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Bancos brasileiros podem entrar na disputa pelo controle do Novo Banco em Portugal
Segundo especialistas, BTG Pactual, Itaú, Bradesco, XP ou uma associação de bancos menores têm condições de entrar na corrida pelo controle da instituição portuguesa, que deve ser vendida em 2025.
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Prevista para 2025, a venda de 75% do capital da instituição financeira portuguesa Novo Banco, participação acionária que pertence ao fundo norte-americano Lone Star, pode ser a porta de entrada para um banco brasileiro no mercado de varejo de Portugal. Um dos principais interessados seria o BTG Pactual, que foi autorizado pelo Banco de Portugal a operar em território luso em janeiro de 2024.
Segundo especialistas ouvidos pelo PÚBLICO Brasil, está em jogo a possibilidade de se controlar uma instituição com forte atuação junto a pequenas e médias empresas e com quase 10% dos depósitos totais do sistema financeiro do país. O Novo Banco se refere à parte boa do que sobrou da quebra do Banco Espírito Santo (BES).
Para o empresário Carlos Osório, a compra do Novo Banco por uma instituição brasileira pode ser o caminho. “É uma das maiores oportunidades maduras (do mercado português). Acho que o sistema financeiro brasileiro precisa enxergar essa oportunidade”, afirmou durante a palestra Brasil-Portugal: perspectivas de futuro, organizada pela Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa do Rio de Janeiro (CCIPRJ) na Universidade Lusófona do Porto.
Ele explicou algumas das vantagens de se ter uma operação de varejo na Europa. “Hoje, todos os grandes bancos do Brasil já têm operações em Portugal, cuidando dos investimentos brasileiros na Europa, mas ainda é (uma presença) menor do que poderia ser. As praças de Londres, de Frankfurt e, agora, de Luxemburgo têm participação grande de investimentos brasileiros, mas a demanda por Portugal é crescente”, ressaltou.
Na avaliação de Osório, praticamente todos as grandes instituições financeiras privadas brasileiras estão em condições de disputar o controle do Novo Banco. “O Brasil tem um sistema financeiro sólido, muito sofisticado, com atuação bastante agressiva. Todos os grandes bancos operam em Portugal, o Itaú, o Bradesco e o BTG, principalmente, como banco de investimentos. Poderia ser a XP, uma casa de investimentos, caso queira entrar no mercado bancário europeu, ou mesmo uma associação de bancos brasileiros de menor dimensão”, assinalou.
Alternativa aos espanhóis
O economista José Marques da Silva, presidente do Comitê de Economia da CCIPRJ, vê vantagens na aquisição do Novo Banco por uma instituição brasileira. “Creio que seria um excelente negócio. Vejo com muito bons olhos no sentido de apoiar o relacionamento entre Brasil e Portugal. Acredito que haverá candidatos de outros países”, comentou.
Marques da Silva, que é professor de economia e há 30 anos pesquisa o sistema financeiro, avalia os nomes que já apareceram como potenciais interessados no Novo Banco. Entre os portugueses, está o Millennium BCP, que detém cerca de 17% dos depósitos totais do sistema. “Nesse caso, poderia haver problemas de concentração do mercado”, destacou.
Também é visível o interesse de espanhóis pela instituição portuguesa. “Neste momento, perto de 40% do sistema bancário português estão sob controle de bancos espanhóis. Se tirarmos a Caixa Geral de Depósitos, que é um banco público, os espanhóis passam a deter quase 60% dos depósitos”, contabilizou o professor. Atualmente, há quatro bancos espanhóis atuando no varejo no mercado português
Para o economista, diante desse retrato do mercado, pode haver uma vontade política que favoreça os brasileiros na corrida pelo Novo Banco. “Acredito que o governo português veria com muito bons olhos uma maior diversidade no mercado, uma vez que os bancos espanhóis detêm 40% dos depósitos. Até do ponto de vista estratégico, faria todo sentido que aparecesse um banco brasileiro, pois haveria mais competição”, disse.
Sinergia de negócios
Segundo o economista Eduardo Velho, da Equador Investimentos, a compra do Novo Banco por uma instituição financeira do Brasil é um caminho natural, diante do fluxo cada vez mais maior de brasileiros para Portugal, seja para morar, seja para trabalhar, estudar ou mesmo para investir em um negócio. "Além das oportunidades do mercado bancário, é uma forma de ter presença em uma região de moeda menos volátil, economia mais estável e com perspectiva de atuação em toda a Europa", assinalou.
Velho afirmou, ainda, que, entre os bancos brasileiros, o que teria mais sinergia para comprar o Novo Banco neste momento seria o BTG Pactual, que já administra ativos imobiliários de 320 milhões de euros (R$ 2 bilhões) em Portugal e, no seu plano de negócios, prevê ampliar essa carteira para 1 bilhão de euros (1 mil milhões de euros ou R$ 6,3 bilhões) em toda a Europa.
No entender de Ricardo Rocha, economista e professor da escola de negócios Insper, a oferta do Novo Banco é uma grande oportunidade para uma instituição financeira do Brasil entrar no mercado português. “Obviamente, o foco não será apenas a comunidade brasileira, que vem crescendo muito, mas todos negócios que sejam rentáveis”, ressaltou.
Salvo da falência
Além dos 75% que o fundo Lone Star detém do capital do Novo Banco, 25% estão de posse do governo português, que injetou recursos na parte boa do que sobrou do Banco Espírito Santo.
Quando quebrou, o BES foi dividido em dois. A parte boa foi vendida, em 2017, ao fundo de private equity norte-americano por 1 bilhão de euros (1 mil milhões de euros ou R$ 6,3 bilhões). O Fundo de Resolução, controlado pelo Estado português, mas com verbas dos bancos, ficou com 13,54% do capital, e o Governo, com 11,46%.
A parte podre do Banco Espírito Santo deixou dívidas superiores a 10 bilhões de euros (10 mil milhões de euros ou R$ 63 bilhões). Esse sistema de divisão do BES foi semelhante ao usado pelo Brasil na segunda metade dos anos de 1990 para socorrer bancos em dificuldades e evitar a ruína do mercado, o Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro (Proer).