Inflação homóloga sobe pelo terceiro mês consecutivo, para 2,5%
Efeito de base do ano passado faz com que, apesar de os preços em Novembro terem registado ligeira descida face a Outubro, a taxa de inflação homóloga tenha subido de 2,3% para 2,5%.
Os preços em Novembro até registaram uma ligeira descida de 0,2% face a Outubro, mas a taxa de inflação homóloga voltou pelo terceiro mês consecutivo a subir em Portugal, cifrando-se agora em 2,5%, depois de já ter estado em 1,9% em Agosto.
De acordo com a estimativa rápida para a evolução dos preços dos bens e serviços em Novembro publicada esta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), a taxa de variação homóloga – a que revela a evolução dos preços face ao mesmo mês do ano anterior – passou de 2,3% em Outubro para 2,5% em Novembro.
É a terceira subida consecutiva deste indicador, que em Agosto chegou a ficar abaixo da barreira dos 2%, cifrando-se em 1,9%, tendo depois subido para 2% em Setembro e 2,3% em Outubro.
Esta subida da taxa de inflação homóloga na fase final de 2024 já era esperada, devendo-se em larga medida a efeitos de base, isto é, ao facto de no mesmo período do ano passado os preços terem registado um recuo bastante significativo.
O impacto desse efeito-base é evidente nos dados revelados esta sexta-feira pelo INE. Quando se olha para a taxa de inflação mensal – que mostra a evolução dos preços face ao mês imediatamente anterior –, verifica-se que no presente mês de Novembro até se registou um valor negativo, tendo os preços dos bens e serviços em média diminuído 0,2% face a Outubro.
No entanto, em Novembro do ano passado, a descida dos preços face ao mês anterior ainda tinha sido mais forte, de 0,3%, o que explica que agora, no que diz respeito à inflação homóloga, se acabe por verificar uma subida, de 2,3% para 2,5%.
Os produtos energéticos desempenham um papel determinante no resultado agora registado. No final do ano passado, estavam a recuar de forma muito significativa e isso faz com que agora, apesar de terem registado uma subida face a Outubro relativamente moderada de 0,4%, se tenha verificado uma subida da taxa de inflação homóloga dos produtos energéticos de -0,2% em Outubro para 2,1% em Novembro.
Em compensação, a variação dos preços dos produtos alimentares face ao mesmo período do ano passado diminuiu ligeiramente.
Os dados da inflação publicados pelo INE esta sexta-feira são particularmente importantes para os pensionistas, uma vez que o valor da actualização das suas pensões depende, na fórmula prevista na lei, da taxa de inflação média (a média das variações homólogas dos últimos 12 meses), excepto habitação. Este indicador, ainda provisório, cifrou-se em 2,1%, um valor a que se terá de acrescentar mais 0,5 pontos percentuais para chegar ao aumento de 2,6% em 2025 que deverá ficar estabelecido para as pensões (e ao qual se acrescentará o aumento extraordinário de 1,25% aprovado pelo Parlamento na discussão na especialidade do Orçamento do Estado).
BCE mais limitado
O efeito-base que se registou na inflação portuguesa foi também muito evidente a nível europeu, fazendo com que a taxa de inflação homóloga da zona euro subisse em Novembro e refreando as expectativas relativamente a um corte de taxas de juro em Dezembro mais acentuado de 0,5 pontos percentuais por parte do BCE.
De acordo com os dados também publicados esta sexta-feira pelo Eurostat, a taxa de inflação homóloga na zona euro subiu de 2% em Outubro para 2,3% em Novembro.
O resultado não foi surpreendente, uma vez que já se sabia que a descida forte dos preços registada em igual período do ano passado iria ter um impacto muito significativo nos dados da taxa de inflação homóloga agora conhecidos.
E, de facto, apesar de os preços na zona euro até terem baixado 0,3% face a Outubro, quando se faz a comparação face a igual período do ano passado, verifica-se que a variação dos preços se agravou, afastando-se da meta de 2% definida pelo BCE para o médio prazo.
Este efeito de base, à semelhança do que acontece em Portugal, é também na zona euro motivado principalmente pela evolução dos preços dos bens energéticos.
É por isso que, no que diz respeito à taxa de inflação homóloga subjacente na zona euro – a que retira da análise os bens com preços mais voláteis como a energia ou os alimentos – se registou em Novembro uma estabilização do seu valor nos 2,7% verificados em Outubro. Já em relação à taxa de inflação homóloga nos serviços, a que mais preocupações tem gerado entre os responsáveis do BCE, constatou-se mesmo uma ligeira descida, de 4% para 3,9%.
Ainda assim, apesar de a subida da taxa de inflação global já ser esperada, e de os resultados na inflação subjacente e de serviços serem mais benignos, os números publicados esta sexta-feira acabam por reduzir as expectativas relativamente a um corte mais forte das taxas de juro do BCE na sua próxima reunião agendada para 12 de Dezembro.
Nos mercados, as dúvidas em relação ao que irão fazer os responsáveis do banco central nesse encontro está em saber se irão avançar para um corte de 0,25 pontos percentuais ou se irão optar antes por um corte de 0,5 pontos percentuais.
Uma surpresa nos dados desta sexta-feira, com a taxa de inflação a manter-se mais perto dos 2%, poderia empurrar o BCE para o corte mais agressivo das taxas, nomeadamente numa altura em que a economia europeia dá sinais claros de estagnação. Mas, assim, com a subida para 2,3% agora revelada, a expectativa dominante passa a ser a de que o BCE continue a descer taxas a um ritmo mais moderado, com um corte de 0,25 pontos a cada reunião.
Em Novembro, a taxa de inflação homóloga harmonizada portuguesa (a que pode ser comparada com a dos outros países da zona euro) foi de 2,7%, um valor acima da média e que é o sétimo mais alto entre os 20 países da zona euro.