Joe Biden inicia visita a Angola com verbas em carteira

Grande foco da viagem de três dias incide sobre Corredor do Lobito. Presidente João Lourenço diz que Biden vai “abrir o caminho do investimento privado americano a Angola”.

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Encontro do Presidente dos EUA Joe Biden com o primeiro-ministro de Cabo Verde Ulisses Correia e Silva, na manhã desta segunda-feira, no aeroporto Internacional Amilcar Cabral , antes de partir para Angola Elizabeth Frantz / REUTERS
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O Presidente norte-americano, Joe Biden, inicia esta segunda-feira uma visita de três dias a Angola, na qual deverá fazer vários anúncios sobre o Corredor do Lobito, mas também em áreas como saúde, segurança alimentar ou agro-negócio.

"Um conjunto desses anúncios será sobre o Corredor do Lobito. Mobilizámos milhares de milhões de dólares para esse projecto até agora, podem imaginar que o Presidente vai envolver-se com vários componentes desse esforço de infra-estrutura e os elevará", disse aos jornalistas a assistente especial de Biden e directora de Assuntos Africanos no Conselho de Segurança Nacional norte-americano, Frances Brown, na semana passada, durante um encontro com a imprensa para antecipar as prioridades da visita que decorre até quarta-feira.

O grande foco da viagem, que esteve prevista para Outubro, mas acabou por ser adiada para agora, estará então no Corredor do Lobito, uma infra-estrutura ferroviária que liga Angola às zonas de minérios da República Democrática do Congo (RDC) e da Zâmbia e na qual os Estados Unidos são “realmente um membro importante”, especialmente para a segunda fase do projecto, disse a coordenadora da Parceria para Infra-estrutura e Investimento Global (PGI) no Departamento de Estado norte-americano, Helaina Matza, no mesmo encontro com os jornalistas.

Esta fase inclui a construção de 800 novos quilómetros na linha ferroviária que atravessa Angola, Zâmbia e a RDC, que se somarão aos 1.300 já existentes e que estão a ser renovados, lembrou Matza.

Biden deverá também fazer anúncios relacionados com a segurança global da saúde, segurança alimentar e agro-negócio, e ainda um "anúncio importante sobre cooperação no sector de segurança" e "sobre a preservação da rica herança cultural de Angola".

Em 2023, o comércio entre Estados Unidos e Angola totalizou aproximadamente 1,77 mil milhões de dólares (1,69 mil milhões de euros), o que tornou Angola no quarto maior parceiro comercial de Washington na África Subsaariana. "Vemos Angola como um parceiro estratégico e um líder regional. O nosso relacionamento com Angola transformou-se completamente nos últimos 30 anos, e essa transformação ganhou ritmo nos últimos três anos", assinalou Frances Brown.

Nesse sentido, a directora de Assuntos Africanos resumiu a viagem de Biden a Angola a três objectivos: "elevar a liderança dos EUA em comércio, investimento e infra-estrutura em África"; destacar a "liderança regional e a parceria global de Angola num espectro completo de questões urgentes, incluindo comércio, segurança e saúde"; e, por último, destacar a "notável evolução do relacionamento EUA-Angola".

Do lado angolano, o Presidente João Lourenço salientou a importância da visita não só em termos de investimentos, mas também em investimentos fora do tradicional sector petrolífero. “O Presidente Joe Biden vem abrir o caminho do investimento privado americano a Angola; até aqui, o que nós temos vindo a verificar ao longo de décadas é que o investimento americano em Angola está mais virado para o sector petrolífero e esperamos que com esta visita haja uma maior diversificação do investimento privado americano em Angola”, frisou numa entrevista ao The New York Times.

Questionado se a saída de Biden tira algum significado a esta visita, João Lourenço rejeitou esta tese, “porque até ao dia 20 de Janeiro do próximo ano, o Presidente americano é o Presidente Joe Biden”, além de que “nas relações entre Estados pode haver mudanças das pedras no tabuleiro do xadrez, mas quando as relações são entre Estados elas têm, em princípio, a garantia de continuidade”.

“Não estamos preocupados com o facto de o Presidente Joe Biden estar em fim de missão”, disse, sublinhando que a partir de Janeiro não apenas Angola, mas o resto do mundo vai ter que trabalhar com Donald Trump “se quiser manter relações com os Estados Unidos da América”, escusando-se a comentar a futura relação de Donald Trump com África e as suas políticas.