Banzo chega este dia de Natal às salas francesas — a Portugal, em Janeiro

Diz a imprensa francesa que esta é “a oportunidade de descobrir uma cineasta”, Margarida Cardoso.

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Carloto Cotta, interpretando um médico, uma figura passiva, consciente do seu presente histórico mas incapaz de acção e ruptura, é já um rosto conhecido dos cinéfilos franceses
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Antes de chegar a Portugal, a 23 de Janeiro de 2025, a terceira longa-metragem de ficção de Margarida Cardoso, Banzo, é hoje, dia de Natal, distribuída em França pela Damned Films.... cidades como Paris, Nice, Toulouse, Lyon ou Montpellier. Premiada em 2024 nos Caminhos do Cinema Português e no IndieLiboa, coube a esta produção de Uma Pedra no Sapato inaugurar em Novembro a primeira edição do festival Olá Paris!, dedicado ao cinema português, e agora pela primeira vez Margarida Cardoso está a ser descoberta no circuito comercial francês.

O Libération, num texto intitulado "o estertor de um país", fala desta ficção numa plantação de cacau em São Tomé e Príncipe no século XIX em que um sentimento de nostalgia contagiosa dizima os seus escravos, esvazia-os da vontade de vida, como um "filme hipnótico" de uma cineasta que vem explorando as memórias coloniais do seu país em filmes como A Costa dos Murmúrios (2004) ou Ivone Kane (2014). Termina o texto de Sandra Onana a sublinhar que a "perturbação esquiva" deste "filme-sepultura para todos os sacrificados sem voz do imperialismo ocidental" se deve ao facto de "ameaçar sempre passar para o lado dos fantasmas".

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De facto, Banzo não deixa de ser aproximado ao género fantástico embora também se deva contrapor que a cinefilia nunca é o jogo nem deste filme nem do cinema de Margarida Cardoso.

Carloto Cotta, interpretando um médico, uma figura passiva, consciente do seu presente histórico mas incapaz de acção e ruptura, é já um rosto conhecido dos cinéfilos franceses devido ao Tabu de Miguel Gomes, considerado pela revista Les Inrockuptibles um dos 25 melhores do século XXI, e ao Morrer como um Homem de João Pedro Rodrigues, que foi um dos 10 filmes do ano em 2010 para a revista Cahiers du Cinéma. Para a Télerama, ele é "extraordinário de angústia e de impotência face ao desastre".

Respondendo à pergunta "haverá bons filmes este Natal?", dia em que estreiam também Nosferatu, de Robert Eggers, Motel Destino, de Karim Ainouz, ou Ernest Cole, Lost and Found, de Raoul Peck (o realizador de Eu Não sou o Teu Negro) e Le Déluge, sobre os últimos dias de Marie Antoinette (Melanie Laurent) e Louis XVI (Guillaume Canet), Jean-Michel Frodom na revista online Slate responde exemplificando com Banzo, "a oportunidade de descobrir uma cineasta": plano a plano, com uma doçura "cortante", "instilando uma beleza venenosa e contudo respeitosa dos seres, humanos, animais, vegetais, dos fenómenos naturais e dos fantasmas, Margarida Cardoso inventa uma maneira de filmar o colonialismo como um veneno"; e ainda, o que é distintivo da experiência de ver o filme, o facto de a cineasta portuguesa que viveu a sua infância em Moçambique, "encontrar na relação com os lugares — selva e orla marítima, propriedade dos patrões, locais administrativos e construções miseráveis — uma matéria mais impregnada de significações e de imaginário do que 'uma história'".

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