Uma publicação do Spotify Argentina deixou os apoiantes de Milei indignados. A plataforma de streaming de música anunciou o novo lançamento da cantora Lali com a seguinte frase: “Lali, mãe de todos os argentinos”, e as reacções não tardaram, com vários utilizadores a garantirem que vão cancelar a subscrição na plataforma. É que Lali e o Presidente do país já têm história.
Mariana Lali Espósito, cantora de 33 anos, estreou-se na carreira artística em 2003, com 11 anos, quando participou na novela Rincón de Luz e, mais tarde, também na versão argentina de Floribella. A cantora é uma das mais proeminentes do mundo pop na Argentina e representa tudo o que Milei repudia: é progressista, feminista, defensora da interrupção voluntária da gravidez e dos direitos sexuais LGBT+.
Em Fevereiro último, Javier Milei criticou, na televisão, o facto de Lali receber dinheiro público para os seus concertos, apelidando-a de “Lali Depósito”, num trocadilho com o nome Espósito. Os shows financiados com dinheiro público de que Milei fala são comuns em todo o mundo, também em Portugal, com os poderes locais a pagarem a artistas para actuarem em diferentes cidades.
Um dia depois, Milei foi mais longe: chamou à cantora “parasita” e, de acordo com a Globo, republicou memes feitos com inteligência artificial, onde se via Lali com uma saca cheia de dólares a fugir de crianças esfomeadas. Mais tarde, terá apagado estas publicações.
À Rádio La Red, o ultraliberal disse ter sido a cantora “a começar” a disputa, referindo-se à publicação que Lali fez quando, em Agosto de 2023, Milei foi o mais votado nas primárias: “Que perigoso. Que triste”, escreveu. “Se queres atacar, tens que estar limpo. Se és um parasita que vive a chupar na mama do Estado, e se as tuas opiniões estão alinhadas com um espaço político que te paga pelas apresentações, és um mecanismo de propaganda, não um artista”, disse Milei.
Depois destas acusações, Lali escreveu um texto no X onde se dirigiu directamente ao Presidente e contou como começou a trabalhar em televisão aos dez anos, e como essa carreira lhe permitiu “ajudar” a família e comprar uma casa para os pais. “Trabalhei incansável e honradamente para que assim fosse”, escreveu. “Lancei cinco discos que foram recebidos com muito amor e respeito e que me levaram a fazer espectáculos incríveis, nacionais e internacionais (...) Não quero aborrecê-lo, apenas dizer-lhe que não conheço outra coisa que não seja trabalhar e é assim que ganho o meu dinheiro.”
Sobre os concertos que Milei disse serem feitos à conta do Estado, escreveu: “Participei em vários espectáculos municipais com todos os governos, como a maioria dos artistas maravilhosos que existem no nosso país. (...) Respeito, ainda que não concorde, que o seu plano não priorize a cultura, mas acredito que a demonização de uma indústria e das pessoas que a fazem não é o caminho. Lamento que a assimetria de poder entre si e os que ataca por pensarem diferentemente de si e que a informação falsa volte ao seu discurso injusto e violento”, escreveu a cantora, que terminou com um convite para que o Presidente assistisse a um concerto seu.
No mês passado, a cantora lançou o single Fanático, onde parece lançar algumas indirectas ao Presidente. Um dos actores do vídeo, que grita com ela, tem semelhanças físicas e de comportamento com Milei, como as patilhas, o cabelo despenteado e os gestos grandiosos e furiosos. Uma das primeiras frases da canção – “Adoras fazer de conta que nem sabes quem sou” –, parece ser uma referência a uma das primeiras respostas que Milei deu, quando questionado sobre ela: “Não sei quem é. Ouço Rolling Stones ou ópera. Não sou muito especialista em música popular.”
Agora, com o lançamento da canção No Me Importa, a polémica foi reacesa, e há vários utilizadores que já saíram em defesa do Presidente. A maioria garante que vai cancelar imediatamente a assinatura no Spotify e passar a subscrever o concorrente YouTube Music. Outros voltam a publicar os memes de Lali a correr com dinheiro enquanto crianças a perseguem. E Lali respondeu: “Nunca fui lo que querían de mí. Y no me importa.”