Palcos da semana: Alice, A Médica, O Virtuoso e Nouvelle Vague com magia
Vêm aí danças com Alice no País das Maravilhas, Neves-Neves a encenar Icke, um cientista-protagonista, música com 20 anos o Impossível ao Vivo.
Uma médica e um padre entram num dilema
Podia ser o início de um momento de humor, registo em que Ricardo Neves-Neves se tem movido agilmente. A verdade é que A Médica tem mais aparência de dilema moral e discussão filosófica. Mas já sabemos que, às mãos deste encenador, é preciso contar com algo para além do óbvio. Mesmo que a história seja a de uma profissional de saúde que proíbe um padre católico de entrar no quarto de uma adolescente que agoniza depois de um aborto que correu mal.
Se a polémica já estalava na peça escrita por Arthur Schnitzler em 1912 (apresentada na época como uma… comédia), nesta versão, actualizada por Robert Icke em 2019, ela escala para o volume das redes sociais. A médica e o religioso têm uma discussão que se torna viral. O efeito cascata é inevitável, assim como o confronto de cada um “com as suas próprias convicções morais, éticas e religiosas”, como sublinha a folha de sala, sem esquecer as consequências na prática.
Adriano Luz, Custódia Gallego, Eduarda Arriaga, Igor Regalla, Inês Castel-Branco, José Leite, Luciana Balby, Maria José Paschoal, Rita Cabaço, Sandra Faleiro e Vera Cruz compõem o elenco.
Levada à cena pelo Teatro do Eléctrico, a peça estreia-se em Lisboa já com récitas marcadas para o Cineteatro Louletano (20 a 23 de Fevereiro) e o Teatro Nacional de São João, no Porto (13 a 16 de Março).
Uma nova vaga com 20 anos
Há uns anos, não era comum ouvir tons de jazz e bossa nova a envolver de forma marota, festiva, desordeira e definitivamente dançante canções como Too drunk to fuck (Dead Kennedys), Blue monday (New Order) ou Heart of glass (Blondie). Há precisamente 20 anos, os franceses Nouvelle Vague começaram a fazê-lo em disco e a apurar a fórmula. É para assinalarem essa conta redonda que se põem em digressão.
Sete datas calham a Portugal, país onde há muito são habitués dos palcos – ainda em Agosto passaram por Paredes de Coura –, onde gravaram dois discos ao vivo e cuja música (dos anos 1980) até lhes inspirou um projecto à parte. Isto enquanto aproveitam para dar a conhecer Should I Stay or Should I Go?, o álbum que lançaram este ano. Nadéah Miranda, que já foi voz da banda, faz a solo a abertura dos concertos.
Maravilhas da quadra
Cartas dançantes, uma rainha tresloucada, um gato que ri, um chapeleiro louco, uma lagarta azul a cachimbar, um coelho atrasado e, claro, a menina curiosa que os foi encontrar, ao escorregar por um buraco para um mundo surreal. Estão todos na Alice no País das Maravilhas a que a Companhia Nacional de Bailado retorna nesta quadra.
O espectáculo, inspirado no conto de Lewis Carroll e dançado ao ritmo de Tchaikovsky (com arranjos de Carl Davis), regressa ao Teatro Camões, onde se estreou em Dezembro de 2021, com coreografia de Howard Quintero. A interpretação musical é da Orquestra Sinfónica Portuguesa, sob a batuta do maestro José Eduardo Gomes. Renê Salazar assina figurinos e cenário, enquanto Ernst Schießl trata do desenho de luz.
Parece impossível…
Já começa a ser uma tradição natalícia esperar pelo Impossível Ao Vivo no sapatinho. Ou na manga. Não é truque, mas uma receita de sucesso que tem esgotado salas desde 2018. Basta juntar cinco camaradas ilusionistas, cada um com a sua especialidade, e fazer magia.
Idealizado pelo “nosso” Luís de Matos, o espectáculo conta este ano com o “manipulador” espanhol Hector Mancha, o multitalento do argentino Rada, a comédia do dinamarquês Mortenn e o toque gótico do norte-americano Dan Sperry, além de Joana Almeida (assistente, bailarina e confidente de Matos) e o b-boying da Momentum Crew.
A Marionet e O Virtuoso
“É um novelo intrincado, o que se desenrola n’O Virtuoso, em que a novíssima ciência moderna se mistura com a antiquíssima ciência do amor”. É nestes termos que a Marionet descreve a peça que se prepara para estrear.
Saída da pena de Thomas Shadwell, dramaturgo inglês do século XVII, é uma sátira social que entrelaça um conjunto de desencontros amorosos com sentimentos menos nobres e com comportamentos como hipocrisia ou traição. Mas que também eleva um cientista – Sir Nicholas Gimcrack, O Virtuoso titular – à condição de protagonista.
A encenação é de Mário Montenegro, que dirige a companhia e que aqui também se encarrega da tradução, além de integrar o elenco ao lado de mais 12 actores.