Antes de avançar para o balanço desta semana na secção Ímpar, que é o intuito desta newsletter, tenho um pedido de desculpas a fazer a todos os homens (porque foram só homens os que se manifestaram) que ofendi há uma semana, quando escrevi sobre o caso Gisèle Pelicot e quando generalizei que todos os homens são cúmplices.

Têm razão os que argumentaram que não são todos, têm razão os que disseram que terá sido um homem, um segurança, a identificar Dominique Pelicot num supermercado, a tentar filmar por debaixo das saias das mulheres, o que fez trazer o caso da violação da mulher à luz do dia; que terão sido homens, polícias, a investigar o caso; que há muitos homens que educam para a igualdade. Sim, eu não deveria ter generalizado. Claro que há homens bons, correctos, justos. Por isso, as minhas desculpas a todos os que verdadeiramente ofendi​​. Também lamento por todos os que sentiram necessidade de me chamar nomes, a mim e à minha mãe, que têm a certeza que sou uma feminista estúpida, mal resolvida, mal amada, mal f..., que odeio homens e que quero a cisão da sociedade (!) — todos os argumentos que o patriarcado usa quando se sente posto em causa. 

O ódio de algumas respostas e os seus argumentos são conhecidos por muitas mulheres, jornalistas, comentadoras, políticas, que tomam a palavra e têm opiniões, como os homens. É curioso ler o que homens dizem de jovens mulheres como Adriana Cardoso ou Maria Castello Branco, por mulheres não tão jovens como Fernanda Câncio ou Margarida Davim, ou por mulheres mais velhas como Ana Gomes. E a crónica da Margarida Davim, na Visão, é uma boa resposta a todos esses homens que objectificam as mulheres, lhes desejam que vão para casa cuidar dos filhos ou que sejam violadas. Escreve a jornalista: "As mensagens são constantes, quase sempre acompanhadas de comentários ao aspeto físico, sempre que falo em público para denunciar o racismo, a xenofobia, o ódio e a manipulação. Quando as leio, endireito um pouco mais as costas."

É isto, costas direitas e cabeça erguida. Na entrevista que fiz a Eduardo Marçal Grilo, ex-ministro da Educação e autor do livro Educação e Liberdade, sobre o período que vai da Primavera marcelista a 1978, a páginas tantas falamos da ascensão da extrema-direita e de como as pessoas estão nas suas bolhas, a replicar as mesmas ideias, sem contraditório. Por isso, a recomendação do ex-governante é, primeiro resolver realmente os problemas das pessoas, para que não existam argumentos, depois é: "Enfrentá-los olhos nos olhos, é dizer-lhes "você está a mentir", não é fazer desmentidos no dia seguinte, é no momento. Temos de ser frontais com quem sabemos que está a mentir, que é intolerante, que tem um discurso de ódio, que insulta as pessoas. Eu sou um defensor dos moderados radicais."

Esta é uma boa sugestão para 2025 — tentar resolver os problemas, em vez de acicatar o "nós contra os outros", um "nós" de portugueses nascidos em 1143, "contra os outros" que já cá estavam, como os árabes; que obrigámos a cruzarem-se connosco, como os africanos, os asiáticos, os sul-americanos — lembram-se daquela letra "já fui ao Brasil, Praia e Bissau, Angola e Moçambique, Goa e Macau..." —; que a guerra e a pobreza empurram até esta ponta da Europa. De louvar, esta semana, a resposta dos profissionais de saúde à decisão do Governo de excluir os estrangeiros do SNS e que Carmen Garcia explica bem.

Em termos pessoais, há cinco mudanças que pode tentar para melhorar a sua saúde, afinal há um ano novo a começar e este pode ser uma folha em branco para avaliarmos o que fizemos, repensarmos e projectarmos. A jornalista Sara Lima Sousa ouviu duas especialistas, Liliana Dias e Teresa Espassandim, que reflectem sobre as expectativas e como estas podem não ser goradas. "Às vezes, o que idealizamos não é realista, pelo que precisamos de revisitar essas expectativas para garantir que não são elas o maior bloqueio da nossa mudança e crescimento", recomenda Liliana Dias. "É mais eficaz focarmo-nos na construção de hábitos saudáveis ao longo do ano, com pequenos passos", sugere Teresa Espassandim.​

Ana e Isabel Stilwell alertam para o pessimismo, como este pode ser contagioso, e Edgar Davids, uma antiga estrela do futebol, contraria essa ideia com o seu projecto Parc des Rêves, que tem como objectivo contribuir para a melhoria da vida dos miúdos mais desfavorecidos, através do desporto, num protocolo assinado com a Fundação Sporting e a Junta de Freguesia do Lumiar.

No Ímpar, há ainda recomendações sobre como preparar-se para a passagem do ano: há um hammam para conhecer em Lisboa, onde pode relaxar; e quais os cuidados a ter com a sua pele, entre o Natal e o Ano Novo (na verdade, durante o Inverno); e os cuidados a ter na altura dos saldos, que começaram logo a seguir ao dia de Natal. 

Rita Pimenta dá a conhecer o livro infanto-juvenil Tu és Livre?, de Ana Pessoa, que surge no âmbito da colecção Missão: Democracia, editada pela Assembleia da República para assinalar os 50 anos da Revolução dos Cravos. Este livro olha a liberdade como um caminho, em que nada está garantido para sempre. E volto a Marçal Grilo, com a sua proposta que adopto como um desejo para o novo ano: sair das nossas bolhas e sermos moderados radicais.

Boas entradas!