Partidos de direita na Irlanda viram-se para os deputados independentes para formar governo

Fianna Fáil e Fine Gael precisam de mais dois deputados para a maioria parlamentar, depois das eleições da semana passada. Trabalhistas e sociais-democratas discutem se devem entrar na coligação.

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Fianna Fáil, partido de Micheál Martin, antigo primeiro-ministro irlandês, elegeu o maior número (48) de deputados nas eleições da semana passada Damien Eagers / REUTERS
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Os dois principais partidos do centro-direita na República da Irlanda, o Fianna Fáil e o Fine Gael, reúnem nesta quarta-feira os respectivos grupos parlamentares para que estes autorizem os seus líderes a encetar negociações tendo em vista a formação de mais um governo de coligação.

Nas eleições legislativas realizadas na sexta-feira da semana passada, o Fianna Fáil conseguiu eleger 48 deputados, o maior número de membros no Dáil Éireann, a câmara baixa do Parlamento irlandês, com 174. Já o Fine Gael, do primeiro-ministro, Simon Harris – que foi quem convocou a votação antecipada –, ficou-se pelos 38 membros, em terceiro lugar.

Tendo já assumido, durante a campanha e depois das eleições, que vão voltar a deixar cair a rivalidade histórica e que pretendem coligar-se mais uma vez, os dois partidos precisam de mais dois deputados para alcançar o “número mágico” da maioria: 88.

Uma vez que o Partido Verde, que fazia parte da coligação que governou a Irlanda entre 2020 e este ano, só elegeu um deputado nestas eleições, Fianna Fáil e Fine Gael estão à procura de outras alternativas no Dáil Éireann.

De fora destas contas estão os nacionalistas de esquerda do Sinn Féin. O antigo braço político do Exército Republicano Irlandês (IRA) alcançou 39 deputados, mais um do que o Fine Gael, mas a direita continua a tratá-lo como um partido “pária”, por causa das ligações dos seus antigos dirigentes ao terrorismo na guerra civil do século passado na Irlanda do Norte.

Ao mesmo tempo, acusam o partido de Mary Lou McDonald de populismo.

Partido Trabalhista e Sociais-Democratas, ambos de centro-esquerda, elegeram 11 deputados cada e poderiam, em teoria, ter boas possibilidades de entrar numa coligação com os partidos do centro-direita. Mas a quantidade de “linhas vermelhas” que Fianna Fáil e Fine Gael lhes devem exigir estão a provocar discussões profundas e tensas dentro desses mesmos partidos sobre o caminho a seguir.
Uma fonte dos Sociais-Democratas ouvida pelo Irish Times revelou que o partido, que se reuniu na terça-feira, teme que as exigências da direita o deixem numa posição insustentável perante os seus eleitores.

Uma outra fonte, do Partido Trabalhista, afirmou: “Trabalhámos durante demasiado tempo e com demasiado esforço para chegarmos a este ponto, em que somos novamente uma força política viável, para entrarmos [num Governo] e vermos tudo isso destruído num par de anos.”

Do ponto de vista de Fianna Fáil e Fine Gael, existe ainda uma hipótese de coligação com a Irlanda Independente, uma plataforma conservadora formada no ano passado para ser uma alternativa aos dois principais partidos daquele espaço político, que elegeu quatro deputados na sexta-feira.

Ainda assim, Fianna Fáil e Fine Gael parecem decididos em apostar as suas fichas para convencer alguns dos 16 deputados independentes eleitos na sexta-feira a apoiarem o próximo Governo, nomeadamente através de acordos de incidência parlamentar.

Segundo o Irish Independent, nomes como Seán Canney, Michael Lowry, Noel Grealish, Marian Harkin, Verona Murphy e Carol Nolan agradam às direcções dos dois partidos, que devem começar rapidamente as negociações depois de devidamente autorizadas pelos seus grupos parlamentares.

“O preço que o Partido Trabalhista quer cobrar ao Fine Gael e ao Fianna Fáil não é algo que nenhum de nós esteja disposto a aceitar, tendo em conta o número de lugares [que temos no Parlamento]”, exemplificou uma fonte do Fine Gael ao Independent. “Só há um espectáculo na cidade [show in town, no original] e é o dos independentes.”

A par da composição da nova coligação de Governo para República da Irlanda, existe muita curiosidade para perceber quem a vai liderar.

Após as últimas eleições, realizadas em 2020, Micheál Martin, líder do Fianna Fáil, assumiu o cargo de taoiseach (primeiro-ministro) entre 2020 e 2022, e Leo Varadkar, na altura líder do Fine Gael, liderou o executivo nos dois anos seguintes, antes de ter sido substituído por Simon Harris, em Abril.

Desta vez, porém, o Fianna Fáil tem mais dez deputados que o partido do ainda primeiro-ministro, pelo que Martin pode ser pressionado internamente a não dividir a chefia do Governo ou, mesmo que o faça, a exigir mais pastas ministeriais para membros do seu partido.

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