Todas as semanas, os cães Zazu e Heartie visitam doentes nos cuidados paliativos do IPO do Porto

Os cães de assistência são presença assídua no hospital desde Outubro. Entre mimos e biscoitos, roubam sorrisos a utentes, familiares e profissionais de saúde, e ajudam a combater a solidão.

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Utentes do IPO e familiares dizem que a visita dos cães ajuda a minimizar o sofrimento ESTELA SILVA / LUSA
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Heartie e Zazu vão ao hospital desde Outubro ESTELA SILVA / LUSA
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São cães de assistência da associação Ânimas ESTELA SILVA / LUSA
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Os animais também visitam escolas e outros hospitais do Porto ESTELA SILVA / LUSA
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Zazu com um dos utentes em internamento do IPO do Porto ESTELA SILVA / LUSA
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Desde Outubro que os doentes em cuidados paliativos do Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto recebem a visita semanal de dois cães de intervenções assistidas, um apoio que utentes, familiares e profissionais garantem ajudar a minimizar o sofrimento.

Zazu, um golden retriever de três anos, e Heartie, um border collie de 22 meses, acompanhados respectivamente pelos tutores Catarina Cascais e Abílio Leite, são os protagonistas deste serviço disponibilizado pela Associação Ânimas, e cuja presença se sente nos corredores do IPO.

Com projectos noutras unidades de saúde do Porto e também em escolas, a associação forma cães de assistência para pessoas com deficiência que se candidatem a este auxílio, sendo que estes, terminada a formação, são entregues gratuitamente aos novos donos.

Segundo Catarina Cascais, a visita dos cães a doentes oncológicos procura, entre outras coisas, deixar o ambiente mais relaxado. "É tentar promover a qualidade de vida das pessoas, diminuir a ansiedade e a sintomatologia depressiva, melhorar o relacionamento interpessoal, quer entre utentes quer entre profissionais de saúde e familiares. Reduzir, de alguma forma, a sensação de solidão e trazer um bocadinho de bem-estar e de conforto", afirma.

"O que os cães fazem é dar muito amor e fazer com que as pessoas vivam aquele momento e que durante um bocado se esqueçam da situação em que se encontram", acrescenta.

Já acerca do retorno, principalmente dos doentes, a tutora garante existir "uma gratidão envolvida que é muito grande e genuína" e diz que conseguem "trazer emoções positivas, sorrisos, bem-estar e conforto que faz toda a diferença".

Sónia Castro, responsável pela equipa de Psicologia do hospital, recorda testemunhos de doentes e de familiares para destacar "que é extremamente tranquilizador e até enriquecedor" o contacto com os cães.

"O contacto com os animais activa no nosso cérebro os sistemas de tranquilidade e de prazer e, portanto, é visível o benefício que os doentes e familiares têm com esta experiência", frisa a especialista. A visita é igualmente positiva para os doentes saírem um pouco do quarto, conversarem sobre as vivências familiares, os animais de companhia, e quebrar o isolamento.

"Os ganhos são visíveis nas horas seguintes [à visita dos animais], mas vai ficando a vontade de voltar na semana seguinte, o que em termos de objectivos de vida e de sentido de vida, ajustado à realidade dos doentes nesta fase, pode ser muito importante haver alguma projecção no futuro a breve prazo", destaca.

Débora Filipe, coordenadora da actividade, assegura ainda que os níveis de stress, insónia e de dor normalmente associados ao internamento diminuem "após a interacção com estes animais".

"Eles já agendam mentalmente que na semana seguinte os cães voltam e vêm esta actividade como um objectivo e um sentido de vida, sendo que muitas delas têm internamentos muito prolongados", afirma a médica.

Os profissionais da saúde, revela, também "relatam níveis de bem-estar e de satisfação" na interacção com o resto da equipa clínica, situação que diz estar a ser "muito positiva para todos".

Ermelinda Pereira, doente oncológica, foi a primeira a brincar com o Zazu. O cão saltou-lhe para o colo à espera dos biscoitos que os tutores entregam aos doentes para fomentar a interacção com os animais, acompanhadas de palavras de estímulo.

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Estela Silva/Lusa
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Zazu durante a visita ao IPO do Porto Estela Silva/Lusa

"Fico mais bem-disposta. Eu gosto de os ver. Eu agora é que não posso, porque quando eu tinha força consolava-me de vir aqui e estar um bocado grande com eles a brincar", recorda a idosa.

Minutos depois de se ter emocionado com a chegada de Zazu e Heartie, Maria Oliveira, esposa de um doente oncológico, explica que foi a primeira vez que participou no projecto e que a razão das lágrimas prende-se com outro cão.

"Eu tenho um cão pequenino e quando o meu marido adoeceu pela segunda vez, há uns meses, ele deixou de comer e de andar, tal como o meu marido. Esta ligação espiritual entre o cão e o homem é fabulosa", sublinha.

De seguida, acompanhou as duplas de assistência aos quartos para levar os cães ao marido. "É um dia com mais alegria e mais esperança. Espero."