Carta Aberta: e a Cultura é estúpida?

Estamos a viver um ciclo de abandono das artes performativas que se tem concentrado em exonerações e mudanças de chefia.

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A ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, na Assembleia da República ANTóNIO PEDRO SANTOS/lusa
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Estúpida (adj. fem.): Que não tem ou não desperta interesse.

É agora que devemos falar? É.

O desapego e desinteresse pelas artes performativas demonstrados pelo Ministério da Cultura até ao momento têm acentuado a crónica incerteza e instabilidade no setor artístico. O recuo no orçamento da cultura para as artes performativas ou as exonerações em equipamentos centrais para o meio (o exemplo mais recente é a exoneração da Presidente do CCB, Francisca Carneiro Fernandes) afetam redes de cooperação nacionais e internacionais essenciais para a manutenção de estruturas artísticas precárias. A isto se junta a especulação sobre a exoneração da direção da Direção-Geral das Artes (DGArtes), um organismo que tem sofrido profundas mudanças e que beneficia com a estabilidade. Por mais garantias contraditórias que nos vai dando, o que pretende a ministra da Cultura?

Esta indefinição afeta desde logo as estruturas quadrienais que continuam sem saber se o decreto-lei nº 47/2021, que regula a possibilidade de renovação dos apoios quadrienais, aprovado pelo Governo anterior, será cumprido. Acresce que à data, tirando os concursos que ainda decorrem nos moldes definidos pelo Governo anterior, o orçamento aprovado para estas artes é bastante menor do que o dos anos anteriores. Além disso, o fim dos concursos previstos na declaração anual da DGArtes, como “Arte pela Democracia”, “Arte e Coesão Territorial, “Rede Portuguesa de Arte Contemporânea”, leva-nos a reconhecer que o atual Governo e o seu Ministério da Cultura claramente trabalham para uma desvalorização das artes performativas, recuando no crescimento que estava em curso.

É agora que devemos falar.

Menos orçamento, menos estabilidade, mais desconhecimento, mais fragilidade. Ao abandono orçamental, ao desamparo legal, ao desconhecimento processual, à instabilidade laboral (das chefias e artistas) acresce a desqualificação de quadros de direção de equipamentos fundamentais para a colaboração com as artes performativas contemporâneas, festivais, estruturas e artistas. Notamos um desinteresse por parte da ministra da Cultura em dialogar com tutelas de equipamentos estatais (o conselho de administração do TNDMII está em gestão há um ano e com um vogal em falta…) ou conhecer no terreno a realidade das múltiplas atividades culturais que, no momento, encontram na DGArtes um interlocutor que não se pode comprometer.

É agora que devemos falar.

Estamos a viver de novo um ciclo de abandono das artes performativas que se tem concentrado em exonerações e mudanças de chefia. Mas não nos deixemos enganar. Este é um trajeto de terraplanagem de um setor de arte contemporânea que nos compete proteger. Exigimos que se garanta a independência de missão e programa dos equipamentos e organismos (presidentes e administrações) sem interferência dos gostos e interesses do Estado.

É agora que devemos falar. É agora que temos de nos manifestar.

Queremos respostas e visibilidade para o setor. Haverá estabilidade na direção da DGArtes? Manter-se-á o seu diretor? Porque há diminuição do orçamento para as artes performativas? Quando voltará a aumentar? Respeitar-se-á o decreto-lei nº 47/2021? Serão nomeadas chefias com qualificações condizentes com a missão de apoio às artes contemporâneas? Qual o rumo?

Se o Ministério, até ao momento, não manifestou interesse em ouvir o setor, os seus profissionais e as suas estruturas, é agora que devemos falar.

Recusamos ser a cultura estúpida.

