Aprendizes de bandidos

Aqueles que tramaram contra a democracia do Brasil sofrem da Síndrome de Procusto, que acomete seres incultos e medíocres, que não progridem culturalmente nem aceitam o progresso alheio.

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Os mitos nos ajudam a compreender as relações humanas e guardam em si a chave para o entendimento do mundo e do nosso pensamento analítico. A mitologia grega, repleta de lendas históricas, contos sobre deuses, batalhas heróicas e jornadas no mundo subterrâneo, revela-nos a mente humana e seus meandros multifacetados. Atemporais e eternos, os mitos estão presentes na vida de cada ser humano. Está tudo lá.

Um deles narra a lenda de Procusto, gigante que assassinava os viajantes que atravessavam as colinas de Ática. Com base nesse mito, passou-se a diagnosticar como “síndrome de Procusto” um transtorno metal que acomete pessoas com acentuado complexo de inferioridade, que era o caso de Procusto.

A patologia leva-as a discriminar e a perseguir aqueles que possuem talentos e habilidades superiores. Acomete seres incultos e medíocres, que não progridem culturalmente nem aceitam o progresso alheio. A insegurança e o medo de serem vencidos ou superados agravam os sintomas da doença.

A síndrome de Procusto é uma característica dos aprendizes de bandido que urdiram uma quartelada contra a democracia no Brasil, que não tremeu nem caiu. Sequer se abalou, porque soube resistir, e somente quase dois anos depois da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é que o país conheceu os detalhes da trama golpista.

Os procustes liderados pelo capitão Jair Bolsonaro forçam os fatos para que se adequem aos seus interesses. Não suportam alteridades e boicotam as iniciativas em favor da democracia no país. Combatem a oposição e as ideias diferentes, as quais apresentam como erradas, perigosas e alucinadas, contradizendo-as com fake news, única ferramenta de que dispõem na milícia digital.

A tramoia só não se efetivou porque não foi apoiada por dois dos três comandantes da Forças Armadas: o general Marco Antônio Freire Gomes, do Exército, e o tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior, da Aeronáutica.

Contrariada, a cambada de golpistas suspendeu a maquinação para assassinar o presidente Lula, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e o vice-presidente Geraldo Alckmin. Restou-lhe caluniar os dois comandantes, acusando-os “de traidores da pátria” e de “alinhados ao comunismo”.

São tempos difíceis para a democracia. O perigo pode ser identificado no crescente apoio público dos procustes a políticos autocráticos em diversos países e no Brasil, que forçam os limites democráticos. No país foram arregimentados pelo capitão Bolsonaro.

O mais preocupante é que os partidos políticos brasileiros nada têm feito para enquadrá-los e se mostram insensíveis às causas da maioria da população, que sofre com as desigualdades existentes no país. Vergonhosamente, cuidam apenas dos próprios interesses. Com a atual composição do Congresso, será difícil o Brasil avançar com a democracia e implementar as reformas sociais de que o país tanto precisa.

É preciso estarmos atentos, porque o ódio continua ativo e preservado. Ele consegue superar obstáculos e avançar contra opositores quando menos se espera. A fraternidade não atrai multidões, mas discursos maniqueístas que sustentam mentiras e o ódio têm sido capazes de aglutinar batalhões, a exemplo dos bolsonaristas ressentidos com a vitória da democracia.

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