Um ciclone “arrasador” que fez 70 mortos no Norte de Moçambique

O distrito de Mecúfi, em Cabo Delgado, ficou quase todo destruído pela passagem do Chido. Em Cabo Delgado, Niassa e Nampula 36 mil casas foram destruídas. Situação dos deslocados agravou-se.

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O distrito de Mecúfi, onde o ciclone tocou terra em Moçambique, foi o mais afectado pela passagem do Chido Unicef Mozambique/Handout via REUTERS
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Mecúfi está irreconhecível. O distrito de Cabo Delgado onde o ciclone Chido tocou terra, depois de ter deixado um rasto de destruição e morte ainda não contabilizado nas ilhas francesas de Mayotte, a grande maioria das casas que não são de cimento foram arrasadas e parte das que o são ficaram sem telhado devido ao vento que chegou a soprar 260 quilómetros por hora, de acordo com o Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres moçambicano.

“Arrasador. O distrito de Mecúfi ficou arrasado. Praticamente 80% das casas das populações ficaram danificadas – 80% até é pouco, deve ser mais. Também as casas convencionais ficaram sem os tectos, as paredes permaneceram, mas os tectos voaram ou parte do tecto voou. E aqueles outros que ficaram sem nada mesmo. Então, é devastador”, disse à Lusa o bispo de Pemba, D. António Juliasse.

“Foi possível verificar que quase todas as infra-estruturas, seja a nível privado, seja as infra-estruturas do Governo, estão quase na sua totalidade destruídas, incluindo as casas da população de Mecúfi”, referiu Hélia Seda, gestora de projectos na Helpo em Moçambique, após visitar o distrito. A organização não-governamental para o desenvolvimento portuguesa, presente há muitos anos no país, lançou uma campanha de angariação de fundos para ajudar na recuperação das infra-estruturas e na ajuda às famílias que perderam tudo.

A última actualização feita pelas autoridades moçambicanas indica que o ciclone tropical intenso matou pelo menos 70 pessoas, provocou cerca de 600 feridos, danificou 36 mil casas e 48 unidades de saúde nas províncias de Cabo Delgado, Niassa e Nampula. Só no distrito de Mecúfi, em Cabo Delgado, morreram 50 pessoas. A província onde se trava uma guerra civil desde 2017 entre um grupo de insurgentes e o Exército moçambicano, ajudado por um contingente militar do Ruanda, tem uma grande população de deslocados por causa do conflito, parte dela a precisar de ajuda “urgente”.

De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), entre a população de deslocados há 190 mil a precisar de apoio imediato. Segundo a porta-voz desta agência da ONU, Eujin Byun, o Chido não só destruiu casas e desalojou milhares de pessoas. Também “danificou gravemente” as vias de comunicação, “dificultando os esforços de ajuda em áreas que já acolhem um grande número de deslocados” por causa do conflito.

“Anos de conflito, deslocações forçadas e dificuldades económicas deixaram as comunidades da região cada vez mais vulneráveis. Para muitas famílias deslocadas, o ciclone Chido causou novas dificuldades, destruindo o pouco que conseguiram reconstruir”, acrescentou Eujin Byun, citada pela Lusa.

Segundo o Gabinete para a Coordenação dos Assuntos Humanitários (OCHA) das Nações Unidas, na sua actualização de terça-feira do impacto do ciclone, que “todo o material médico se perdeu devido à exposição aos elementos. Há uma necessidade urgente de apoio para eliminar de forma segura estes medicamentos estragados, a fim de evitar o risco da sua utilização indevida”.