Banco Mundial arrecada 100 mil milhões de dólares para países mais pobres nos próximos três anos

A Associação Internacional de Desenvolvimento (AID) tornou-se o maior fornecedor de financiamento concessional para o clima, investindo 85 mil milhões de dólares a nível mundial nos últimos dez anos.

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Ajay Banga, presidente do Banco Mundial, explica como as mudanças na instituição permitirão alavancar as contribuições Nathan Howard / REUTERS
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O Banco Mundial angariou 23,7 mil milhões de dólares (cerca de 22,4 mil milhões de euros) para conceder empréstimos e subvenções a algumas das nações mais pobres do mundo, que podem ser catalisados para gerar um recorde de 100 mil milhões de dólares até meados de 2028.

O braço de empréstimos concessionais (a juros muito baixos) do Banco Mundial, conhecido como Associação Internacional de Desenvolvimento (AID), reuniu um valor recorde dos países doadores na sua 21.ª reposição trienal (IDA21, na sigla em inglês), o que representa um ligeiro aumento em relação aos cerca de 23,5 mil milhões de dólares prometidos durante a última ronda de angariação de fundos, há três anos.

O Banco Mundial poderá agora utilizar este dinheiro para emitir obrigações e utilizar outros mecanismos financeiros, multiplicando o montante angariado por cerca de quatro vezes, desbloqueando cerca de 100 mil milhões de dólares em novos empréstimos e subvenções, por comparação a 93 mil milhões de dólares em Dezembro de 2021.

Fatia para financiamento climático

O Banco Mundial fez o anúncio na sexta-feira, em Seul, durante a conferência de doadores da AID, instituição criada em 1960 que concede subvenções e empréstimos a juros muito baixos a 78 países com baixos rendimentos, uma tábua de salvação vital para as suas lutas contra dívidas esmagadoras, catástrofes climáticas, inflação e conflitos.

De acordo com uma carta assinada por Ajay Banga, presidente do Banco Mundial, a AID tornou-se o maior fornecedor de financiamento concessional para o clima, investindo 85 mil milhões de dólares a nível mundial nos últimos dez anos, mais de metade dos quais dedicados à adaptação climática, “protegendo as comunidades da subida do mar, construindo escolas resistentes ao calor e garantindo que os agricultores têm as sementes certas para as condições certas”.

A Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP29), que decorreu em Bacu, no Azerbaijão, em Novembro, terminou com um sabor amargo após a aprovação de um novo objectivo de financiamento climático de 300 mil milhões de dólares por ano (a atingir até 2035) a serem garantidos pelos países desenvolvidos, havendo ainda um objectivo de mobilização de 1,3 biliões de dólares por ano em que os bancos multilaterais de desenvolvimento desempenham um papel crucial, assim como o sector privado.

Mais contributos, mas dólar fraco

A conferência de doadores de dois dias ficou aquém do objectivo de 120 mil milhões de dólares que os chefes de Estado africanos tinham pedido, em parte porque a força do dólar americano — impulsionada pela vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos EUA diminuiu o valor em dólares dos aumentos significativos das contribuições em moeda estrangeira de vários países.

Na cimeira dos líderes do G20, realizada no Brasil em Novembro, a Noruega aumentou o seu compromisso em 50% a partir de 2021, para 5024 mil milhões de coroas (cerca de 428 mil milhões de euros). Este montante corresponde a 455 milhões de dólares às taxas de câmbio actuais, mas no início de 2024 teria valido 496 milhões de dólares.

A Coreia do Sul aumentou o seu compromisso em 45%, para 846 mil milhões de won (597 milhões de dólares, ou 560 milhões de euros), a Grã-Bretanha em 40%, para 1,98 mil milhões de libras (2,4 mil milhões de euros), e a Espanha em 37%, para 400 milhões de euros. O compromisso da Espanha valia 423 milhões de dólares na sexta-feira, menos 10 milhões de dólares do que no dia em que foi anunciado em Outubro.

O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, prometeu uma contribuição de quatro mil milhões de dólares, por comparação aos 3,5 mil milhões da ronda anterior, mas ainda não é certo que o valor seja aprovado pelo Congresso norte-americano.

Margem para aumentar

O Banco Mundial não revelou de imediato os montantes dos outros compromissos, mas afirmou que 17 países doadores se comprometeram a aumentar as suas contribuições em mais de 25%, tendo dez países oferecido aumentos de 40% ou mais.

O presidente do Banco Mundial, Ajay Banga, afirmou num comunicado que a AID poderá alargar ainda mais os novos compromissos devido ao trabalho realizado nos últimos dois anos para optimizar o balanço do financiador do desenvolvimento, aumentando a sua capacidade de empréstimo em cerca de 150 mil milhões de dólares ao longo de dez anos.

A capacidade do banco de alavancar as contribuições transformará “contribuições modestas em investimentos que mudarão vidas”, disse Banga numa carta aberta aos accionistas e aos países clientes.

Emprego e acção climática

Banga afirmou que os recursos permitirão ao banco colocar a criação de emprego no centro do seu trabalho, mesmo quando se debruça sobre as alterações climáticas e outras crises globais.

“Neste contexto, a AID não é apenas um instrumento financeiro; é um catalisador para a criação de emprego”, afirmou Banga. “Fornece aos países os recursos necessários para construir infra-estruturas, melhorar os sistemas de educação e de saúde e promover o crescimento do sector privado.”

Até hoje, cerca de 35 países passaram da Associação Internacional de Desenvolvimento para a posição de doadores, incluindo a China, a Coreia do Sul, o Chile, a Jordânia e a Turquia.