O Irão anunciou que vai começar a aliviar aquelas que são consideradas as restrições mais rigorosas da Internet no mundo, ao levantar a proibição do WhatsApp e do Google Play. Este é um sinal de que as autoridades querem apaziguar as críticas dos opositores internos, numa altura em que a República Islâmica enfrenta grandes desafios económicos e de política externa.
Na terça-feira, o Conselho Supremo do Ciberespaço iraniano aprovou o fim do bloqueio a "certas plataformas estrangeiras amplamente utilizadas", de acordo com a agência noticiosa estatal da República Islâmica (IRNA), que nomeou o WhatsApp e o Google Play como as duas primeiras aplicações a serem desbloqueadas.
Desde os protestos de 2009 contra a reeleição do ditador Mahmoud Ahmadinejad, as redes sociais, incluindo o Facebook, X e YouTube, foram proibidas ou restringidas pelas autoridades, que as acusaram de facilitar os protestos e fomentar a oposição ao Estado.
Há anos que o Governo é criticado pelos civis iranianos, governos ocidentais, Nações Unidas e activistas políticos pela sua atitude draconiana em relação à Internet. Os funcionários públicos — a maioria dos quais utiliza as redes sociais proibidas para gerir as suas próprias contas públicas — não cumprem, frequentemente, as promessas de reduzir a censura. Em vez disso, a censura aumentou significativamente nos últimos dez anos.
Ainda não se sabe quando é que a decisão desta terça-feira entrará em vigor. Segundo a IRNA, a resolução foi tomada por unanimidade numa reunião do conselho em que participou o actual Presidente Masoud Pezeshkian, que se comprometeu a flexibilizar a liberdade de acesso à Internet para os iranianos quando foi eleito em Julho.
A medida surge numa altura em que a República Islâmica, que já vive uma crise de popularidade dentro das próprias fronteiras depois de uma revolta popular em 2022 ter sido brutalmente reprimida, se encontra num impasse com Israel por apoiar o Hamas em Gaza e o Hezbollah no Líbano.
Ambos os grupos — designados como organizações terroristas pelos EUA e seus aliados — foram prejudicados pela resposta militar de Israel aos ataques do Hamas em Outubro de 2023. A destituição de Bashar al-Assad na Síria também abalou a política externa do Irão, numa altura em que o país luta para manter o acesso à electricidade tanto para empresas quando para as famílias, a braços com uma grave crise de combustíveis e de gás natural.
"O processo de levantamento das restrições no ciberespaço será multifacetado e contínuo, e não se limitará à eliminação das restrições numa ou em algumas plataformas", afirmou a IRNA.
Os iranianos já passaram por vários "apagões" da Internet, por exemplo, durante os protestos de Novembro de 2019 e a revolta nacional de 2022, o que levou o governo dos EUA, na altura, a aliviar as sanções que limitavam os serviços de Internet no Irão, como a utilização do Starlink de Elon Musk.
A Freedom House, sediada em Washington, afirmou que o Irão se encontrava entre os três países menos livres do mundo em termos de acesso à Internet — depois da China e de Birmânia — na sua classificação anual Internet Freedom Scores.
Exclusivo PÚBLICO/ The Washington Post