Natal à brasileira tem pato no tucupi, arroz de jambu, farofa e, claro, bacalhau

Brasileiros que passarão o Natal em Portugal levarão à mesa parte das memórias gastronômicas. Há aqueles que não abrem mão do salpicão e do lombo à mineira. A cerveja será substituída pelo vinho.

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A paraense Ana Paula Gomes decidiu recorrer às raízes neste Natal e vai preparar arroz de jambu e pato ou peru no tucupi Lucas Lima
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Que o bacalhau sempre foi a estrela das mesas do Natal, seja no Brasil, seja em Portugal, não há dúvidas. Mas, neste ano, o tradicional prato vai dividir o protagonismo com delícias bem brasileiras entre aqueles que cruzaram o Atlântico em busca de uma nova vida em solo português. A paraense Ana Paula Gomes, 45 anos, decidiu retornar às raízes e, no jantar de passagem de 24 para 25 de dezembro, terá como ingredientes principais nos pratos que serão servidos o jambu e o tucupi, os quais cresceu apreciando na sua Belém do Pará.

“No Natal do ano passado, a comida portuguesa dominou a nossa ceia. Fizemos bacalhau e outros pratos tradicionais. Neste ano, recebi uma carga muito especial de Belém do Pará, de tucupi e jambu. Portanto, teremos arroz de jambu e camarão, o arroz paraense muito parecido com um risoto, e peru ou pato no tucupi”, diz Ana Paula. “Também teremos um peixe que se chama pirarucu e que lembra muito bacalhau. Será, portanto, uma ceia bem regional”, acrescenta. Jambu é uma erva muito comum na América do Sul e em Mandagáscar. Já o tucupi é um líquido extraído da mandioca brava.

Há quase três anos em Portugal, Ana Paula, que trabalha como atendente em um café, conta que passará o Natal com o marido e aqueles com quem o casal divide uma casa. “Infelizmente, não teremos como fazer uma grande confraternização. Chamar a galera, fica complicado. Mas, quem sabe, no próximo ano, consigamos reunir mais pessoas”, ressalta. “O importante é que teremos o que comemorar e com comida típica da minha terra”, frisa.

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O chef de cozinha Christian Grecco vai levar para a casa de amigos farofa de castanhas e cuscuz marroquino Lucas Lima

O chef de cozinha Christian Grecco, 49, ressalta que este será seu terceiro Natal em Portugal. “Tive a sorte de encontrar, em Lisboa, amigos que fiz no Brasil. E foram eles que me convidaram para as ceias nos últimos dois anos”, diz. A comida, relata, era toda brasileira. Farofa, que ele mesmo preparou por ser sua especialidade, e salpicão. “Neste ano, o Natal será na casa de um grande amigo português. Mas, com certeza, a comida será quase toda brasileira, porque muitos dos convidados são oriundos do Brasil”, assinala.

Grecco ressalta que ficou estipulado que cada um dos convidados para a ceia levará um prato. “Eu, particularmente, vou levar uma farofa muito especial, que gosto de fazer, com castanhas. Talvez, também leve um cuscuz marroquino”, antecipa. Ele só lamenta estar longe da família, do pai, da mãe, do irmão, do filho. “A distância dá uma saudade”, lamenta.

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Como boa quituteira brasileira, Eduarda Meirelles fará lombo recheado à mineira e farofa de banana Lucas Lima

Doces e saudades do feijão

Há sete anos em Lisboa, a cozinheira Eduarda Meirelles, 32, diz que, na ceia de Natal, não abre mão do salpicão brasileiro. “Isso é tradição”, frisa. “Mas também precisa ter bacalhau, porque não dá para deixar de aproveitar a qualidade desse peixe, que a gente só descobre de verdade quando nos mudamos para Portugal”, afirma. A mesa, segundo ela, deve ser completada com uma boa farofa, um lombo recheado e uma salada, se possível, com manga. “E claro, muito vinho. Como está frio nesta época do ano, trocamos a cervejinha e a caipirinha pelo vinho.”

Eduarda conta que, para não deixar nada escapar na ceia, no dia 24, ela vai trabalhar, no máximo, até às 2h da tarde. “Como boa cozinheira, tenho de me dedicar à ceia. Vou passar a noite de Natal na casa de amigos. Minha intenção é fazer um bom lombo recheado, porque minhas raízes mineiras não abrem mão disso. Também vou preparar uma farofa de banana e um salpicão para os vegetarianos”, detalha. “Seremos pelo menos 12 brasileiros, com criança e tudo”, diz. Como sobremesas, pavê e manjar de coco.

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Juliana Penteado, confeiteira e jurada do Masterchef Portugal, adora o compartilhamento de pratos na ceia de Natal. "Um pouco da história de cada um", diz Lucas Lima

A confeiteira Juliana Penteado, 34, jurada do Masterchef Portugal, diz que, dos sete anos em que vive em Lisboa, em apenas dois não foi para o Brasil no Natal. “Creio que o Natal tem uma tradição, independentemente da cultura. Entre nós, brasileiros, algumas coisas são mais características, que se diferenciam de família para família. Muitas vezes, o que se come em uma parte do Brasil, não se come em outra”, assinala. Para ela, a ceia de Natal é colaborativa. “Cada um que participa mostra um pouquinho da sua identidade, da sua história”, complementa.

Neste ano, Juliana ficará em Portugal e passará o Natal com amigos brasileiros, cada um levando uma comida para a ceia. Ela, no entanto, vai trabalhar até o último momento. “Nossas duas lojas de doces ficarão abertas até o dia 24. Este é um período muito especial para nós, com muitas encomendas”, destaca. Os clientes, segundo ela, são diversificados. “Eles se identificam com o tipo de confeitaria que fazemos”, acredita.

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Walter Gomes passará o Natal com amigos em Dublin, na Irlanda. Ele não esconde a saudade do feijão brasileiro Lucas Lima

Segundo o designer gráfico Walter Rodrigues Gomes, 56, ele nunca teve muita ligação com o Natal, por não ser religioso. Neste ano, vai comemorar a data com os amigos em Dublin, na Irlanda. Ele ainda não sabe qual será o cardápio da ceia natalina. Mas, se pudesse, teria à mesa um bom feijão à moda brasileira. “Estou sentido falta de feijão”, ressalta.

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