Em reunião com Portugal, Brasil quer derrubar barreiras na educação e na mobilidade

Cimeira entre os dois países está marcada para fevereiro. Como anfitrião, governo brasileiro prepara lista de demandas para Portugal, que vão do reconhecimento de diplomas a acordos na área espacial.

Foto
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o primeiro-ministro de Portugal, Luís Montenegro, têm reunião marcada para fevereiro de 2025 Rui Gaudêncio
Ouça este artigo
00:00
04:43

Os artigos da equipa do PÚBLICO Brasil são escritos na variante da língua portuguesa usada no Brasil.

Acesso gratuito: descarregue a aplicação PÚBLICO Brasil em Android ou iOS.

Brasil e Portugal já preparam a lista de demandas que serão apresentadas na reunião de cúpula marcada para fevereiro de 2025, em Brasília. Os dias do encontro entre os dirigentes dos dois países ainda não foram definidos, mas os pedidos de um lado e do outro estão se acumulando nos encontros preparatórios. Como anfitrião, o governo brasileiro espera avançar em temas considerados vitais, como educação, sobretudo, no que se refere à validação de diplomas, e mobilidade, pois são muitas as queixas sobre como os cidadãos que desembarcam em Portugal têm sido tratados, mesmo estando com vistos de trabalho ou de estudantes.

Segundo diplomatas consultados pelo PÚBLICO Brasil, a ordem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é correr com as reuniões temáticas, que envolvem vários ministérios, para fechar os temas que serão apresentados ao primeiro-ministro de Portugal, Luís Montenegro, com quem o líder brasileiro já conversou sobre a importância do estreitamento dos laços entre os dois países. A Cimeira Luso-Brasileira deveria ter acontecido neste ano, mas uma série de eventos acabaram por postergá-la, como as eleições em Portugal, as disputas municipais no Brasil e, sobretudo, a reunião de cúpula do G20, ocorrida no Rio de Janeiro.

“Portanto, agora, temos de correr para que todos os temas de discussão entre Brasil e Portugal sejam fechados a tempo”, afirma um diplomata brasileiro, que tem ótima interlocução com os pares portugueses. Segundo ele, é de interesse do presidente Lula que se avance em relação ao que foi acordado em 2023, quando mais de uma dezena de tratados foram assinados. “O presidente Lula acredita que o Brasil pode oferecer mais a Portugal, assim como Portugal pode oferecer mais ao Brasil. Além de educação e mobilidade, os acordos devem avançar para as áreas espacial, de saúde, de energia, de tecnologia e ciência e, claro, na economia”, frisa.

Investimentos brasileiros

O governo brasileiro vê, com enorme satisfação, os investimentos feitos por empresários do Brasil em Portugal. Na avaliação do presidente Lula, era incompreensível que, com tantas oportunidades, o capital nacional não se interessasse em atravessar o Atlântico de olho no mercado europeu, com seus mais de 500 milhões de habitantes. Lula, acrescentam os diplomatas, deseja que o interesse por Portugal também se dê entre os bancos brasileiros, ainda com atuação muito tímida em território luso.

O próprio Banco do Brasil, no entender do presidente e de integrantes do Itamaraty, vem desprezando a força que a comunidade brasileira imprimiu na economia lusa. Pelos dados oficiais, referentes ao final de 2023, há 513 mil brasileiros em Portugal. Outros 200 mil estão à espera de documentação e há pelo menos 200 mil luso-brasileiros vivendo no país. “Estamos falando de quase 1 milhão de pessoas, cerca de 10% da população de Portugal”, diz outro diplomata. “Isso não pode ser ignorado por bancos e empresas brasileiras”, acrescenta.

Visita de Estado

Das subcomissões criadas pelo Brasil para definir os temas a serem discutidos com o governo português, a mais avançada é a da Ciência e Tecnologia. “Portugal se tornou um hub importante para startups, e o Brasil tem muito interesse em incrementar esse segmento”, assinala esse segundo diplomata. Ele chama a atenção para a recente participação do país no Web Summit. Apenas a comitiva liderada pela Agência para Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) e pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) tinha 400 empresas — um recorde.

Temas mais delicados como a violência contra mulheres também estarão na pauta da reunião de cúpula, ressaltam os diplomatas. No entender deles, por mais que se tenha combatido o preconceito contra brasileiras em Portugal, ainda há muita discriminação. O Consulado do Brasil em Lisboa aponta, por exemplo, que dos quase 80 casos de pedidos de ajuda psicológica em outubro, a maioria partiu de mulheres, cujo principal problema é com a guarda dos filhos. Várias acabam se submetendo a abusos para não se afastarem dos filhos. “Esse é um ponto que não podemos perder de vista”, diz um integrante do consulado.

Em paralelo à reunião de cúpula, o Brasil está se preparando, também para fevereiro, para uma visita de Estado por parte do presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, com o qual Lula tem muita proximidade. Sousa é defensor do estreitamento das relações entre os dois países e trabalhou muito nos últimos anos para que houvesse avanços na mobilidade em Portugal de brasileiros e dos demais cidadãos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Sugerir correcção
Comentar