Contrafacção de brinquedos na Temu e na Shein preocupa distribuidores
Atraídos por taxas mais baixas para vender nas plataformas, distribuidores de brinquedos têm-se juntado cada vez mais aos mercados online da Shein e da Temu. Mas muitos preocupam-se com falsificações.
O comércio electrónico especializado em crescimento rápido, como as plataformas da Temu e da Shein, está a aprofundar o negócio da venda de brinquedos, numa altura em que muitos compradores preparam-se para procurar grandes pechinchas durante o fim-de-semana da Black Friday. Os sites enfrentam preocupações dos reguladores e dos fabricantes de produtos de consumo sediados nos Estados Unidos sobre falsificações e contrafacções.
A Mattel, fabricante da Barbie, não vende directamente na Temu ou na Shein, e os seus distribuidores não estão autorizados a fazê-lo, segundo um porta-voz da empresa. Ainda assim, os anúncios na Temu e na Shein para o jogo de cartas Uno, da Mattel, para os seus carros de brinquedo Hot Wheels, afirmavam que os produtos eram autênticos.
Um porta-voz da Shein afirmou que os seus fornecedores são obrigados a certificar que os seus produtos não infringem a propriedade intelectual de uma marca e não são contrafeitos. A plataforma diz ter uma equipa para garantir que os vendedores cumprem a política e toma medidas rápidas se não o fizerem.
Já a Temu disse que retirou as listas de produtos Uno e que iria efectuar uma investigação aprofundada. “Isto faz parte do nosso procedimento operacional padrão para lidar com produtos suspeitos de não-conformidade ou objecto de uma queixa”, disse o porta-voz da plataforma.
Atraídos por taxas mais baixas para vender nas plataformas, os distribuidores de brinquedos, como a Popmarket, têm-se juntado cada vez mais aos mercados online da Shein e da Temu. A Popmarket está a vender mais figuras Funko Pop, G.I. Joes da Hasbro e outros brinquedos na Shein do que inicialmente previsto, contou Jeff Walker, director executivo da Alliance Entertainment, empresa-mãe da Popmarket.
A Shein está a oferecer a isenção de taxas aos novos vendedores durante os primeiros três meses, com uma taxa de 10% a partir daí. A Temu abriu neste mês as candidaturas a todos os vendedores sediados nos EUA — depois de anteriormente ter exigido que os vendedores se juntassem apenas por convite, disse a empresa.
A Popmarket planeia começar a vender os seus brinquedos na Temu depois da época festiva, disse Hinsley, acrescentando que o distribuidor está a trabalhar com os fabricantes de brinquedos para trazer mais dos seus produtos para as duas plataformas e para a TikTok Shop da ByteDance, o braço de comércio electrónico da popular aplicação de vídeos curtos.
“Não tivemos nenhum fabricante que recusasse liminarmente quando lhes pedimos para vender na Shein”, afirmou Hinsley. E acrescentou: “Todos ficaram bastante entusiasmados com a ideia de ter um novo mercado e de chegar a esse grupo demográfico.”
Apesar da crescente popularidade de Shein e Temu, a MGA, como outros fabricantes de brinquedos, está preocupada com os chamados “dupes” ou falsificações em ambos os sites, particularmente da sua nova marca Miniverse, nomeada um brinquedo de topo para as férias pelo Walmart, Amazon e Target, disse o CEO da MGA, Isaac Larian.
Os advogados da empresa de brinquedos com sede em Chatsworth, Califórnia, estão em discussões com os departamentos jurídicos da Shein e da Temu sobre como eles podem policiar melhor as falsificações, disse Larian, que considera que os produtos falsificados podem ter etiquetas de idade inadequadas e peças pequenas que podem representar um risco de asfixia para crianças pequenas.
Um porta-voz da Spin Master, fabricante de brinquedos com sede em Toronto, afirmou que os brinquedos da Temu e da Shein que se assemelham à sua nova boneca Ms Rachel para bebés a partir dos seis meses de idade são “falsos” e que a empresa receia que esses peluches não tenham sido submetidos a testes de qualidade e segurança.
A Temu disse que a Spin Master contactou a plataforma no dia 8 de Novembro por causa de um problema de propriedade intelectual. “Investigámos imediatamente e retirámos os produtos em questão”, garantiu, adicionando a Spin Master ao seu sistema de monitorização proactiva, que analisa as novas mensagens dos vendedores para garantir que os produtos listados não correspondem à propriedade intelectual de outras empresas.
Mark Carson, presidente do fabricante de brinquedos Fat Brain Toys, disse que vai acompanhar de perto Shein e Temu para ver se deve começar a vender os brinquedos da sua empresa nos sítios. “Não o vou fazer só porque os consumidores estão a correr para lá à procura da coisa mais barata que conseguem encontrar”, afirmou. E reforçou: “Tem de ser algo que funcione para nós”.
Venda de brinquedos
Em anos anteriores, a Temu e a Shein — que vendem principalmente a partir de aplicações para telemóveis — não teriam sido os locais habituais para os compradores adquirirem brinquedos e outros presentes de Natal.
As plataformas Temu e Shein funcionam como as “lojas do dólar” digitais dos Estados Unidos, oferecendo, na sua maioria, artigos sem marca, desde toalhas de banho e roupas até electrodomésticos, a preços baixos. Agora, tanto a Temu como a Shein procuram conquistar uma fatia maior do mercado global de brinquedos, que impulsiona as vendas dos retalhistas durante a época festiva.
Os brinquedos geraram 108,7 mil milhões de dólares (102,9 mil milhões de euros) em vendas a nível mundial, em 2023, de acordo com a empresa de estudos de mercado Circana.
Na Shein, que se tornou popular com a venda de T-shirts de cinco dólares (4,75€) e camisolas de dez dólares (9,50€), os brinquedos são uma das categorias de crescimento mais rápido, afirmou um porta-voz do site. Os brinquedos registaram um crescimento percentual de dois dígitos no volume de vendas nas plataformas da Shein, ano após ano, continuou.
A Temu afirmou que está a assistir a um aumento das pesquisas de brinquedos por parte de potenciais compradores. É certo que os principais retalhistas de mercadorias em massa, Amazon, Walmart e Target, continuam a ser o principal pilar dos compradores de brinquedos — representando, em conjunto, cerca de 70% das vendas de brinquedos nos EUA, afirmou Linda Bolton Weiser, analista de investigação da D.A. Davidson. Mas a percentagem de compradores americanos que planeiam comprar presentes na Temu antes ainda do fim do ano é de 13%, contra 9% em 2023, de acordo com a empresa de estudos de mercado Kantar. Além disso, os gastos com cartão de crédito dos EUA em ambos os sites neste mês aumentaram em comparação com o período homólogo, de acordo com a empresa de dados Facteus.
Na Europa, os jovens compradores com idades compreendidas entre os 18 e os 34 anos, em particular, estão a comprar cada vez mais brinquedos nas plataformas Temu, Shein e AliExpress, da rival Alibaba, de acordo com um estudo realizado em Setembro pela Circana, que abrangeu Alemanha, Espanha, França, Itália e Reino Unido.
O AliExpress também oferece produtos baratos fabricados na China, como armas de brincar por menos de um euro. O estudo revelou que 39% dos consumidores europeus compraram brinquedos ou jogos num destes sítios desde o início deste ano. Entre os consumidores mais jovens, a percentagem é de 60%.