacho deu assistência rasteira para Diallo, que empatou o jogo perante a passividade de Robertson.

O resultado traduzia mais o que se tinha passado em Anfield. O United teve períodos contundentes? Sim. O Liverpool teve as melhores oportunidades? Também. No fim, o 2-2 parece ter lógica.

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