Morreu o padre Agostinho Jardim Gonçalves, aos 92 anos
Irmão do banqueiro Jorge Jardim Gonçalves, ligado a movimentos conservadores da Igreja Católica e ao Opus Dei, Agostinho Jardim Gonçalves tinha 92 anos e era um oposicionista do regime salazarista.
O padre Agostinho Jardim Gonçalves, figura ligada a movimentos operários católicos portugueses, morreu no domingo à noite, disse fonte da Liga Operária Católica (LOC), que lamentou a perda de um "símbolo do activismo social" da Igreja.
A morte de Agostinho Jardim Gonçalves, antigo chefe de gabinete do cardeal-patriarca José Policarpo, foi divulgada pelo jornal 7Margens e confirmada pela agência Lusa junto da LOC, organização a que esteve associado durante muitos anos.
Américo Oliveira, coordenador da LOC, sustentou à Lusa que Jardim Gonçalves "é uma das figuras mais relevantes do activismo e da Igreja em Portugal" e "em tudo o que se meteu era uma figura relevantíssima".
Em particular, Américo Oliveira recorda o seu papel na promoção da pastoral operária, onde foi "fundamental ainda antes do 25 de Abril [de 1974]", lamentando que o tema hoje já não seja uma prioridade da discussão dentro da Igreja e entre os católicos.
"Ele faz muita falta", nos dias de hoje, porque, "em Portugal, as grandes questões ficam diluídas nos ritos, e no muito medo de arriscar desafios novos", considerou.
As questões operárias e sociais devem ser, no seu entender, uma prioridade da Igreja Católica, como oportunidade de concretizar a fé na sociedade.
No passado, com outros sacerdotes da mesma geração, o padre Jardim Gonçalves "deu um contributo essencial à reflexão sobre o mundo do trabalho" em Portugal.
Irmão do banqueiro Jorge Jardim Gonçalves, ligado a movimentos conservadores da Igreja Católica e ao Opus Dei, Agostinho Jardim Gonçalves, 92 anos, era considerado um oposicionista do regime salazarista, tendo chefiado a redacção do Jornal da Madeira. Acabou por ir para o estrangeiro, onde desempenhou cargos no Movimento Mundial dos Trabalhadores Cristãos, no Comité Católico contra a Fome e pelo Desenvolvimento na América Latina ou na Comissão Nacional de Apoio aos Presos Políticos portugueses.
Na década de 1980, Jardim Gonçalves foi um dos fundadores da Oikos, organização não governamental dedicada às questões da cooperação e do desenvolvimento, numa altura em que, em Portugal, não abundavam organizações afins. Praticamente sem trabalho pastoral atribuído pela hierarquia católica, manteve-se durante mais de dez anos a trabalhar com a Oikos e em várias organizações internacionais.
No final da década de 1980, seria o patriarca José Policarpo a chamar o padre Jardim para seu chefe de gabinete. A partir daí, Jardim Gonçalves dinamizou o Centro Cultural do Patriarcado, no âmbito do qual promoveu uma série de encontros temáticos com personalidades de diferentes áreas da sociedade civil, que se destinavam, como recorda o 7Margens, a que o patriarca pudesse escutar vozes de responsáveis e técnicos de áreas como as migrações, a comunicação, a cultura, as empresas ou as finanças.