A Força Aérea como trampolim

A formação militar, altamente especializada e tecnológica, é uma mais-valia para as empresas que procuram qualificações específicas e experiência confirmada.

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A Força Aérea (assim como outros ramos das Forças Armadas) é uma escola que rivaliza com as melhores universidades ou estabelecimentos de ensino privados em cursos dispendiosos e exclusivos como sejam os de piloto, médico ou controlador de tráfego aéreo.

Sendo uma instituição pública e militar, dá simultaneamente a garantia de uma formação de qualidade (incluindo em áreas tecnológicas) e sem custos elevados — pelo menos financeiros — para os “estudantes” que, num mundo ideal, viriam a fazer parte do quadro permanente durante longos anos.

Nem sempre isso acontece, como percebemos pela entrevista que o general Cartaxo Alves, chefe do Estado-Maior da Força Aérea, dá hoje ao PÚBLICO. Desde a pandemia, tem vindo a aumentar o número de militares que pediram o abate no quadro: foram 17 em 2021; 35 em 2022; 80 em 2023; e 108 até este momento de 2024.

São apenas 108 indivíduos a pedir a desvinculação num momento em que a Força Aérea bate o recorde de efectivos da última década (6700, incluindo 700 civis), contudo, visto de outro ângulo, é uma subida de 535% que requer atenção. Não terá sido por acaso que, logo em Janeiro, Marcelo Rebelo de Sousa pediu aos pilotos recém-formados que pensassem mil vezes antes de cederem à tentação" de 'voar' fora da casa que os formou.

As saídas são sobretudo em quatro áreas, explica o chefe do Estado-Maior da Força Aérea: "Pilotos (foram 35), engenheiros, controladores aéreos e médicos. E depois técnicos de manutenção, de electrónica, técnicos de manutenção aeronáutica.”

A dificuldade não está no recrutamento, mas na “retenção dos quadros”, acrescenta. Há mecanismos de indemnização para impedir as saídas, mas há empresas que pagam essas indemnizações para terem os profissionais formados na academia militar.

O problema real está nas condições de trabalho, nos níveis de remuneração e nas perspectivas de carreira. As clínicas e hospitais privados que assediam os médicos do SNS são os mesmos que vão buscar estes profissionais à Força Aérea. As companhias aéreas que procuram pilotos comerciais estão dispostas a pagar salários e bónus com os quais o sector público não pode competir. E o mesmo para os engenheiros, os controladores de tráfego aéreo e até os seguranças privados.

A formação militar, altamente especializada e tecnológica, é uma mais-valia para as empresas que procuram qualificações específicas e experiência confirmada. Num certo sentido, a Força Aérea (assim como outros ramos das Forças Armadas) é um trampolim para uma vida profissional mais valorizada. Não é fácil competir com isso.

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