Alemanha e França querem “nova relação” com a Síria pós-Assad
Ministros dos Negócios Estrangeiros de Alemanha e França encontraram-se em Damasco com o líder de facto do novo governo sírio, Ahmed al-Sharaa.
Os ministros dos Negócios Estrangeiros da Alemanha e da França visitaram a Síria esta sexta-feira para se encontrarem com Ahmed al-Sharaa, líder de facto do governo de transição, com o intuito de criarem uma “nova relação” com o país depois da queda de Bashar al-Assad.
Os chefes da diplomacia francesa e alemã, Jean-Noël Barrot e Annalena Baerbock, respectivamente, são os primeiros representantes de governos de países da União Europeia a visitar a Síria depois do fim do regime do Presidente que governava a Síria desde 2000.
Num comunicado emitido pela ministra alemã e publicado no site do Governo, Annalena Baerbock afirmou que visitava o país com a intenção de oferecer ajuda à nova administração síria, mas avisa que o renascer das relações entre os países europeus e a Síria implica uma renovação no país.
“É possível um reset político entre a Europa e a Síria, entre a Alemanha e a Síria. É com esta mão estendida, mas também com claras expectativas em relação aos novos governantes, que nos deslocamos hoje a Damasco”, afirmou a ministra alemã, avisando que este reset implica que a "a nova sociedade síria dê a todos os sírios, mulheres e homens, independentemente do grupo étnico ou religioso a que pertençam, um lugar no processo político", garantindo-lhes "direitos" e "protecção".
Para Baerbock, a transição para uma "nova sociedade síria" pode ser "potencialmente prejudicada por esperas demasiado longas para a realização de eleições ou por medidas de islamização da justiça ou do sistema educativo", referindo-se às medidas tomadas pela organização conhecida pela sigla HTS, que lidera a administração transitória na Síria e que já esteve ligada às organizações jihadistas Al-Qaeda e Daesh, que se auto-intitula Estado Islâmico.
“Continuaremos a julgar o HTS pelos seus actos. Apesar do cepticismo, não podemos agora deixar passar a oportunidade de apoiar o povo da Síria nesta importante encruzilhada”, avisou ainda Baerbock.
Já Jean-Noel Barrot, na rede social X, disse que ele e a sua equivalente alemã queriam “promover uma transição pacífica e exigente em benefício dos sírios e da estabilidade regional”, garantindo que “estão ao lado do povo sírio, em toda a sua diversidade”.
Visitando a embaixada francesa em Damasco, Barrot mostrou esperança numa Síria “soberana, estável e pacífica”.
“Doze anos após o encerramento da embaixada francesa na Síria, esta visita marcará a determinação da França e da Alemanha em apoiar o povo sírio, em toda a sua diversidade (...) para promover uma transição pacífica e exigente”, explicou o Ministério dos Negócios Estrangeiros francês antes da visita.
Ambos os ministros visitaram a infame prisão de Sednaya, onde era mantido um complexo de tortura e de assassinato de prisioneiros políticos.
Depois da visita a Sednaya, Barrot afirmou que ele e Baerbock tinham ficado “emocionalmente impressionados com a barbárie que descobrimos no estilo de campo de concentração do inferno”. Já a ministra alemã pediu à comunidade internacional para “ajudar a fazer justiça às pessoas que sofreram aqui nesta prisão do inferno”.