Em A Médica, Ricardo Neves-Neves encena “um auto de fé na era digital”

A partir de Arthur Schnitzler, Robert Icke escreveu a peça que fica no Teatro da Trindade, em Lisboa, até 16 de Fevereiro. Uma avalanche ética, moral e religiosa espoletada por uma decisão clínica.

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O desencontro das posições do padre (Pedro Laginha) e da médica (Custódia Gallego) é o gatilho desta peça ALÍPIO PADILHA
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Piedade Lobbo (Custódia Gallego) é médica, fundadora e directora do Instituto Alma. É uma especialista conceituada na área da demência, com “uma percepção de Jedi” no que toca aos diagnósticos e uma austeridade que provoca na restante equipa doses semelhantes de respeito, admiração, inveja e ressentimento. Nas conversas de corredor, referem-se-lhe como LM (Loba Má) e comenta-se que “Piedade só de nome”. Leva, pois, a profissão muito a sério. E no momento em que um padre católico (Pedro Laginha) chega às instalações hospitalares do instituto, exigindo visitar uma jovem paciente, menor de idade, a lutar pela vida enquanto vítima de um aborto auto-administrado, a médica, responsável pela rapariga, recusa-lhe a entrada. Alega que o frágil estado da doente não aconselha visitas de qualquer espécie. A partir daqui, forma-se uma imparável avalanche ética, moral, religiosa, que se abaterá tanto sobre as várias instâncias do hospital quanto sobre a opinião pública.

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