Foi o número 318 da Rua da Restauração, no Porto, que António Silva Monteiro elegeu para construir o seu palacete e onde, passados dois séculos do seu nascimento, se apresentou, esta quarta-feira, "António Silva Monteiro – o Homem, a Casa e as suas circunstâncias”, o livro que homenageia o contributo deste brasileiro de “torna-viagem” para a cidade do Porto.
A apresentação contou com a presença dos autores, José Maia Marques e Gonçalo Maia Marques, pai e filho, do director do Museu Nacional de Soares dos Reis (MNSR), António Ponte, da presidente da Comissão Vitivinícola da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV, organismo que tem hoje sede no palacete), Dora Simões, e do presidente da Câmara Municipal do Porto (CMP), Rui Moreira.
As 173 páginas que compõem este “objecto de memória”, como chamou António Ponte, descrevem “O Homem, A Casa e as suas circunstâncias” e reúnem textos, arquivos históricos e artigos de jornal. A antiga sala de jantar do Palacete Silva Monteiro, hoje conhecida como Salão Nobre, foi o lugar da casa que acolheu a apresentação deste livro, que se divide em quatro partes: a figura, um novo Porto, o Palacete e, por fim, o seu jardim.
Nascido em 1822, António Silva Monteiro era ainda muito jovem quando se viu obrigado a emigrar com o avô e o pai para o Brasil, devido à instauração do absolutismo, em Portugal. No regresso, trouxe consigo uma “grande fortuna”, o que contribuiu para que, como sublinhou António Ponte, tivesse “um papel quase determinante na economia, na sociedade, na política e na filantropia”.
“Fomos com ele ao Brasil, seguimo-lo na construção do seu palacete, estivemos com ele em várias das suas actividades e até o acompanhámos à sua última morada”, comentou José Maia Marques sobre o período em que ele e o filho mergulharam na história de Silva Monteiro para elaborar o livro agora apresentado.
Do público, os autores confessaram esperar três acções. A primeira, que leiam o livro, a segunda, que apresentem críticas e sugestões de forma a melhorar o trabalho e, a terceira, que, após a leitura, fiquem com a ideia de que “o conteúdo é digno da instituição que o edita [a CVRVV] e da obra de arte gráfica em que o livro se transformou”, enumerou o historiador José Maia Marques, que prometeu não falar “do produto, mas do processo”.
Além da construção do Palacete Silva Monteiro, que é hoje a sede da CVRVV, Silva Monteiro também esteve envolvido na obra do Palácio de Cristal, chegou a ser vice-presidente do município e investiu na linha férrea entre a Invicta e a Póvoa de Varzim. Nas palavras de Dora Simões, este livro vem “devolver à cidade do Porto uma das suas referências do século XIX, cuja mudança se perpetuou até aos dias de hoje em grandes locais, que ficamos a conhecer melhor através deste livro”.
“O prazo não era grande, não sabíamos que documentação iríamos encontrar, nem onde”, explicou José Maia Marques. Tendo sido anunciada a publicação desta obra para 2023, Gonçalo Maia Marques explicou ao PÚBLICO que, a pedido da CVRVV, a dupla acabou por dedicar mais tempo ao livro, a fim de alargar mais o tema à cidade.
Alguma da “fortuna” que Silva Monteiro trouxe no seu regresso foi usada para a construção de escolas em Lordelo do Ouro e Miragaia e para financiar obras da Misericórdia, entre outros investimentos. Investimentos esses que lhe valeram o título de visconde e, mais tarde, em 1875, o de conde, atribuídos pelo rei Luís I. Enquanto recordava o legado deixado por esta figura histórica, o presidente da CMP considerou que Silva Monteiro percebeu que tinha de compensar o atraso que a cidade do Porto sofria. “Nós precisamos de pessoas e de cidadãos que façam o que podem”, acrescentou.
Da casa, que integra a terceira parte desta obra, António Ponte optou por “não falar muito”, recomendando a sua visita, já que “uma coisa é ler, outra coisa é sentir o espírito dos espaços”. Na sua visão, este é o lugar para onde Silva Monteiro transferiu “os seus gostos e esta dimensão social que ele tinha”. Nos compartimentos destinados à sociabilidade nota-se, especialmente, uma decoração “requintada”. Já a última parte dedica-se ao jardim, onde é mostrada “a relação que a família do Conde Silva Monteiro tinha com outros espaços da cidade”, como explicou o director do MNSR.
Gonçalo Maia Marques, num discurso breve, agradeceu à sua família, a quem roubou alguma atenção em detrimento da “dedicação, tempo e concentração” com que se entregou ao projecto do livro, juntamente com o seu pai.
António Ponte acredita que a obra, uma edição de 1.000 exemplares e que custa 50 euros, pode contribuir para que outros estudos venham a ser feitos “em torno do conde Silva Monteiro, da casa e do jardim”. Antes de se lançarem neste desafio, José Maia Marques e Gonçalo Maia Marques nunca tinham “olhado com olhos de ver” para o número 318 da Rua da Restauração e, até por isso, a sua proposta neste livro foi reunir a informação e fotografias necessárias que “permitam ao leitor preparar uma visita ao local”. Texto editado por Ana Isabel Pereira