Nova regra sobre compra de material pelos hospitais privados visa “agilizar processos”, alega ministério
Governo determinou que apenas as unidades públicas têm de fazer um pedido prévio de autorização ao ministério para a instalação e entrada em funcionamento de equipamentos médicos pesados.
O Ministério da Saúde afirma que as novas regras relacionadas com a instalação e entrada em funcionamento dos equipamentos médicos pesados, como o destinado a radioterapia oncológica ou a angiografia digital, não pretende beneficiar nenhum sector, mas assegurar que “não há um processo que trata cegamente as diferenças dos vários intervenientes”. O Governo determinou que apenas as unidades públicas estão sujeitas a um pedido prévio de autorização para a instalação e entrada em funcionamento deste tipo de aparelhos.
Segundo o decreto-lei, publicado no dia 19 de Dezembro, a instalação e entrada em funcionamento de equipamentos médicos pesados por entidades dos sectores privado e social “deverá ficar sujeita a mera notificação, que se considera essencial para a elaboração de um mapa nacional de cobertura destes equipamentos”. Tal como o PÚBLICO noticiou, o novo diploma revogou as regras que estavam em vigor desde 1995, que determinavam que a instalação destes aparelhos, tanto nas instituições públicas como nas privadas, estava sujeita à autorização do Ministério da Saúde.
Em reacção, Xavier Barreto, presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, considerou “inaceitável” a existências de regras diferentes. “Se não se apresenta uma boa justificação para a mudança, é claramente uma situação de concorrência desleal”, apontou o responsável, alertando para o aumento de competição pela captação de recursos humanos especializados. Já o presidente da Associação Portuguesa da Hospitalização Privada (APHP), Óscar Gaspar, considerou que “esta alteração elimina um condicionalismo desadequado ao investimento” e disse esperar que a mudança “permita o investimento em mais meios de diagnóstico e terapêutica”.
O PÚBLICO já tinha enviado perguntas ao Ministério da Saúde sobre a mudança de legislação, mas as respostas só chegaram esta sexta-feira. “O diploma revogado, que datava de 1995, estava ultrapassado a vários níveis”, diz o ministério, referindo que desde essa data “a diferenciação tecnológica, a generalização de meios complementares de diagnóstico, os novos hospitais do SNS existentes em território nacional foram evoluindo e expandindo ao ponto que era necessária uma alteração legislativa”.
Questionado sobre o risco de as regras desiguais poderem prejudicar o SNS, o ministério afirma que “as regras estão adaptadas às realidades actuais, com o objectivo de tratar diferente o que é diferente justamente para garantir que não há um processo que trata cegamente as diferenças dos vários intervenientes”.
“O que se pretende é agilizar os processos, quer para o sector público, quer para o privado e social, sem descurar as regras do bom funcionamento e instalação de EMP [equipamentos médicos pesados]. E essa agilização tem fases e procedimentos diferentes considerando que há naturais diferenças entre os três sectores. O que se pretende não é beneficiar qualquer um em detrimento dos restantes, mas sim adaptar essas realidades e necessidades”, assegura.
Questionado porque é que só a APHP foi ouvida neste processo, o ministério salienta que a associação “representa várias instituições privadas do sector da saúde, desde logo hospitais, que são quem é parte no processo de licenciamento e de utilização de equipamentos médico pesados no respectivo sector”. Pelo público a Administração Central do Sistema de Saúde “colaborou no diploma”.
A instalação de equipamentos pesados terá em conta rácios que determinarão o número de aparelhos por determinado número de habitantes. A portaria que vai definir esses rácios encontra-se “em fase final de validação”. “Não poderá ser notificado uma instalação, e posterior instalação, que viole estes rácios. O que se pretende é agilizar o procedimento a nível administrativo”, diz o ministério liderado por Ana Paula Martins.