Isabel Pires de Lima sucede a Ana Pinho na presidência da Fundação de Serralves
Isabel Pires de Lima foi deputada e ministra da Cultura, entre 2005 e 2008. A professora emérita da Universidade do Porto era até aqui vice-presidente da Fundação de Serralves.
A ex-ministra da Cultura e académica Isabel Pires de Lima vai ser a próxima presidente do conselho de administração da Fundação de Serralves, sucedendo assim a Ana Pinho, anunciou nesta terça-feira a instituição. Pires de Lima representava até agora o Estado português na instituição portuense e era uma das suas vice-presidentes.
Em comunicado enviado já depois das 21h, a fundação indicou que, “de acordo com os estatutos de Serralves, a nova presidente foi eleita pelo conselho de administração de entre os seus membros, por voto secreto e por maioria absoluta”. Contactada nesta quarta-feira pelo PÚBLICO, a nova presidente disse que de momento nada tem a declarar para além do comunicado. Também a assessoria da Fundação de Serralves não quis, por enquanto, dar informações sobre quando terá lugar a renovação da vice-presidência do conselho de administração.
Pires de Lima era um dos três vice-presidentes e membros da comissão executiva da fundação — desde Janeiro de 2016, lembra o comunicado —, juntamente com Manuel Ferreira da Silva e José Pacheco Pereira.
O conselho de administração actual integra ainda o cientista Manuel Sobrinho Simões, os gestores Fernando Cunha Guedes (Sogrape), Tomás Jervell (Grupo Nors) e Luís Silva Santos (Ascendi), e o coleccionador Armando Cabral.
Os estatutos da fundação prevêem que o presidente possa “exercer três mandatos nessa qualidade, independentemente do tempo por que tenha exercido funções como vogal ou vice-presidente”, uma alteração introduzida em 2021 que permitiu à ex-presidente Ana Pinho fazer o terceiro mandato, ao contrário dos seus antecessores.
A professora universitária Isabel Pires de Lima foi nomeada para o conselho de administração da fundação em 2015 como um de dois representantes do Estado naquele órgão, a par de Pacheco Pereira, quando o ministro da Cultura era o socialista João Soares.
Quem está também de saída do conselho de administração, além de Ana Pinho, é o historiador e colunista do PÚBLICO José Pacheco Pereira, até agora vice-presidente, bem como Manuel Ferreira da Silva, também vice-presidente. Com nove membros, o conselho deverá ser renovado em breve com três novas entradas.
Até agora, o Ministério da Cultura não anunciou quem serão os administradores que vão substituir Pires de Lima e Pacheco Pereira. Também não é conhecido o nome que entrará para o lugar de Manuel Ferreira da Silva.
Quando chega a Serralves há dez anos, Isabel Pires de Lima já tinha uma carreira política com alguma visibilidade. Eleita deputada pela primeira vez em 1999, concorrera como independente pelas listas do Porto do Partido Socialista, depois de ter sido militante do Partido Comunista de 1976 a 1991. Após ter sido deputada seis anos, foi ministra da Cultura do XVII Governo Constitucional, liderado pelo primeiro-ministro José Sócrates (PS), de 12 de Março de 2005 a 29 de Janeiro de 2008, altura em que foi substituída por José Pinto Ribeiro. Quando estava há dez meses no cargo teve de enfrentar uma petição intitulada "Queremos Um Ministério Capaz", na qual se pedia que José Sócrates "pusesse travão" ao "somatório de contradições, desconhecimentos, desrespeitos e incompetência que têm caracterizado o desgoverno da Prof.ª Dr.ª Isabel Pires de Lima".
Isabel Pires de Lima é professora emérita da Faculdade de Letras do Porto — onde fez o doutoramento em Literatura Portuguesa —, sendo uma reconhecida especialista na obra do escritor Eça de Queiroz. Integrou o conselho de administração da Fundação Eça de Queiroz e foi membro da direcção da Associação Portuguesa de Escritores e da Cooperativa Árvore, no Porto.
É autora de vários livros, entre os quais As Máscaras do Desengano. Para Uma Abordagem Sociológica de ‘Os Maias’, publicado pela Editorial Caminho em 2002. Foi a coordenadora da obra Eça e ‘Os Maias’ Cem Anos Depois e também de obras sobre Antero de Quental e Óscar Lopes. Foi, aliás, produtora de um documentário dedicado a este professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, que chegou a ser apresentado na Feira do Livro do Porto em 2005.
Saída de João Ribas e polémica Robert Mapplethorpe: Pictures
A antiga ministra da Cultura foi um dos rostos da defesa da fundação aquando das críticas de que a administração foi alvo devido ao tratamento dado a prestadores de serviços e ao ambiente laboral vivido na instituição, bem como na altura da polémica saída do director do museu, João Ribas, em 2018, na sequência da exposição Robert Mapplethorpe: Pictures, em que este acusava a administração de Serralves de “intromissões” na montagem da exposição e de “violação sistemática” da sua “autonomia técnica e artística”. Na época, foi a vice-presidente Isabel Pires de Lima a primeira administradora a reagir publicamente ao pedido de demissão do director artístico e a repudiar as suas acusações.
Chamada ao Parlamento para prestar esclarecimentos sobre a fundação, em Maio de 2021, Pires de Lima salientou que se orgulhava das suas funções, “não porque seja mais ou menos folclórico pertencer ao conselho de administração de Serralves”, mas por entender que contribuía com o seu trabalho. Na altura, referiu que nem ela nem o conselho de administração de Serralves alguma vez tiveram “eco” de um “ambiente de medo” na instituição. A uma pergunta da deputada Ana Mesquita, do Partido Comunista Português, sobre este assunto, Isabel Pires de Lima respondeu que nem ela nem o conselho de administração tinham "eco disso", acrescentando que tinham "uma comissão de trabalhadores eleita", que representava os mais de 80 colaboradores de Serralves, com a qual estavam em contacto e que ouviam "de tempos a tempos".
Ana Pinho, que tinha atingido o limite de mandatos à frente da administração da fundação, vai suceder a Rui Vilar na presidência do conselho de fundadores de Serralves.