Annie Leibovitz fotografou Felipe VI e Letizia de Espanha num misto entre realeza e Hollywood

As fotografias foram captadas em Fevereiro deste ano, mas só chegaram esta semana ao Banco de Espanha. A encomenda custou 137 mil euros.

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Os retratos de Felipe VI e Letizia foram revelados à imprensa espanhola no início desta semana REUTERS/Susana Vera
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Felipe VI “como rei” e Letizia como “uma estrela de Hollywood”. É assim que o El País descreve os novos retratos dos reis de Espanha, captados pela lente da conhecida fotógrafa de moda Annie Leibovitz. O rei surge com o traje militar, enquanto a rainha foi despojada de quaisquer elementos monárquicos e parece ter saído de uma passadeira vermelha. Os quadros, que custaram 137 mil euros, foram divulgados nesta terça-feira e estão expostos no Banco de Espanha, em Madrid, até 29 de Março.

Normalmente, as casas reais têm controlo sobre qualquer tipo de retrato oficial, mas não foi esse o caso das novas fotografias com assinatura de Leibovitz​, que foram encomendadas pelo Banco de Espanha. E a instituição deu carta-branca à fotógrafa norte-americana, explicou a responsável de património e historiadora de arte, Yolanda Romero Gómez, segundo a imprensa espanhola​. “A artista teve liberdade absoluta, desde a escolha do cenário até à roupa.”

E a roupa é um dos elementos que mais estão a surpreender nos retratos, que foram captados a 7 de Fevereiro no Palácio de Zarzuela, numa tarde “longa e intensa”, descreve a conservadora. “A fotógrafa queria que os reis estivessem vestidos com esmero”, conta, descrevendo a sessão como íntima, uma vez que a equipa de Leibovitz era composta apenas por cinco pessoas.

Para o retrato de Felipe, a norte-americana captou o rei com o uniforme de capitão-general do Exército, mantendo as suas condecorações. Já Letizia não usa um diadema, nem a tradicional faixa. Em vez disso, sobressai apenas um vestido preto de seda plissada e uma capa rosa, também em seda, criações de Cristóbal Balenciaga das décadas de 1940 e 1960.

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Felipe VI BLANCA MILLEZ/Reuters
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Letizia BLANCA MILLEZ/Reuters

A escolha de indumentária não foi aleatória e reflecte uma posição no que à moda diz respeito, já que é comum ver a rainha a privilegiar marcas espanholas. Apesar de ter feito carreira em Paris, Balenciaga, um dos costureiros mais aclamados do século XX, nasceu em Getaria, no País Basco. As peças foram emprestadas pela Fundação Antoni de Montpalau, que tem um arquivo de mais de seis mil peças da história da moda espanhola.

Apesar de estes terem sido os retratos escolhidos para a exposição, Yolanda Romero Gómez detalha que Annie Leibovitz chegou a pedir ao rei que vestisse um fraque e Letizia também foi fotografada com a tiara de Lis. Sem o formalismo da tiara, mantém a formalidade com um conjunto de colar e brincos das jóias da coroa, que foi oferecido pelo rei Afonso XIII à rainha Vitória Eugénia, bisavós do marido. Não prescindiu ainda de um dos seus anéis favoritos que tem gravada uma frase da Divina Comédia, de Dante Alighieri: “O amor que move o sol e as outras estrelas.”

O lugar eleito para as fotografias foi a Sala Gasparini do Palácio Real. “Para a artista era o lugar mais interessante do palácio. E para nós esta sala é significativa, por ter sido construída por Carlos III, em cujo reinado foi fundado o Banco de San Carlos, antecessor do Banco de Espanha”, explicou ainda a historiadora de arte, que destaca nas imagens objectos como o relógio astronómico do século XVIII.

Annie Leibovitz já conhecia os reis desde 2013, ano em que recebeu o Prémio Príncipes das Astúrias, mas só agora teve oportunidade de os retratar. A encomenda foi feita pelo Banco de Espanha em 2023, com o objectivo de “internacionalizar e dar uma presença mais feminina às colecções”.

Ao longo de vários meses, a fotógrafa “estudou” os mais de 100 retratos do acervo — o banco tem uma colecção de arte desde 1783 — mas ter-se-á inspirado particularmente pelas pinturas de Juan Carlos I e da rainha Sofia de 1988. Foi por esse motivo que também optou por retratar Felipe e Letizia em formato díptico. “O resultado são retratos fotográficos, mas paradoxalmente muito pictóricos: foram feitos em tela e não em papel fotográfico, o que contribui para aquela sensação de se estar diante de uma pintura”, descreve Yolanda Romero Gómez.

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Detalhe do retrato de Letizia Susana Vera/Reuters

A curadora comparou a obra de Leibovitz à famosa pintura Las Meninas, de Velásquez. “Foi capaz de criar no espectador a ilusão de que estava a presenciar a cena, de que quase poderia entrar na pintura. Uma sensação que é reforçada pelo tamanho das imagens e pela envolvente cenografia do local.”

Além dos retratos dos reis, o cachê de Annie Leibovitz ainda incluiu uma fotografia do governador do Banco de Espanha, Pablo Hernández de Cos. Depois de Março de 2025, quando encerra a exposição onde estão os quadros — A Tirania de Cronos, dedicada a relógios —, Felipe e Letizia vão passar a decorar a sala do conselho de administração do banco. Para já, fica por saber se os retratados ficaram satisfeitos com o resultado, que também assinala uma década de reinado.

Esta não foi a primeira incursão de Leibovitz, de 75 anos, na realeza. Em 2007, a fotógrafa de moda foi responsável pelos retratos da visita oficial de Isabel II aos Estados Unidos e foi a primeira norte-americana a captar a rainha. Em 2016, voltou a fazê-lo, desta vez no Castelo de Windsor, tendo a rainha sido acompanhada do marido, o príncipe Filipe, e da filha Ana, com alguns dos seus bisnetos e, claro, os famosos corgis.

Como uma das fotógrafas mais bem pagas do mundo, a imprensa norte-americana estima que a fortuna de Annie Leibovitz ascenda a 50 milhões de dólares (cerca de 47,5 milhões de euros).

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