Que soluções para a falta de professores?

Daqui a dois anos devem sair das escolas cerca de 4700 professores. E estava tudo bem, pois a natalidade estava a descer. Eis que a imigração troca as voltas às contas e se torna num ‘problema bom’.

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"O que pensam os professores sobre as adversidades que o ensino atravessa?" Rui Gaudêncio
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A falta de professores é uma grande dor de cabeça na educação, eu diria mesmo, uma grande enxaqueca! Durante anos os professores foram desconsiderados e apontados como a causa dos males na educação, como seja a indisciplina na sala de aula ou a falta de preparação para transmitir aos alunos os conhecimentos para a vida.

A quebra do vínculo de parceria coesa e de unidade entre o Estado e os seus agentes educativos de primeira linha, os professores, quebrou-se. Quando a figura da autoridade quebra a sua confiança publicamente naquele que habitualmente põe em prática e executa os programas definidos, todos os demais o desprezam. E foi o que aconteceu.

Quem quer ser professor quando o Estado durante décadas não soube valorizar os docentes? Não contribuiu para dignificar a sua carreira, não os socorre quando todos os problemas da sociedade vão parar à escola, e esta é vista como veículo de prevenção e remédio para tudo, desde a educação para a sexualidade à interculturalidade, passando por tantos outros temas. Não reconhece o valor do exercício da profissão quando atira para a escola os problemas da sociedade permitindo que todos opinem sobre o modo como os professores agem ou deviam agir, com detalhe.

É preciso gostar muito do que se faz ou do encantamento que a carreira pode ter, quando tudo isto acontece.

O que é facto é que daqui a dois anos devem sair das escolas cerca de 4700 professores. E estava tudo bem, pois a natalidade estava a descer e a falta de alunos já se fazia sentir. Eis quando a imigração troca as voltas às contas e se torna num ‘problema bom’ a diversos níveis. Com um passado recente tão tortuoso e na memória de todos, como atrair novos licenciados para a carreira docente? Como será o futuro do ensino?

Com as novas tecnologias, o foco na interdisciplinaridade, nos domínios de autonomia curricular (DAC), e projetos diversos, tão presentes na escola, deverá continuar o ensino nos mesmos moldes? A pandemia covid-19 mostrou-nos que as aprendizagens tornam-se mais efetivas quando o professor está próximo dos alunos e não à distância. Já não temos programas, mas sim aprendizagens essenciais, as salas de aula em ‘comboio’ ainda existem, e muito, mas o mobiliário escolar já inclui propostas que permitem outros tipos de disposição dos alunos.

Que forma ou formas de ensino podem estar à frente dos nossos olhos que não estamos a conseguir ver? Desde sempre, para que a aprendizagem acontece é necessário quem ensine e quem aprenda, e o quê. E desde que conhecemos a educação, os professores eram os Mestres e Mentores, com um manancial de conhecimento muito alargado e com uma capacidade igual de incluir o erro na aprendizagem. Lembro-me muitas vezes do Steve Jobs que fez um trabalho que todos reconhecemos como notável, ao simplificar a ação da Apple naquilo que era essencial e verdadeiramente de valor. Terminou com uma série de produtos acessórios, que serviam para distrair o consumidor, facilitando a dispersão por supostas necessidades. Cada professor é um especialista na sua área de formação e educação. E considera o seu conhecimento de extrema importância para que a vida possa prosseguir com normalidade.

Todos os saberes se interligam, e reconhecer as pontes que os unem e como esses cruzamentos podem fazer sentido para a aprendizagem é o que fazemos já na interdisciplinaridade e nas DAC. E a acrescentar temos todas as aulas compartimentadas por saberes. E faltam professores para preencher um horário semanal de manhã e de tarde, para si e para os alunos.

“O trabalho do professor exige espaço para pensar, trabalho em conjunto e poder de decisão. São aspetos que continuam a ser desvalorizados na educação”, diz Lourdes Fragateiro no Jornal de Letras de 16 a 29 de outubro deste ano. E eu não podia concordar mais. É preciso tempo. Sobretudo tempo para pensar e refletir, o que se foi tornando dispensável e quase ridículo, ao longo dos tempos, sobrepondo-se a necessidade de ‘fazer’. É preciso apresentar ‘feitos’. Pensar, planear, prever, são os primeiros ‘feitos’.

O que pensam os professores sobre as adversidades que o ensino atravessa? As mudanças eficazes são mobilizadas a partir de dentro e não por imposição. O que é facto é que com tantos desafios em cima da mesa, não estarão lá os sinais para uma intervenção mais profunda adequada aos tempos atuais na educação?

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