Depois de Black Doves, que mais contam os espiões da TV?

Série com Keira Knightley é um sucesso Netflix que é só o exemplo mais recente de uma vaga de espionagem na televisão. É uma onda diferente.

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Keira Knightley e Ben Whishaw em Black Doves, na Netflix dr
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Uma resposta à pergunta do título é: esperar por 10 de Fevereiro. É quando The Agency, a série que adapta para os EUA o original francês Le Bureau des Légendes, se estreia na SkyShowtime com Michael Fassbender e Jeffrey Wright à cabeça. Outra é: olhar para trás e ir repescar Slow Horses (Apple TV+) ou, na mesma SkyShowtime, acompanhar The Day of the Jackal, com Eddie Redmayne, ou tentar encontrar os tecidos conjuntivos em A Diplomata na Netflix. Mas a resposta mais completa é: estamos novamente num ciclo de espiões televisivos.

Não é por acaso que Black Doves, os seis episódios em que Keira Knightley e Ben Whishaw andam aos pulos por uma Londres em que ninguém é de fiar está em primeiro lugar na lista da Netflix desde que se estreou. É célere, bem interpretada, e tem bancos de jardim com vista para sítios politicamente importantes onde se passam coisas. “Nunca conhecemos realmente alguém” é uma espécie de mantra desta série e é assim, por exemplo, que tende a ser apresentada em conversas de amigos no passa-palavra que alimenta um mini-fenómeno como este. É óbvio que dizer Keira Knightley também ajuda, mesmo com o factor “estrela de cinema a fazer uma série” já um bocado gasto.

Black Doves já tem segunda temporada assegurada, e o mesmo se passa com séries ainda em curso (ou seja, a debitar episódios semanalmente) como The Day of the Jackal. Outra é Slow Horses, com Gary Oldman, que já vai na quarta temporada e tem mais duas garantidas. A Diplomata irá também à terceira tranche de episódios. Este é o macro-fenómeno. As séries de espiões estão de volta desde há já uns tempos, mas agora é deveras evidente.

“Toda a gente está a fazê-las. O mundo neste momento está numa situação em que precisamos de espiões porque há tantas barreiras, e tantas questões estatais, que parece a altura certa”, disse ao site Deadline Jane Featherstone, produtora de Black Doves. A produtora fala em ciclos de 25 anos para explicar o retorno regular deste tipo de ficção e cita Spooks, série da BBC (2002-11) de que foi produtora em 2000. Porém, divirjamos — há The Americans, com “a diplomata” Keri Russell e Matthew Rhys, a marcar o género entre 2013 e 2018, por exemplo. Para não falar de Segurança Nacional, um pós-24 e pós-Jack Bauer exibido entre 2011 e 2020.

Em The Americans, o fantasma é a Rússia em plena Guerra Fria. Em 24, eram muitos, demasiados medos do 11 de Setembro e por isso muito foco na zona do Médio Oriente, Paquistão ou Afeganistão. Segurança Nacional também. Em Black Doves, são as organizações criminosas londrinas e a China. Em Slow Horses, há a Rússia, há organizações britânicas. Os inimigos desta ficção, normalmente baseada em policiais de sucesso, dizem muito mais sobre estas histórias e como se situam no tempo do que simplesmente “ciclos”. The Agency tem o detalhe de se ter situado em Abril de 2023, com a guerra que a Rússia moveu à Ucrânia em cima da mesa.

Outro dos pontos interessantes destas séries, como Black Doves ou The Americans, é que o lado familiar destes Misters e Mrs. Smith é central na intriga. O que só aumenta a parada e não é assim tão comum, apesar de não ser inédito. E sim, também o Chacal de Redmayne e o agente desautorizado de Gary Oldman têm as suas amarras sentimentais com que lidar. “Nada é pessoal”, diz Jeffrey Wright em The Agency a Michael Fassbender. Só que, como atenta o New York Times num artigo recente, tudo é pessoal. Em Killing Eve, a tensão entre Sandra Oh e Jodie Comer era mais do que criminal.

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The Agency adapta para os EUA o original francês Le Bureau des Légendes. Estreia-se a 10 de Fevereiro de 2025 na SkyShowtime dr
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The Agency com Michael Fassbender e Jeffrey Wright dr

“Para mim, o elemento de espionagem era secundário às relações humanas”, postula Joe Barton, autor de Black Doves. Num mundo com tanta exposição e representação pessoal em mil ecrãs e ambientes, era mais ou menos inevitável que até os espiões se tornassem mais reais. O que aumenta ainda mais a tal parada.

E para finalizar, curiosamente estas séries mais recentes, mesmo quando feitas por americanos, têm a Europa como teatro de operações. James Bond, provavelmente o mais conhecido espião da ficção, está sempre ao serviço de sua majestade, a ficção com um toque do charme do Velho Continente. Só que ao contrário de Bond, ou das primeiras e abundantes versões do agente 007, desta vez é com mais sentimento.

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