Na mensagem de Ano Novo, Putin diz aos russos que “tudo vai correr bem”

O Presidente russo enquadrou os desafios da Rússia como parte de uma missão histórica mais vasta, evocando vitórias passadas.

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Putin falou exactamente 25 anos depois de se ter dirigido pela primeira vez à nação como presidente interino, após a demissão inesperada de Boris Ieltsin ALEXANDER KAZAKOV / KREMLIN / POOL / EPA
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Na sua mensagem de Ano Novo, o Presidente russo Vladimir Putin insistiu que o país vai avançar com confiança em 2025, embora não tenha feito promessas específicas sobre a economia ou a guerra na Ucrânia.

Numa altura em que muitos russos estão preocupados com a subida dos preços e em que a taxa de juro de 21% do banco central está a pressionar as empresas e as famílias com créditos à habitação, Putin garantiu aos russos que o seu bem-estar é a sua principal prioridade.

Enquadrou os desafios da Rússia como parte de uma missão histórica mais vasta, evocando vitórias passadas, incluindo o papel do país na derrota da Alemanha nazi na Segunda Guerra Mundial. A Rússia, disse Putin, superou provações, alcançou objectivos importantes e reforçou a sua unidade no primeiro quartel do século XXI — um período que coincide exactamente com o seu tempo na liderança do país.

"E agora, no limiar do novo ano, estamos a pensar no futuro. Estamos confiantes de que tudo vai correr bem, só temos de seguir em frente. Sabemos com certeza que o valor absoluto para nós foi, é e será o destino da Rússia, o bem-estar dos seus cidadãos", afirmou.

A mensagem de Ano Novo do Kremlin, de três minutos e meio, foi transmitida à meia-noite em cada um dos onze fusos horários da Rússia, começando por Kamchatka e Chukotka. Putin falou exactamente 25 anos depois de se ter dirigido pela primeira vez à nação como presidente interino, após a demissão inesperada de Boris Ieltsin no último dia de 1999.

Putin, 72 anos, prestou homenagem aos soldados russos que combatem na guerra da Ucrânia, descrevendo-os como heróis. "Estamos orgulhosos da vossa coragem e bravura. Acreditamos em vós", disse.

Não fez qualquer referência específica à situação no campo de batalha ou às perspectivas de um fim do conflito após o regresso de Donald Trump à presidência dos EUA, a 20 de Janeiro. Trump afirmou que vai acabar rapidamente com a guerra, sem fornecer pormenores.

Perdas na Ucrânia

Em 2024, as forças russas avançaram na Ucrânia ao ritmo mais rápido desde 2022, o primeiro ano da guerra, e controlam cerca de um quinto do país. Mas os ganhos foram obtidos à custa de pesadas baixas, embora não divulgadas, em homens e equipamento. Nos últimos meses, a Rússia foi invadida pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial, quando a Ucrânia se apoderou de uma fatia da sua região ocidental de Kursk num contra-ataque surpresa a 6 de Agosto.

A Rússia ainda não expulsou as forças ucranianas de Kursk, apesar de ter trazido mais de 10.000 soldados da sua aliada Coreia do Norte, de acordo com avaliações ucranianas, sul-coreanas e norte-americanas.

"Para manter o avanço muito lento na Ucrânia, a Rússia foi forçada a ignorar a ocupação de meses de parte do seu próprio território pelas forças ucranianas", explica a especialista britânica em segurança Ruth Deyermond. "A atitude de 'não há nada a ver' perante a perda do seu próprio território não é a atitude das grandes potências, em particular das que estão tão preocupadas com a ideia de soberania do Estado."

Deyermond, num longo texto publicado no X, afirma que os esforços de Putin para apresentar a Rússia como uma potência mundial líder foram também minados pela queda do seu principal aliado no Médio Oriente, o antigo Presidente sírio Bashar al-Assad, e pela sua crescente dependência da China.

Putin, o governante há mais tempo no poder na Rússia desde Estaline, disse a 19 de Dezembro que, sob a sua liderança, o país tinha recuado da "beira do abismo" e rejeitado as ameaças à sua soberania. Em retrospectiva, disse que não deveria ter esperado até Fevereiro de 2022 para lançar a sua "operação militar especial" na Ucrânia, o termo que ainda usa para a invasão em grande escala do vizinho russo.