Morreu Manmohan Singh, antigo primeiro-ministro da India

Responsável por um período de crescimento económico e redução de pobreza sem paralelo na Índia, Singh foi um respeitado economista sem ambições políticas até ser catapultado para o poder em Nova Deli.

Foto
Manmohan Singh foi responsável um período de grande crescimento económico na Índia POOL New / REUTERS
Ouça este artigo
00:00
03:52

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

Manmohan Singh, antigo primeiro-ministro da Índia e um dos ex-líderes mais respeitados do país, morreu esta quinta-feira ao 92 anos. Enfrentava vários problemas de saúde relacionados com a idade.

É-lhe atribuído um período de crescimento económico sem precedentes e a retirada de centenas de milhões de pessoas da pobreza extrema. Acabou por cumprir um raro segundo mandato, chefiando o Governo indiano entre 2004 e 2014.

"A Índia lamenta a perda de um dos seus mais ilustres líderes, o Dr. Manmohan Singh Ji", declarou o actual primeiro-ministro indiano, Narendra Modi.

Nascido no seio de uma família pobre de uma área do Punjab actualmente sob soberania paquistanesa, Singh estudou à luz das velas para conseguir um lugar na Universidade de Cambridge, continuando depois os seus estudos em Oxford, obtendo um doutoramento em Economia com uma tese sobre o papel das exportações e do comércio livre na Índia. Tornou-se um economista respeitado, tendo sido governador do Banco Central da Índia e conselheiro do governo, mas não tinha ambições políticas até ser chamado para o cargo de ministro das Finanças em 1991.

Durante esse mandato, e até 1996, Singh foi o arquitecto das reformas que salvaram a economia indiana de uma grave crise de pagamentos, promoveram a desregulamentação e outras medidas que abriram um país insular ao mundo.

Citando Victor Hugo no seu primeiro discurso sobre o orçamento, disse: "Nenhum poder na terra pode travar uma ideia cujo tempo chegou", antes de acrescentar: "A emergência da Índia como uma grande potência económica no mundo é uma dessas ideias".

A ascensão de Singh a primeiro-ministro, em 2004, foi ainda mais inesperada. Sonia Gandhi, que conduziu o Partido do Congresso, de centro-esquerda, a uma vitória surpreendente, pediu-lhe que assumisse o cargo. Italiana de nascença, Sonia Gandhi temia que a sua ascendência fosse utilizada pelos opositores hindus-nacionalistas para atacar o governo, caso ela liderasse o país.

Após um período de crescimento económico sem precedentes, o governo de Singh introduziu programas de assistência social, tais como um programa de emprego para os pobres das zonas rurais. Em 2008, o seu governo também conseguiu um acordo histórico com os Estados Unidos em matéria de cooperação nuclear, fortalecendo relações entre Nova Deli e Washington. Mas os seus esforços para abrir mais a economia indiana foram frequentemente frustrados por disputas políticas dentro do seu próprio partido e por exigências feitas pelos parceiros da coligação.

"A história vai ser mais simpática comigo"

Embora fosse muito respeitado por outros líderes mundiais, na frente doméstica Singh teve sempre de se defender da percepção de que Sonia Gandhi era o verdadeiro centro de poder no Governo. Viúva do antigo primeiro-ministro Rajiv Gandhi, cuja família dominava a política indiana desde a independência da Grã-Bretanha em 1947, Sonia Gandhi manteve-se como líder do partido do Congresso e tomou frequentemente decisões importantes.

Conhecido pelo seu estilo de vida frugal e com uma reputação de honestidade, Singh não era visto como corrupto. Mas foi atacado por não ter conseguido controlar e punir membros do seu Governo quando uma série de escândalos eclodiu durante o seu segundo mandato, desencadeando protestos em massa.

Nos últimos anos do seu mandato, o crescimento da Índia, que Singh tinha ajudado a promover, vacilou à medida que a turbulência económica global e a lentidão do Governo na tomada de decisões afectaram o investimento. Em 2012, o seu governo ficou em minoria depois de o maior aliado do Partido do Congresso ter abandonado a coligação em forma de protesto contra a entrada de supermercados estrangeiros.

Dois anos mais tarde, o Partido Congresso foi definitivamente afastado do poder pelo Partido Bharatiya Janata (BJP, na sigla inglesa) de Narendra Modi, que prometeu ultrapassar a estagnação económica e combater a corrupção e as assimetrias regionais.

Numa conferência de imprensa realizada poucos meses antes de deixar o cargo, Singh insistiu que tinha feito o melhor que podia. "Acredito sinceramente que a história será mais simpática comigo do que os meios de comunicação social contemporâneos ou os partidos da oposição no parlamento", acrescentou.