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De professora a “Tia de Lisboa”: a trajetória de Adelaide Vieira
Adelaide Vieira trocou a sala de aula no Brasil pela cozinha em Portugal. A ex-professora de Suzano transformou a paixão pela culinária em uma marca de acolhimento.
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Adelaide Vieira, conhecida como "Tia de Lisboa", deixou Suzano, na Grande São Paulo, em 2005 para construir uma nova vida em Portugal. Professora de formação, tomou a difícil decisão de abandonar o emprego efetivo na prefeitura para acompanhar os filhos, Humberto e Cícero, que já viviam em Lisboa. "No Brasil, eu tinha medo de deixá-los sair na rua. Aqui, eles podiam ir e vir com liberdade", relembra. A segurança foi o fator decisivo para a mudança, mas o amor pela família foi o que sustentou a escolha.
Adelaide começou sua nova vida trabalhando em jardinagem e limpeza, enquanto se adaptava ao país. Aos poucos, a paixão pela culinária, até então apenas um hobby, começou a tomar forma como uma nova carreira. "Nunca fui cozinheira no Brasil, era professora. Mas aqui, vi uma oportunidade de transformar a cozinha em trabalho", conta.
Seu talento na cozinha ganhou notoriedade com a famosa feijoada, que se tornou tradição nos sábados em Alfama, reunindo dezenas de pessoas. "Minha feijoada é muito requisitada. Tem dias que preparo para mais de 90 pessoas", diz orgulhosa. Além da feijoada, Adelaide diversificou seu cardápio com pratos como estrogonofe, bife acebolado e o frango com quiabo, adaptando a culinária brasileira ao paladar português.
O apelido "Tia de Lisboa" surgiu de forma carinhosa entre os frequentadores dos eventos de samba onde Adelaide trabalhava na portaria e vendia suas primeiras coxinhas. "Até quem não me conhece me chama de tia. É um carinho que me emociona", diz. O nome acabou virando sua marca e é sinônimo de acolhimento e dedicação.
Família como base de sustentação
A mudança para Portugal foi um movimento familiar iniciado por dois de seus irmãos, que depois trouxeram outros parentes. Hoje, a família soma cerca de 50 pessoas vivendo em Portugal e espalhadas por outros países da Europa. "Esse apoio foi essencial. Saber que tinha minha família por perto me deu força para superar os desafios e recomeçar", afirma.
A presença da família não apenas facilitou a adaptação, como também contribuiu para criar uma rede de suporte emocional e prático. "Um ajuda o outro. Quando alguém chega, já sabe que vai ter a quem recorrer", explica Adelaide, que também trouxe a mãe para Portugal, Aldil Vieira dos Santos, Dona Didi, que benzia a todos e nas rodas de samba da família, era vista a cantar e a batucar a bengala no ritmo das músicas. Aos 95 anos, completados em 2023 fez a passagem para o mundo espiritual.
Adelaide enfrentou os desafios da adaptação com determinação. Regularizou sua situação ao pagar a segurança social e conquistou o Bilhete de Identidade (BI), o que lhe garantiu estabilidade e a possibilidade de contribuir para o sistema. "Sempre mantive tudo regularizado, porque sabia que era importante, especialmente para um futuro mais tranquilo", conta. Hoje, Adelaide aguarda a aposentadoria no Brasil como professora e planeja complementar a renda com o benefício português.
A nova onda de brasileiros em Portugal
Quase duas décadas depois de sua chegada, Adelaide observa a nova onda de brasileiros que se mudam para Portugal. "Hoje está mais difícil por causa da documentação, mas ainda vejo muitos vindo em busca do que eu procurei: segurança e uma vida melhor", comenta. Apesar dos desafios burocráticos, Adelaide acredita que a determinação de quem chega continua sendo a chave para uma boa adaptação.
Adelaide reflete sobre sua jornada com gratidão e orgulho. "Valeu a pena. Eu acompanhei o crescimento dos meus filhos e construí uma nova vida. Hoje, ver minha família prosperar em Portugal é a maior recompensa", afirma. Para ela, o título de "Tia de Lisboa" é mais do que um apelido. "É um símbolo do que sempre quis fazer aqui: unir pessoas, levar um pouco do Brasil para a mesa e criar um espaço de afeto e acolhimento."
A trajetória de Adelaide Vieira é um exemplo de superação e reinvenção. Entre receitas brasileiras e histórias de vida, ela construiu mais do que uma carreira: criou laços que transcendem fronteiras e gerações.