Turistas brasileiros relatam sensação de insegurança em área central de Lisboa

A sensação de insegurança relatada por turistas brasileiros na região do Cais do Sodré é reforçada por trabalhadores que, diariamente, presenciam tumultos provocados por grupos suspeitos.

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Cais do Sodré: frequentadores cobram policiamento mais presente à noite na região Felipe Eduardo Varela
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A histórica zona do Cais do Sodré, em Lisboa, tem sido marcada por um clima crescente de insegurança, com relatos de criminalidade e movimentações de grupos suspeitos. Na última terça-feira, 3 de dezembro, por volta das 22h30, turistas brasileiros que frequentavam o local presenciaram um episódio que evidencia a tensão cotidiana naquela área.

Ceniclei Silva, que trabalha na região, descreve o cenário recorrente: “A polícia chega, eles fogem. Em 10 minutos, estão de volta. É uma rotina. Isso acontece quase todo dia, mas, de quinta a sábado, é pior, fica perigoso para quem trabalha ou circula por aqui”. Procurada, a Polícia de Segurança Pública (PSP) não respondeu aos pedidos de entrevista do PÚBLICO Brasil.

Os turistas Júlia Pereira e José Godoy, que estavam juntos na região, viveram momentos de nervosismo ao cruzarem com grupos suspeitos na esquina da Rua dos Remolares com a Travessa dos Remolares. “Parecia um confronto de gangues, eram uns 20. Um dos homens bateu com uma garrafa de vidro no chão, dando um sinal de alerta, bem ao nosso lado, e achamos que seríamos cercados", diz Godoy.

Segundo ele, foi como "no videoclipe do Michael Jackson, Beat It", com dezenas de pessoas vestindo roupas pretas paradas esperando algo acontecer. "Achei que seria uma briga, alguns subiram correndo a Travessa do Alecrim para se esconderem da polícia”, afirma.

Júlia ficou particularmente surpresa com aquela situação: “Esperava algo assim no Rio de Janeiro, onde moro, mas nunca em Lisboa. A gente tem essa impressão de que está em um país de primeiro mundo e seguro. Foi um choque”. No fim de maio último, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, reuniu-se com a ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, para pedir reforço policial na região central da capital portuguesa. Segundo ele, se vive "um momento difícil em Lisboa", pois "há uma percepção" de que "existe menos segurança na cidade".

Sensação de abandono

Godoy lembra um episódio similar que presenciou no início do ano na mesma área. “Vi um homem caído no chão, em um confronto que parecia de gangues, ao lado da Praça São Paulo. Foi muito marcante, e revivi esse sentimento de insegurança na terça-feira à noite”, ressalta. O casal acredita que situações como essa afetam a percepção de Lisboa como um destino seguro, especialmente, para quem visita a cidade pela primeira vez, como é o caso de Júlia.

Frequentadores locais e trabalhadores apontam a presença constante de pessoas oferecendo drogas e o aumento de tumultos nas ruas. Ceniclei observa que a ação da polícia deveria ser mais frequente. “Eles sabem quando a polícia vai passar, e voltam logo depois. Isso cria uma sensação de abandono para quem vive e trabalha aqui”, lamenta. Segundo ele, a situação agrava-se nos fins de semana, quando o fluxo de turistas aumenta.

Para Júlia, o problema não é apenas a falta de policiamento, mas a ausência de um plano mais amplo de revitalização urbana. “É decepcionante ver um lugar tão importante como o Cais do Sodré em um estado tão vulnerável. Poderia ser um espaço vibrante e seguro para turistas e moradores, mas a insegurança afasta as pessoas”, diz.

Esse texto foi atualizado para incluir a informação sobre a preocupação do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, com a percepção de insegurança na região central de Lisboa.

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