Sanções à Rússia encarecem bacalhau em Portugal. Preço sobe 18% num ano

Russos dividem mar de Barents com Noruega e empresas pagam 12% de direitos aduaneiros. Portugueses mantêm tradição, mas encarecimento faz sector temer quedas no consumo.

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Bacalhau é um dos produtos que mais aumentou o preço no cabaz de Natal Daniel Rocha/Arquivo
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O Natal está aí à porta e ultimam-se os preparativos para uma das principais festividades do ano. Se sente que está a gastar mais dinheiro no supermercado este ano a preparar a mesa de consoada com lista de compras idêntica, não é só impressão sua. O preço do cabaz de Natal formado por 16 produtos essenciais pode ultrapassar em 2024 os 52 euros, uma subida de 4% face ao valor registado em Dezembro de 2023. O bacalhau é uma das principais razões para esta subida, com um aumento de preço por quilo de 18% face ao registado em Dezembro de 2023. A guerra na Ucrânia é o principal motivo.

“O preço do bacalhau é grandemente influenciado pelas sanções económicas impostas pela União Europeia à Rússia. Há um mecanismo europeu de abastecimento que permite às empresas de diversos sectores abastecerem-se de matérias-primas fora do Espaço europeu quando não as há em suficiente quantidade. Isso existe para certos produtos da pesca incluindo para o bacalhau", começa por dizer Paulo Mónica, secretário-geral da Associação dos Industriais do Bacalhau (AIB).

A Rússia divide com a Noruega o mar de Barents, com muito do bacalhau consumido em Portugal comprado aos russos. Noruega e Islândia completam o top 3.

As sanções aplicadas aos russos obrigam as empresas ao pagamento de uma taxa de 12% em direitos aduaneiros, aumentando os custos para as empresas importadoras. Algo que se reflecte depois na factura paga pelos consumidores no momento de compra.

"Já fizemos chegar estas preocupações ao Governo. Têm de tentar fazer entender junto a Bruxelas que estas medidas estão a penalizar a indústria europeia e não a Rússia, que receberá o mesmo dinheiro [pelo produto exportado]", prossegue o responsável da AIB.

Na primeira semana de Dezembro, um quilo deste peixe custava 14,38 euros, mais 2,20 euros do que há um ano. O alimento que há décadas é uma das principais tradições associadas à quadra natalícia corre o risco de se ter já tornado um produto de luxo, uma preocupação para a indústria. O aumento de custo dos transportes e electricidade contribuem para o aumento do preço.

"Se compararmos com os períodos antes da pandemia, os transportes estão bastantes mais caros", avalia Paulo Mónica. Apesar de se ter registado uma quebra de consumo nos últimos dois anos, a tradição de ter bacalhau na mesa da consoada ainda se mantém forte, com estratégias para debelar os custos. "Ainda assim, os consumidores preferem os tamanhos grandes e acabam por fazer um esforço para chegar a esses bacalhaus de 20 a 30 euros o quilo. Nem toda a gente conseguirá, mas compram lombos ou um peixe mais pequeno. [O bacalhau] é uma tradição", refere.

Os associados da AIB representam mais de 80% da produção industrial de bacalhau em Portugal, totalizando um volume de negócio anual de 500 milhões de euros.

A par do bacalhau, vários outros produtos do cabaz de Natal registaram uma subida de preço. Quando em comparação com o período homólogo de 2023, a tablete de chocolate para fins culinários aumentou 44%, com o preço a fixar-se no início de Dezembro em 2,86 euros – 1,86 euros no final de 2023.

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