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Com um português e dois brasileiros, Move é eleito grupo de jazz do ano em Portugal
Trabalhando há dois anos, grupo tem projeto que leva música improvisada com dança a escolas, para familiarizar os alunos com a música. Dia 15, o trio toca em Lisboa com as sambistas do Gira Coletivo.
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Misturar música contemporânea, clássica, de vanguarda, com forró, samba e funk foi o caminho adotado pelo Move, que recebeu o prêmio de Melhor Grupo de Jazz do Ano de Portugal, entregue na Festa do Jazz, realizada no Centro Cultural de Belém, no sábado (7/12).
Foi um prêmio para a música de improvisação, num grupo que junta dois brasileiros — Felipe Zenicola, 43 anos, no baixo elétrico, e o saxofonista Yedo Gibson, 43 — e o português João Valinho, 34, na bateria.
Neste momento, o Move está envolvido em três projetos. No primeiro, participará, neste domingo (15/12), em Lisboa, às 18 horas, do concerto de improvisação no Music Box. O grupo vai interagir com as sambistas do Gira Coletivo. Com entrada gratuita, terá duração de três horas.
João Valinho explica a junção de jazz com samba. “Temos o modelo de criar um diálogo com mais pessoas, uma parceria que parte do âmago da banda. Nossa ideia é de colaborar, de juntar várias formas de ser e fazer música”, explica.
O baterista português diz o que aproxima das meninas do Gira, com seus samba e pagode, do jazz improvisado do Move. “Elas trabalham o samba com uma abordagem diferente, procuram a diversidade. A filosofia e a forma contemporânea e vanguardista do Gira vão no sentido de levar a sociedade para a frente, e isso se enquadra na nossa forma de pensar a música”, acrescenta
Disco
O segundo projeto é o disco Free Baile, gravado ao vivo em Shenzen, na China, que acaba de ser lançado. A gravação foi realizada durante o festival OCT-Loft Jazz, no final de outubro deste ano. É o segundo disco da banda, depois do The City, lançando em 2023. Yedo Gibson conta como foi a ida para a China. “Eles nos convidaram para o concerto lá. Foi uma viagem de 50 horas até chegar em Shenzen”, lembra.
O saxofonista descreve um ambiente não usual nos festivais de jazz em que tinham estado. “Era um galpão com mais de 700 pessoas. O que havia de diferente lá é que a maioria do público tinha entre 20 e 30 anos, o que não é comum. Normalmente, quem ouve jazz é mais velho”, afirma.
O público conhecia pouco a música que o Move faz, mas a forma como banda foi recebida causou surpresa. “A organização divulgou um resumo com nossa história, com nossas músicas. Levamos 70 cópias do nosso primeiro disco. Normalmente, vendemos três ou quatro em cada espetáculo. Em 20 minutos, todos tinham sido vendidos”, frisa Felipe Zenicola. Foi a organização do festival, por sinal, que gravou o concerto e depois cedeu tudo para a edição do disco Free Baile, com o qual o Move fará uma turnê pela Europa.
O terceiro projeto envolve escolas. Com o nome Concertos Conversados, os músicos vão aos colégios, tocam e conversam com os alunos. “Podemos tocar um minuto, ou uma frase, e paramos para conversar”, conta Gibson. Os concertos são uma forma de aproximar os jovens da improvisação em jazz. “Queremos que eles estejam abertos para escutar músicas diferentes”, afirma.
Além da música, os Concertos Conversados são acompanhados pela bailarina Mariana Lemos. “Ela é uma dançarina e improvisadora da dança, o que combina com o nosso estilo”, avalia Zenicola. Mariana que também é idealizadora do projeto Free Baile, criou a Afará Realizações Artísticas, que busca inovar nas performances artísticas transdisciplinares, com improvisação e experimentação na forma como trabalha a relação entre música e dança.
Percursos
O Move junta músicos com histórias e tradições completamente diferentes. Zenicola veio do Rio de Janeiro. “Sou um tijucano. E a Tijuca tem uma tradição de música. Tim Maia e Roberto Carlos são de lá”, destaca. Ele começou nos teclados aos 10 anos. “Entrei na música por conta própria. Ouvia funk dos anos 90, como Jack o Matador. Aos 15 anos passei para o baixo elétrico. Nessa época, gostava de rock, de grupos como o Nirvana. Só 10 anos depois fui me interessar por jazz”, lembra.
O paulistano Gibson veio de outra linhagem. “Comecei no forró. Só me envolvi com o jazz quando me mudei para a Europa, 20 anos atrás. Estive em Londres e fui estudar composição contemporânea na Holanda, num conservatório em que Stockhausen e Schoenberg deram aulas”, afirma, citando dois dos mais importantes nomes da música contemporânea do século XX.
Quando chegou em Portugal, em 2019, Gibson tinha desistido de tocar. Foi morar perto de Sintra. Ali conheceu Valinho, que queria tocar com ele. “Quase parei de tocar. Vieram uns músicos do Canadá e pediram a bateria emprestada ao João. No final, ele perguntou se eu tocaria uma sessão com ele. Eu disse que estava cansado”, lembra Gibson.
Mas, segundo o saxofonista, Valinho insistiu. “Na terceira vez, eu disse: Traga a bateria aqui". Assim, no meio do nada, ao pé da máquina de lavar roupa, por um ano e meio, tocamos duas horas por dia, de segunda a sexta-feira. Foi assim que eu voltei para a música”, diz Gibson. Quando Zenicola chegou em Portugal, eles decidiram tocar juntos. E ensaiam pelo menos duas vezes por semana. “As pessoas pensam que improvisação é só sentar e tocar. Mas nós ensaiamos”, assegura o tijucano.