Coreia do Sul: desastre aéreo põe à prova Presidente interino, no cargo há dois dias

Choi Sang-mok é o terceiro Presidente em funções na Coreia do Sul em menos de um mês. Desastre aéreo deste domingo é o pior em solo coreano.

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Avião da Jeju Air com 181 pessoas a bordo despistou-se e acabou por incendiar-se no aeroporto de Muan HAN MYUNG-GU / EPA
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Quando o actual Presidente interino da Coreia do Sul, Choi Sang-mok, chegou ao local do pior desastre aéreo em solo sul-coreano, este domingo, 29 de Dezembro, estava em funções há menos de 48 horas.

Choi, ministro das Finanças, tornou-se líder interino na noite da passada sexta-feira, na sequência da destituição do primeiro-ministro, Han Duck-soo, que ocupava a chefia do Estado desde que o Presidente Yoon Suk-yeol foi destituído, a 14 de Dezembro, por ter tentado impor a lei marcial no país.

Este domingo, um avião da Jeju Air com 181 pessoas a bordo despistou-se e acabou por incendiar-se ao aterrar no aeroporto da cidade de Muan. As equipas de emergência sul-coreanas continuam no local, mas as autoridades apontam para 179 mortes.

Choi Sang-mok deslocou-se ao aeroporto poucas horas após o acidente e declarou-o zona de catástrofe. "O Governo apresenta sinceras condolências às famílias enlutadas e fará tudo o que estiver ao seu alcance para recuperar deste acidente e evitar que se repita", declarou.

Nos bastidores, os ministérios ainda estão a definir a cadeia de comando para responder à tragédia e a divulgação de informações à imprensa, disseram à agência Reuters vários funcionários do Governo, sob condição de anonimato.

"Este domingo, Choi deslocou-se a Muan acompanhado por elementos do Ministério do Território, Transportes e Infra-estruturas, e não com elementos do Ministério das Finanças", sob a sua tutela, afirmou um dos funcionários estatais. "Delegações do Ministério dos Transportes e do Ministério da Segurança informarão directamente Choi sobre o desastre de avião durante as próximas semanas."

Cada ministério envolvido em questões diplomáticas, administrativas ou de segurança tem equipas que respondem perante Choi, ao contrário do que acontece com o gabinete presidencial do Presidente destituído Yoon Suk-yeol. Choi está a trabalhar a partir de um complexo governamental em Seul, e não a partir da Casa Azul, a residência oficial dos chefes de Estado, revelou uma das fontes ouvidas pela Reuters.

Um membro do Ministério das Finanças adiantou que ainda não está decidido quem, se é que alguém, dos gabinetes de Yoon e Han Duck-soo irá responder perante Choi. O mesmo funcionário afirmou que algumas das funções de Choi no Ministério das Finanças foram delegadas no ministro-adjunto.

"As reuniões da equipa de controlo de catástrofes são reuniões a nível ministerial, pelo que os ministros do Território e da Segurança respondem directamente a Choi", acrescentou.

Choi Sang-mok está a liderar a referida equipa de controlo de catástrofes em vez do primeiro-ministro, que por regra seria o responsável, tendo em conta um protocolo elaborado após o naufrágio do ferry Sewol, em 2014, que matou 304 pessoas, e o desastre das celebrações de Halloween de 2022 em Seul, quando 159 pessoas morreram espezinhadas e sufocadas.

A crise política na Coreia do Sul deflagrou quando Yoon Suk-yeol declarou, de forma inesperada, a imposição da lei marcial em todo o país, a 3 de Dezembro, para "erradicar as forças pró-norte-coreanas e proteger a ordem constitucional" de actividades "anti-estatais", de que acusa o Partido Democrático, principal força de oposição.

Acabou por anular a decisão poucas horas mais tarde e retirar as tropas que já cercavam a Assembleia, destacadas sob a lei marcial, depois de o Parlamento a ter revogado e quando milhares de pessoas já protestavam nas ruas da capital.

Yoon está a ser investigado pela Agência Policial Nacional por "traição", nomeadamente na forma de um crime de "insurreição" e abuso de poder.

Choi será Presidente interino enquanto o Tribunal Constitucional da Coreia do Sul determina o destino de Yoon Suk-yeol e Han Duck-soo, também destituído.

Este impasse político surge numa altura em que Seul tenta gerir a volatilidade dos mercados de câmbio e se prepara para o segundo mandato de Donald Trump na Casa Branca, sendo os Estados Unidos o principal aliado da Coreia do Sul.