Subscrevem:

André e. Teodósio ator e encenador Teatro Praga
Diogo Bento ator Teatro Praga
Cláudia Jardim atriz e encenadora Teatro Praga
José Maria Vieira Mendes dramaturgo e escritor Teatro Praga
Olga Roriz coreógrafa e bailarina Companhia Olga Roriz
David Cabecinha co-diretor Festival Alkantara
Henrique Amoedo coreógrafo e programador Dançando com a Diferença
Paula Sá Nogueira atriz e encenadora Teatro Cão Solteiro
Mariana Sá Nogueira figurinista Teatro Cão Solteiro
Zia Soares atriz e encenadora Teatro Griot
Francisco Camacho coreógrafo Eira
José Laginha director artístico Devir - Centro de Artes Performativas do Algarve
Vera Mantero bailarina e coreógrafa Rumo do Fumo
Patrícia Portela encenadora Prado
Carlos Costa encenador Visões Úteis
Beatriz Batarda atriz
Martim Sousa Tavares maestro
Lena D’Água cantora
João Fiadeiro coreógrafo
Clara Andermatt coreógrafa
Sérgio Godinho compositor
Ana Zanatti atriz e escritora
Joana Barrios encenadora e atriz
Filipe Raposo compositor
João Costa professor universitário
Cristina Carvalhal encenadora e atriz
João Reis ator
Marco Martins encenador e realizador
Cláudia Varejão realizadora
Diana Niepce coreógrafa
André Guedes artista plástico
Vitor Hugo Pontes coreógrafo
Nuno Baltazar criador de moda
Flávia Gusmão encenadora e atriz
Cristina Planas Leitão programadora e coreógrafa
Isabel Abreu atriz
Paula Cardoso fundadora Afrolink
Filipa Francisco coreógrafa
Mónica Garnel atriz
Marco Paiva encenador e ator
Vanda Rodrigues direção artística Antípoda Associação Cultural
Sara Carinhas encenadora e atriz
Rira Maria cantora
Marco Paiva ator e encenador Terra Amarela
Raimundo Cosme ator, encenador e dramaturgo Plataforma 285
Cecília Henriques atriz Plataforma 285
Filipe Sambado compositor
Raquel Bravo produtora cultural Plataforma 285
Mariana Sá Marques assistente de produção Plataforma 285
Paula Diogo encenadora e atriz
Luísa Cruz atriz
Alex D’Alva Teixeira músico
Paula Diogo atriz e encenadora Má Criação
Miguel Moreira encenador Útero - Associação Cultural
José Laginha programador e coreógrafo
Sandra Rosado bailarina
David Mesquita ator
Emília Silvestre atriz
Álvaro Correia encenador e ator
Miguel Moreira encenador e ator
Graça Santos ilustradora
João Godinho músico
Carlos Costa encenador e ator
André Godinho realizador
Ricardo Teixeira ator e encenador Silly Season
Filomena Gigante atriz
João Castro atriz
Ana Nave atriz
Cucha Carvalheiro atriz
Romeu Costa ator
Nuno Aroso músico
Paulo Lourenço maestro
Sofia Dias coreógrafa
Vitor Roriz coreógrafo
Pedro Almendra ator
João Maria Lopes Camilo da Silva Raposo músico
Bernardo Monteiro figurinista
Catarina Rolo Salgueiro atriz
Manuel Neves Lourenço cantor
Luis Vieira diretor artístico da Tarumba e FIMFA LX - Festival Internacional de Marionetas e Formas Animadas
Rute Ribeiro diretora artística da Tarumba e FIMFA LX - Festival Internacional de Marionetas e Formas
Rui Pina Coelho dramaturgo
Pedro Faro curador e historiador de arte
Francisco de Assis Braamcamp Ramires de Eça Pinheiro músico
Ana Vaz figurinista
Marina Nabais coreógrafa
Miguel Ramos confederação
Julieta Guimarães programadora e gestora cultural
Matilde Seabra mediação de públicos e programadora cultural
Rosário Melo atriz
Maria Gambina designer de moda
Dori Negro criador e arte educador
Joana Seixas atriz
Marta Freitas atriz, dramaturga, encenadora
Anabela Moreira atriz
Clara Nogueira atriz
David Salvado ator
João Oliveira bailarino

Esta Carta Aberta poderá ser subscrita neste link, tendo seguido igualmente para a ministra da Cultura, Dra. Dalila Rodrigues, para o primeiro-ministro, Luís Montenegro, e para o Presidente da República, Dr. Marcelo Rebelo de Sousa

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