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Atos de amor: voluntários alimentam quem precisa e distribuem carinho e conhecimento
A proximidade do Natal desperta a solidariedade, mas há aqueles que estendem as mãos aos mais vulneráveis o ano inteiro. Não há idade para fazer o bem.
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Com o Natal batendo às portas, muitas pessoas aproveitam a data para ajudar o próximo. Mas há quem faça isso o ano inteiro, trabalhando como voluntário em Portugal. Diretora executiva de um grande banco, a economista Sandra Utsumi faz parte, há um ano e meio, da Comunidade Vida e Paz, que dá apoio aos sem-teto, ajudando-os na reabilitação e na reintegração à sociedade portuguesa.
“Nosso objetivo é ajudá-los. E também tentar tirá-los da rua", conta Sandra, que participou da preparação da festa de Natal da ONG, que acontece neste final de semana (20, 21 e 22 de dezembro), na Cidade Universitária de Lisboa. No ano passado, foram 1.700 convidados.
Morando na capital portuguesa há 18 anos, a brasileira, nascida em São Paulo, também ajuda a distribuir um pequeno lanche aos moradores de rua de Lisboa. Mas não é apenas comida que ela leva à população mais vulnerável da cidade."Levamos sempre uma palavra amiga", frisa.
Sandra considera algo natural a sua dedicação aos mais necessitados. "Acho que é normal uma pessoa querer ajudar a outra. Eu quero dar a mão, dar mais dignidade a quem está à minha volta", afirma.
Quem também põe a mão na massa, literalmente, é o chef Pedro Sobrinho. Ele e sua equipe são os responsáveis por preparar cerca de 200 cestas de Natal, que serão distribuídas aos desabrigados.
Nascido em Recife há 38 anos, e em Portugal há 16, ele se sente cumprindo seu papel na sociedade quando uma pessoa, sem ter o que comer, prova o que ele preparou no fogão com tanto carinho. “Meu tempero é o amor. Cozinhar para essas pessoas é um ato de amor”, diz o brasileiro, que está há três anos na Vida e Paz. “Ajudar o próximo deixa a gente mais leve.”
Tecnologia para idosos
Já o executivo da área de tecnologia Márcio Nunes dá expediente uma vez por semana numa turma de 12 alunos da terceira idade na Universidade Sênior da Associação de Apoio Social Nossa Senhora das Neves, em Manique de Baixo, Cascais. As aulas são sobre novas tecnologias, assunto que, para muitos idosos, ainda é um bicho-papão.
Afinal, quem não tem em casa um avô, uma avó, um tio que só sabem usar o celular para ligar para alguém? "Eu já tinha vontade de fazer trabalho voluntário há muito tempo. Há quatro meses, decidi parar de empurrar com a barriga esse desejo e fui pesquisar na internet como e onde eu poderia fazer isso", relata.
Professor há 24 anos, o carioca sente-se à vontade com a nova tarefa. "O que mais gosto de fazer na vida é dar aulas", diz ele, que também exerce a profissão na Nova SBE, em Carcavelos. Mas, nesta turma sênior, o desafio é ensinar como baixar um aplicativo ou armazenar fotos para uma faixa etária que até então ele nunca tinha encarado dentro da sala de aula: os alunos têm entre 60 e 80 anos.
E quem pensa que, por serem mais velhos, são quietinhos, engana-se. "Eles não param de falar um minuto", diverte-se o professor. "Nunca pensei em trabalhar com idosos, e está sendo uma experiência incrível. E sempre digo que ninguém ensina nada a ninguém. Nós conseguimos ajudar a aprender. É preciso ter interesse, e eles têm de sobra", ressalta.
Aos 54 anos, assinala o docente, dar aulas para um grupo de idosos é uma lição de vida. "Com eles, estou aprendendo a envelhecer", frisa. "Eles não ficam em casa esperando a morte chegar, e me mostram o que eu sempre acreditei: não existe idade para aprender", acrescenta.
A Universidade Sênior da Associação de Apoio Social Nossa Senhora das Neves também oferece aulas de inglês, culinária, teatro, ioga, etc. Segundo a coordenadora Patrícia Brás, atualmente, a instituição precisa de voluntários para dar aulas de escrita criativa, música e pilates.