Com o cessar-fogo entre o Hezbollah e Israel, habitantes deslocados regressam ao Sul do Líbano
Israel avisou que os habitantes não se podem aproximar das IDF nem das localidades ainda ocupadas militarmente. França pede que fim das hostilidades também se estenda à Faixa de Gaza rapidamente.
O cessar-fogo entre Israel e o Hezbollah entrou em vigor durante a madrugada desta quarta-feira, na sequência do acordo mediado pelos EUA e França, naquela que foi uma rara vitória da diplomacia numa região traumatizada por duas guerras devastadoras no último ano.
O Exército libanês, que tem como missão ajudar a garantir o cumprimento do cessar-fogo, disse estar a preparar-se para se deslocar para o Sul do país.
O cessar-fogo entrou em vigor às 4h00 (menos duas em Portugal continental), e seis horas depois não havia notícia de qualquer incumprimento. Os sons de tiros ouvidos em alguns bairros nos subúrbios de Beirute eram de festejos pela acalmia dos combates, explica o Guardian.
O Exército libanês pediu aos habitantes das zonas fronteiriças no Sul para adiarem o regresso às suas casas até que as Forças de Defesa de Israel (IDF na sigla em inglês) se retirem na totalidade. As forças israelitas avisaram os habitantes de que não se devem aproximar dos locais ainda ocupados. "Com a entrada em vigor do acordo de cessar-fogo, e tendo por base as suas disposições, as IDF permanecem nas suas posições no Sul do Líbano", afirmou o porta-voz das IDF, Avichay Adraee, através do X. "Estão proibidos de se dirigirem para as aldeias que foram evacuadas por ordem das IDF ou para as posições das IDF na área", acrescentou.
Apesar do desejo de regressar a casa, muitos dos libaneses desalojados nos últimos meses por causa do conflito mantêm-se reticentes em voltar às aldeias. "Os israelitas ainda não retiraram totalmente, portanto, decidimos esperar até que o Exército nos diga que podemos ir", disse à Reuters Hussam Arrout, pai de quatro crianças que é originalmente da aldeia fronteiriça de Mays al-Jabal.
Apesar dos avisos, as estradas entre Beirute e o Sul do país têm registado um trânsito intenso ao longo das primeiras horas do cessar-fogo, com centenas de carros carregados com malas, colchões no tejadilho e até móveis, com famílias inteiras que pretendem regressar às suas terras de origem.
"Agora estamos a regressar! Estamos apenas à espera da autorização do Exército e vamos imediatamente para a aldeia, apesar de já não haver casas lá", disse Rita Darwish, que foi desalojada da aldeia de Dheira, citada pelo Guardian.
O acordo, que promete pôr fim a um conflito ao longo da fronteira entre Israel e o Líbano que matou milhares de pessoas desde que foi desencadeado pela guerra de Gaza iniciada no ano passado, é uma conquista importante para a diplomacia norte-americana na recta final da Administração de Joe Biden, que o considerou "histórico".
"A força deve dar lugar ao diálogo e à negociação. Isto foi agora alcançado no Líbano e deve acontecer o mais rapidamente possível na Faixa de Gaza", afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Noel Barrot, à rádio Franceinfo.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, apoiou o acordo depois da aprovação pelo gabinete de guerra, embora com a oposição da extrema-direita. Em declarações televisivas na terça-feira, Netanyahu disse estar preparado para respeitar o acordo, mas sublinhou que Israel iria manter "total liberdade de acção militar" em caso de violações por parte do Hezbollah.
O acordo prevê um cessar-fogo de 60 dias, mas Biden manifestou o desejo de que se torne "uma cessação permanente de hostilidades", durante o anúncio na Casa Branca. "Ao que resta do Hezbollah e de outras organizações terroristas, não lhes será permitido que ameacem a segurança de Israel novamente", assegurou.
A retirada israelita do Sul do Líbano será feita de forma gradual, de forma a garantir que o grupo armado apoiado pelo Irão não tenha oportunidade para reconstruir as suas infra-estruturas na região, explicou o Presidente norte-americano.
Nas disposições do acordo também está incluída uma proibição à posse de armas no Líbano, que é apenas permitida a "forças militares oficiais e forças de segurança", de acordo com a Reuters. As referências em várias declarações governamentais libanesas desde 2008 ao direito à "resistência" têm sido usadas como justificação oficial para a manutenção do arsenal do Hezbollah.
O grupo armado não reagiu de forma oficial ao acordo, mas o dirigente Hassan Fadlallah disse apoiar a extensão da autoridade estatal do Líbano, mas prometeu que o grupo – que nos últimos meses perdeu as suas principais figuras e viu grande parte das suas infra-estruturas militares serem destruídas – irá regressar ainda mais forte.
"Milhares irão juntar-se à resistência (...), desarmar a resistência é uma proposta israelita que caiu por terra", afirmou Fadlallah, que é também deputado no Parlamento libanês.
O Governo iraniano, principal apoiante do Hezbollah a nível internacional, elogiou o fim da "agressão" de Israel ao Líbano e manifestou "apoio firme ao Governo libanês, à nação e à resistência".