A importância de uma pausa
A pausa no Líbano, embora uma boa notícia, não resolve os problemas nem a profunda complexidade do Médio Oriente.
Uma pausa não resolve o problema, mas é essencial para recuperar forças e reavaliar o caminho. O cessar-fogo no Líbano funcionou dessa forma: uma pausa estratégica que não encerra as tensões, mas cria espaço para reorganização e possíveis avanços.
Horas após um ataque israelita que matou pelo menos 10 pessoas no sul do Líbano, Netanyahu anunciou um acordo com o Hezbollah.
O primeiro-ministro não agiu por compaixão pelos civis libaneses. Pelo contrário, o cessar-fogo é mais estratégico do que pacífico. Netanyahu cedeu às pressões internas e externas. As internas vêm dos cidadãos israelitas deslocados do norte do país, que querem regressar às suas casas. As externas são maioritariamente exercidas pelos Estados Unidos e pela França, que celebram a vitória diplomática após o importante apoio ocidental às respostas israelitas depois do ataque terrorista do 7 de outubro.
O acordo representa uma vitória para o Governo israelita, que conseguiu alcançar os seus objetivos iniciais: dividir as frentes de batalha, enfraquecer severamente a infraestrutura do Hezbollah e eliminar oficiais de alta patente do grupo. Por isso, a retórica de Netanyahu sobre isolar o Hamas faz algum sentido. Contudo, a decisão de um cessar-fogo no Líbano pode trazer novamente os holofotes para a Faixa de Gaza, que caiu no esquecimento da opinião pública após a invasão ao Líbano. Com “apenas” uma frente de batalha, Netanyahu pode ser ainda mais pressionado quanto à gravidade da situação precária em Gaza — uma guerra sem um propósito evidente e sem um objetivo claro.
Por outro lado, a justificativa inicial dos ataques de Israel após os ataques de 7 de outubro, o resgate de reféns, já perdeu força. Assim, a insatisfação popular em relação a esse ponto é notória e cresce. Neste aspecto, Netanyahu perde.
Ainda há, pelo menos, 100 reféns presos em Gaza. No entanto, apesar de seus discursos, recuperá-los não parece ser o objetivo de facto do primeiro-ministro israelita, que agora enfrenta, além de acusações internas de corrupção, um mandado internacional de prisão pelo Tribunal Penal Internacional pelos crimes cometidos na guerra. O seu único objetivo parece ser sobreviver politicamente — e evitar a prisão.
Também perdem o Irão e o Líbano. O primeiro sofreu perdas significativas com as baixas — e alguma humilhação (recorde-se o episódio dos pagers no Líbano) — de dois importantes proxies na região. Já o segundo, arrastado para o conflito, terá de se reconstruir novamente em mais uma situação económica catastrófica, sem previsão de melhora em um cenário político instável.
O cenário é de uma guerra interminável, sem metas declaradas e com consequências devastadoras. O Hezbollah está enfraquecido, mas não derrotado. Em Gaza, a tragédia humanitária continua e o futuro do território palestiniano permanece incerto: grupos e políticos indicam abertamente os seus planos de uma “recolonização” de Gaza, reduzindo ou apagando a sua população e já projetando um futuro obscuro.
A pausa no Líbano, embora uma boa notícia, não resolve os problemas nem a profunda complexidade do Médio Oriente. O Hezbollah enfraquecido representa uma vitória táctica para Israel, mas Netanyahu permanece isolado e pressionado, tanto interna como externamente – por políticos e pela justiça.
Enquanto Gaza continua a testemunhar uma tragédia humanitária de proporções históricas, a ausência de objetivos claros nesta guerra fragiliza ainda mais a posição do primeiro-ministro, à custa de vidas humanas. O cessar-fogo no norte de Israel não resolve a crise, apenas redireciona as atenções para um problema maior e mais duradouro: o futuro incerto da região e dos seus povos.