Partidos alemães apresentam planos para reavivar a economia
Especialistas cépticos quanto a soluções apresentadas pelos conservadores, sociais-democratas e ecologistas.
Os principais partidos políticos alemães apresentaram nesta terça-feira os seus planos para reavivar a maior economia da Europa, no início da campanha para as eleições antecipadas de 23 de Fevereiro.
As eleições, desencadeadas depois de a coligação do chanceler social-democrata Olaf Scholz, que incluía ainda os Verdes e o Partido Liberal-Democrata (FDP), ter caído no mês passado devido a discussões sobre a dívida, acontecem num momento de teste para a Alemanha. Na segunda-feira, a votação de uma moção de confiança deu início formal ao processo que levará a eleições antecipadas.
A economia deverá contrair pelo segundo ano consecutivo, gigantes industriais como a Volkswagen enfrentam uma ameaça existencial de rivais estrangeiros e as atitudes políticas estão a endurecer em relação aos migrantes.
Destacada nas sondagens, a União Democrata-Cristã quer reduzir os impostos sobre o rendimento e sobre as empresas e baixar os preços da electricidade como forma de estimular a economia.
Os seus opositores políticos criticam o partido de Friedrich Merz por não prever financiamento para estas políticas, embora a CDU acredite que pode financiá-las através de um crescimento económico mais rápido e de cortes em algumas prestações sociais.
Reforma do travão da dívida?
Durante muito tempo, Merz afirmou que tenciona manter o limite de despesa pública, conhecido como travão da dívida, consagrado constitucionalmente, embora recentemente tenha aberto a porta a uma reforma. O instrumento foi introduzido após a crise financeira de 2009, mas os críticos dizem que impede o crescimento ao restringir os empréstimos e o investimento. Os sociais-democratas de Scholz (SPD) e os seus aliados de coligação, os Verdes, querem reformar o travão da dívida.
O ministro da Economia, Robert Habeck, dos Verdes, acusou Merz de não conseguir responder à realidade que a Alemanha enfrenta. “Temos de melhorar as nossas infra-estruturas”, disse Habeck na apresentação do manifesto do seu partido, estimando que uma revisão das infra-estruturas da Alemanha irá custar centenas de milhares de milhões de euros na próxima década. “Isso exige uma reforma do travão da dívida.”
Scholz, o líder alemão mais impopular dos tempos modernos, está a tentar recuperar a iniciativa, e o seu SPD também se propôs incentivar o investimento privado e modernizar infra-estruturas com um fundo extra-orçamental de 100 mil milhões de euros. No entanto, alguns economistas questionam se algum dos principais partidos oferece grandes mudanças.
“Medidas de pequena escala não vão ajudar – temos de pensar em grande escala. Não se vê isso na maioria dos manifestos eleitorais”, disse Cyrus de la Rubia, economista-chefe do Banco Comercial de Hamburgo. “É claro que melhora o moral quando os impostos sobre o rendimento são reduzidos... Se estas micro-intervenções continuarem, a resignação acabará por se impor devido à falta de coragem.”
Oliver Holtemoeller, vice-presidente do Instituto de Investigação Económica de Halle, questionou se haveria uma maioria no novo Parlamento para apoiar a reforma do travão da dívida. “Os programas eleitorais são mais listas de desejos do que programas de acção governamental, uma vez que muitas coisas não podem ser concretizadas dentro do actual quadro jurídico do travão da dívida.”
Divisões quanto à Ucrânia
Para além da economia, outras questões que deverão dominar a campanha eleitoral são a imigração e a guerra na Ucrânia. A Alemanha de Scholz aumentou as despesas com a defesa e tornou-se o segundo maior apoiante militar da Ucrânia, a seguir aos Estados Unidos. No entanto, Merz gostaria de ir mais longe, equipando Kiev com mísseis Taurus, uma medida que Scholz receia que possa arrastar a Alemanha para um confronto directo com a Rússia.
Os Verdes querem que as despesas com a defesa sejam aumentadas para além do objectivo da NATO de 2% do produto nacional. Em contrapartida, a Alternativa para a Alemanha (AfD), de extrema-direita, actualmente em segundo lugar depois dos conservadores nas sondagens, quer o fim do fornecimento de armas à Ucrânia e o restabelecimento de boas relações com Moscovo.