Escritor e professor Helder Macedo vence Prémio Vasco Graça Moura

Poeta, romancista, ensaísta, crítico e docente universitário de 89 anos é o distinguido pelo júri na décima edição do galardão.

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Helder Macedo Daniel Rocha
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O Prémio Vasco Graça Moura — Cidadania Cultural, no valor de 20.000 euros, foi, na sua décima edição, atribuído ao escritor e professor universitário de 89 anos Helder Macedo, anunciou nesta sexta-feira — dia em que o escritor, ensaísta e político Vasco Graça Moura completaria 83 anos — a Estoril-Sol, promotora do galardão.

Para o júri, ao qual voltou a presidir Guilherme d'Oliveira Martins, sócio correspondente da Academia Brasileira de Letras, Helder Macedo é "um ilustre poeta, romancista, ensaísta, crítico e professor, que tem um percurso exemplar no campo da cidadania cultural". "Vivendo em Moçambique desde a sua juventude, afirmou-se como uma consciência livre, considerando a liberdade como abrangendo a criação literária e artística, mas também o reconhecimento do direito dos povos à autodeterminação e independência."

"Exilado em Londres a partir de 1960", Helder Macedo "foi colaborador da BBC e leccionou no King's College, onde ensinou Língua e Cultura Portuguesas, afirmando-se como prestigiado investigador", continua o júri em acta, acrescentando que, após a Revolução dos Cravos, "exerceu em Portugal importantes funções na área cultural, tendo prosseguido, a par da criação literária e ensaística, uma acção persistente na cultura e educação em prol da cultura portuguesa no mundo".

Em comunicado, a Estoril-Sol lembra que Helder Macedo, "jovem de convicções antifascistas, foi perseguido pela PIDE [Polícia Internacional e de Defesa do Estado]", daí o seu exílio em Londres, onde se licenciou em Literatura e História. Realizou no King's College os seus estudos de doutoramento, tendo sido titular da cátedra Camões e professor emérito.

Helder Malta Macedo nasceu a 30 de Novembro de 1935 em Krugersdorp, na África do Sul. Passou a infância em Moçambique, onde o seu pai era governador provincial da Zambézia, e regressou a Lisboa com 12 anos, tendo, posteriormente, frequentado a Faculdade de Direito.

Os seus primeiros registos na ficção literária, um romance e alguns contos, foram censurados. A edição do seu primeiro livro de poemas, Vesperal (1957), acontece quando tem apenas 21 anos. A Vesperal seguir-se-ia outro título de poesia, Das Fronteiras (1962).

De 1991 a 1998, Helder Macedo publicou os romances Partes de África e Pedro e Paula, co-organizou a revista Folhas de Poesia e colaborou em várias publicações, como Graal, Hidra I e Colóquio/Letras.

No domínio do ensaio, "distinguiu-se com estudos de crítica literária que apresentavam perspectivas inovadoras sobre a conexão do texto literário com o horizonte mental e cultural em que foi produzido". Já na vertente da poesia, publicou Vícios e Virtudes (2000), Viagem de Inverno (1994) e Viagem de Inverno e Outros Poemas, tratando-se este último título de uma colectânea da sua poesia, com a chancela da Editora Record, do Brasil. Outra colectânea, Poemas Novos e Velhos, foi publicada em 2011, desta feita pela Editorial Presença.

Entre 1975 e 1980, viveu em Portugal, onde exerceu, durante um curto período, funções públicas e políticas: foi, de 1979 a 1980, secretário de Estado da Cultura do Governo liderado por Maria de Lourdes Pintasilgo (1930-2004).

O seu mais recente título, na área do ensaio (Camões e Outros Contemporâneos), foi publicado em 2017. Na área do romance, o mais recente, datado de 2013, recuperou para título um soneto de Camões, Tão Longo Amor Tão Curta a Vida.

O romance Sem Nome (2005) valeu-lhe, no ano seguinte, um prémio do PEN Clube Português. Anteriormente, em 1998, já vencera na categoria do ensaio, com Viagens do Olhar: Retrospecção, Visão e Profecia no Renascimento Português, que escreveu com Fernando Gil (1937-2006). Essa obra também lhe valeu, no mesmo ano, o Prémio da Associação de Críticos Literários.

Por outro ensaio, Do Significado Oculto da Menina e Moça (1977), recebeu o Prémio da Academia das Ciências de Lisboa, da qual é membro efectivo.

Como professor visitante, deu aulas em várias universidades, entre as quais a Federal do Rio de Janeiro, a de Harvard, nos Estados Unidos, a de Santiago de Compostela e a parisiense École de Hautes Études en Sciences Sociales. É ainda investigador honorário na Universidade de Oxford, no Reino Unido.

Ao longo da sua carreira, foi condecorado por três vezes pelo Estado português: em Junho passado, quando recebeu a Grã-Cruz da Ordem de Camões, em 2018 (Grã-Cruz da Ordem do Infante) e, em 1993, com a comenda da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.

Helder Macedo, sublinha a Estoril-Sol, "nunca abdicou da sua condição de português livre".

O Prémio Vasco Graça Moura, pode ler-se no regulamento, "visa distinguir um escritor, ensaísta, poeta, jornalista, tradutor ou produtor cultural que, ao longo da carreira — ou através de uma intervenção inovadora e de excepcional importância —, haja contribuído para dignificar e projectar no espaço público o sector a que pertença". No ano passado, o prémio foi atribuído ao historiador José Pacheco Pereira.

Além de Guilherme d'Oliveira Martins, o júri foi constituído por Maria Carlos Gil Loureiro (da Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e Bibliotecas), José Manuel Mendes (presidente da Associação Portuguesa de Escritores), Manuel Frias Martins (presidente da Associação Portuguesa de Críticos Literários) e, a convite da Estoril Sol, o escritor Liberto Cruz, o jornalista José Carlos de Vasconcelos, Ana Paula Laborinho (directora da Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, Ciência e Cultura) e o jornalista Dinis de Abreu.

A cerimónia da entrega do prémio será anunciada oportunamente, afirma a Estoril-Sol.