Caso Pelicot: algumas datas determinantes para o julgamento deste processo

Dominique Pelicot é condenado a 20 anos de prisão. Eis uma cronologia que regista algumas datas determinantes para o julgamento deste processo.

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Gisèle Pelicot, a mulher que foi drogada e vilada pelo marido ALEXANDRE DIMOU / REUTERS
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O julgamento de Dominique Pelicot, 72 anos, o homem que violou e convidou dezenas de homens a violar a sua mulher, Gisèle Pelicot, 72 anos, depois de a drogar, chega nesta quinta-feira ao fim. O homem foi condenado a 20 anos de prisão. Apesar de se ter declarado culpado, a justiça francesa levou a cabo o seu julgamento público, para que a sociedade pudesse compreender o que aconteceu, pediu a mulher. Eis algumas datas que marcam o julgamento deste processo:

2010

Dominique Pelicot é apanhado a filmar por baixo das saias de mulheres, através de uma câmara minúscula escondida numa caneta, num centro comercial em Paris. Nesse mesmo ano, foi multado em 100 euros e detido, mas Gisèle Pelicot só teve conhecimento desta detenção em 2020. “Se eu tivesse sido informada, talvez o tivesse deixado, ou não”, declarou ao tribunal. Com esta detenção, o ADN de Dominique Pelicot acaba por corresponder ao sangue encontrado no sapato de uma cena de tentativa de violação na região de Paris, no ano de 1999. O homem fez uma agente imobiliária, na altura com 19 anos, acreditar que queria ver um apartamento, dando um nome e endereço falsos, e drogou-a. O efeito da droga acaba por passar e a jovem consegue fugir. Estas provas, que ligam Dominique a esta tentativa de violação, acabaram por não ser incluídas no caso e este é arquivado, embora não saiba o motivo.

Julho de 2011

Segundo declarou Dominique Pelicot em tribunal, foi em 2011 que começou a drogar a sua mulher. Gisèle Pelicot disse lembrar-se de, nesse ano, ter tido um apagão num dia em que dormiu até às seis da tarde. Quando começou a ser drogada pelo marido, a mulher começou a desconfiar que o que sentia poderiam ser sintomas de Alzheimer ou um tumor cerebral. Então, em idas ao médico, nada era diagnosticado.

2013

O casal reforma-se e muda-se para Mazan, uma pequena cidade no sul de França, para uma pequena casa com jardim e piscina. Então, eram visitados regularmente pelos seus filhos — David, que hoje tem 50 anos, Caroline, de 45, e Florián, de 38. Segundo Dominique Pelicot, foi neste período que se intensificaram os convites para outros homens violarem, juntamente com ele, a sua mulher.

14 de Fevereiro de 2015

No Dia dos Namorados, Dominique Pelicot convida um camionista para sua casa, dizendo que o encontro seria uma “prenda” para a sua mulher. Este homem terá regressado mais cinco vezes à casa do casal até 2020 embora negue, em tribunal, a acusação. Muitos dos homens que tiveram relações sexuais com Gisèle Pelicot alegam que desconheciam que a mulher não tivesse conhecimento do que se passava.

12 de Setembro de 2020

Dominique Pelicot é apanhado, mais uma vez, a filmar por baixo de saias de mulheres com o seu telemóvel, num supermercado em Carpentas, uma cidade perto de Mazan. É apanhado por um segurança e é detido. Nesse dia, a polícia acaba por apreender dois telemóveis, um gravador de vídeo que transportava, uma chave USB, assim como um cartão SD que estava em sua casa. Fica a aguardar em liberdade o seguimento do caso e acaba por contar o sucedido à mulher.

Com suspeitas de estar doente, Gisèle Plicot continua a recorrer a médicos, inclusive neurologistas, mas nenhum dos profissionais desconfia do uso de drogas. Durante todo este tempo, Dominique acompanhava-a às consultas, a mulher acreditava que o marido era "um amor".

Novembro de 2020

Ainda em Setembro, Gisèle Pelicot é convocada para se apresentar na esquadra de Carpentas, achando que o assunto era o sucedido no supermercado. A polícia acaba por lhe falar dos vídeos encontrados nos dispositivos electrónicos do marido e diz acreditar que ele a drogou durante anos, convidando dezenas de homens a terem relações sexuais com ela. Os filhos do casal ajudam Gisèle a sair de casa e a polícia mostra à filha duas fotografias onde aquela está a dormir numa “posição estranha” com o edredão puxado para trás e com as luzes acesas. A filha acaba por testemunhar que acredita ter sido drogada e violada pelo pai, mas Dominique Pelicot nega as acusações, dizendo que não foi ele que captou as imagens. As autoridades também apreenderam imagens das noras de Dominique Pelicot.

Setembro de 2024

O julgamento do caso iniciou-se este ano, no dia 2 de Setembro, e Gisèle Pelicot quis que este se tornasse público, recusando o anonimato que é oferecido às vítimas de violação. Gisèle Pelicot pretende mudar a forma como a sociedade lida com estes casos e quer que seja público “para que outras mulheres, quando acordarem sem memória, se possam lembrar do testemunho da Sra. Pelicot”, declara em tribunal.

Outubro de 2024

Em tribunal, a acusação declara que Gisèle Pelicot foi sedada e violada durante dez anos, sem saber, terá sido violada mais de 200 vezes. Os homens, entre os 27 e os 74 anos, com diferentes profissões, alguns pais de família, levaram o advogado de Gisèle a admitir que “não existe um perfil de violador”. Depois de ouvir mulheres, namoradas e amigos dos homens que a violaram dizerem em tribunal que o arguido não parecia capaz de violar, Gisèle Pelicot afirmou: “Temos de progredir na cultura da violação na sociedade. As pessoas deviam aprender a definição de violação.” E acrescentou: “Para mim, eles são violadores e continuam a ser violadores. A violação é uma violação.”

19 de Dezembro de 2024

Dominique Pelicot é condenado à pena máxima de 20 anos e considerado culpado de todos os crimes de que foi acusado.


Texto editado por Bárbara Wong

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